Showrnalismo
Reprodução/TV Record
Fabíola Gadelha faz careta no Balanço Geral Manhã SP, em que canta, dança e beija o piloto do helicóptero
DANIEL CASTRO
Publicado em 14/11/2014 - 6h04
Na Record, tudo o que é ruim sempre pode piorar. Sob essa máxima, a emissora entregou à jornalista Fabíola Gadelha, a Rabo de Arraia, o comando do Balanço Geral SP matinal. Há duas semanas no ar, Gadelha já mostrou a que veio. Sua missão é transformar a notícia em uma grande palhaçada. A Record montou um circo para disputar a preferência do telespectador que acorda cedo e procura informação.
Na luta pela audiência, Fabíola Gadelha faz de tudo: ela canta, dança, paquera, manda beijos, beija, dá gargalhadas, grita e maltrata as línguas inglesa e portuguesa. Em sua "trupe", ela conta com um repórter cantor e um repórter dançarino.
Gadelha convence como "gordinha do povo". Parece ser mesmo a ignorante que interpreta. O problema é que ela não apresenta um programa de humor ralo. Entre uma palhaçada e outra, Gadelha forma opinião sobre segurança pública, reportando casos policiais, e presta serviço a quem tem de se aventurar no trânsito de São Paulo. Mistura assunto sério com show de horrores. Muitas vezes, confunde tragédia com brincadeira. Não pega bem abrir uma reportagem sobre um menino atropelado com um "Balança com G" (!).
Com Fabíola Gadelha no Balanço Geral SP Manhã, a Record dá mais um passo no precipício do "showrnalismo", o jornalismo show, a vertente popularesca do infortainment, a mescla de informação com entretenimento que caracteriza, por exemplo, o CQC. O esforço já dá resultados. O Balanço Geral Manhã SP melhorou no Ibope, mais ainda perde para o SBT no horário.
Fabíola Gadelha mostra como os olhos de um jacaré "relum" (sic) no Balanço Geral Manhã de 13/11
Beijo no piloto
Logo na abertura da edição de quinta-feria (13), sem nenhum constrangimento, Fabíola Gadelha pediu para o piloto do helicóptero que sobrevoava São Paulo para virar a bochecha para a câmera. Foi até o telão do cenário e tascou um "beijo" no rosto do comandante. "Tá cheiroso, hein, meu bebê?", completou.
O show só estava começando. A apresentadora convocou o repórter Rodrigo Garantini. Ele estava no páteo da Record, a menos de 50 metros do estúdio, mas relatava um crime ocorrido em Mauá, na Grande SP. "Meu caubói querido, está preparado para levantar poeira?". Sim, Gadelha mandou o jornalista dançar. E ele não só dançou, como também declamou uma rima de festa de peão de boiadeiro: "É por isso que eu digo pra você, Fabíola: cachorro gosta de ração, gato gosta de mingau / Alegria às 6h da manhã, é só com Garavini e a Rabo de Arraia / Aqui no Balanço Geral".
A "âncora" se entusiasmou. No estúdio, ensaiou uns passos de "forró de Manaus". "É, tá pensando o quê? Eu sou arrochada, menino. Botou forró o negócio começa a mexer", explicaou. E mostrou imagens da "aula" que deu para o contrarregra durante o intervalo, minutos antes.
Em um telejornal que se presta a exibir uma "reportagem" em que uma modelo em trajes sumários testa a "educação" dos motoristas, Fabíola vive se complicando com o teleprompter, aparelho que projeta o texto que ela deve ler. Ao noticiar a internação de Pelé, ela nomeou o hospital Albert Einstein de "Albertim Nhainstin".
Ao anunciar um videotape sobre slackline (malabarismos sobre corda bamba), ela protestou: "Ele [o repórter] foi praticar o esporte que virou febre aqui em São Paulo, e eu não sei falar o nome [diz algo parecido com slackline]. Ai, meu pai, por que tem que colocar esses nomes? Tem que colocar uns nomes mais comuns".
O português também sofre na boca de Rabo de Arraia, cria de Marcelo Rezende. Concordâncias verbal e nominal não são o forte dela. Nem vocabulário. Ontem, ela disse que os olhos de um jacaré "reluem bastante" à noite. Reluzem, Fabíola.
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