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MEMÓRIA DA TV

Antes de estrear, Jornal Nacional quase foi substituído pelo Repórter Esso na Globo

Divulgação/Memória Globo

Cid Moreira (à esq.) e Hilton Gomes foram os primeiros apresentadores do Jornal Nacional na Globo - Divulgação/Memória Globo

Cid Moreira (à esq.) e Hilton Gomes foram os primeiros apresentadores do Jornal Nacional na Globo

THELL DE CASTRO

Publicado em 28/7/2019 - 5h37

Prestes a completar 50 anos de existência, o Jornal Nacional quase não saiu do papel em 1969. O sonho de Roberto Marinho (1904-2003), proprietário da Globo, era transmitir outro telejornal, e o então diretor de jornalismo global, Armando Nogueira (1927-2010), achava uma loucura criar um noticiário que seria transmitido em rede nacional com a tecnologia e as equipes disponíveis naquela época.

Em sua autobiografia O Campeão de Audiência, lançada em 1991, Walter Clark (1936-1997), que dava as cartas na Globo nas décadas de 1960 e 1970 ao lado de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, conta como o JN foi criado. A emissora, fundada em 1965, queria transmitir em rede, o que ainda não era feito por nenhum canal na época.

"Nós precisávamos de uma atração diária, que entrasse ao vivo em vários Estados, para estimular outras emissoras a se afiliarem à Rede Globo. Com mais emissoras, podíamos oferecer aos nossos clientes a audiência de outras praças, cobrando mais caro por isso. E, obviamente, não havia nenhum programa de TV diário melhor para fazer essa integração que um telejornal”, destacou Clark na obra.

Ele contou que Armando Nogueira foi quem mais resistiu ao novo produto. "Acho loucura. As praças não têm o mesmo padrão técnico que nós temos, o equipamento é ruim, as equipes são fracas. As matérias não serão boas, isso vai desmoralizar o jornal", foram as palavras do jornalista, segundo o livro de Clark.

De acordo com o executivo, Nogueira continuou resistindo por um tempo, mas acabou sendo vencido pelo fator comercial.

Antes disso, outra barreira já havia sido vencida: Roberto Marinho. Segundo Clark, o dono do canal tinha como sonho transmitir o lendário Repórter Esso, telejornal patrocinado pela petrolífera Esso desde os primórdios da televisão brasileira.

"Quando cheguei à Globo, no final de 1965, Roberto Marinho negociava com Roberto Furtado, presidente da Esso, a transferência do Repórter Esso da Tupi para a Globo. Eles eram amigos e o Roberto tinha o sonho de transmitir o Repórter Esso, que era o telejornal mais prestigiado da época", explicou o executivo.

"Mas eu fui contra. Naquela altura da televisão brasileira, o Repórter Esso já era ultrapassado. As filmadoras portáteis se desenvolviam rapidamente, mas ele não admitia repórteres no ar. Todas as notícias eram dadas apenas na voz do apresentador: Kalil Filho [1930-1970], em São Paulo, Gontijo Teodoro [1924-2003] no Rio. Era um atraso", enfatizou.

"Por isso, insisti com o Roberto que deveríamos ter jornal próprio e garanti que ele ainda seria mais importante do que o Repórter Esso", completou.

Vencidas as primeiras dificuldades, o Jornal Nacional estreou em 1º de setembro de 1969, com Cid Moreira e Hilton Gomes na apresentação. Era exibido de segunda a sábado, às 19h45, com 15 minutos de duração. Até hoje, é o telejornal mais importante e mais assistido da televisão brasileira.

Um fato curioso nessa história é que o próprio Repórter Esso foi prejudicado pela chegada do Jornal Nacional. Com o formato obsoleto, saiu do ar em 31 de dezembro de 1970.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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