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Dupla Identidade

Globo grava série em altíssima definição, mas ninguém vai ver

Raphael Dias/TV Globo

Bruno Gagliasso grava cena de Dupla Identidade, nova série da Globo, gravada totalmente em Ultra HD - Raphael Dias/TV Globo

Bruno Gagliasso grava cena de Dupla Identidade, nova série da Globo, gravada totalmente em Ultra HD

EDUARDO BONJOCH

Publicado em 17/9/2014 - 15h33
Atualizado em 18/9/2014 - 6h58

Dupla Identidade, série que estreia nesta sexta-feira (19) na Globo, é o primeiro projeto da emissora totalmente captado e pós-produzido com resolução em ultra-alta definição, também chamada de Ultra HD e 4K. Apesar do investimento, ninguém verá a produção em altíssima definição. Primeiro, porque a transmissão será em alta definição (HD). Segundo, porque há poucos televisores 4K no mercado. Apenas 63 mil TVs 4K foram vendidas na América Latina no segundo trimestre deste ano, de acordo com pesquisa do instituto norte-americano NPD DisplaySearch. 

“Hoje, o padrão de distribuição de televisão digital terrestre é HD”, afirma Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo. “Tudo o que a Globo produz em 4K é convertido para HD antes de ir ao ar”, explica. De acordo com Barros, não há planos de exibições futuras de Dupla Identidade em 4K nem em serviços de video on demand, como o Now, da Net.

O que muda?

Mesmo assim, Barros afirma que qualquer telespectador com uma TV de alta definição em casa vai notar mudanças na qualidade de imagem da série. "O processo em 4K não se limita à resolução superior. O espaço de cores é ampliado e a latitude das câmeras, por exemplo, é significativamente maior, sendo mais fácil perceber as pequenas nuances entre as cenas claras e escuras. Muitos desses atributos também são percebidos após a conversão das imagens para o padrão atual [HD]", explica executivo.

A adaptação ao novo formato exigiu mudanças na parte técnica. As primeiras aconteceram na fase de captação. As imagens foram registradas por duas câmeras 4K, que gravam com uma resolução de 3.840 por 2.160 pixels, quatro vezes superior à do HD que temos hoje. Além disso, foi criado um núcleo de finalização em 4K no centro de pós-produção da emissora com estações de computação gráfica, correção de cor e armazenamento.

Como as câmeras 4K deixam os detalhes das cenas muito mais evidentes, qualquer descuido no cenário ou na maquiagem poderia ser fatal, o que exigiu cuidado redobrado nos estúdios. “Estamos avançando ainda mais em acabamento de cenários, maquiagem, figurinos e iluminação”, diz Barros. “É uma experiência similar à que vivemos na transição do formato SD (standard definition) para a alta definição.”

Além de um acabamento melhor, a Globo optou por produzir uma série em 4K para passar por um processo de aprendizagem e adaptação para uma tecnologia que deve se tornar padrão nos próximos anos.

O diretor Mauro Mendonça Filho em gravação de Dupla Identidade (Foto: Pedro Curi/TV Globo)

4K na TV ainda vai demorar

Nem na TV aberta nem na TV por assinatura. As transmissões em 4K ainda estão longe de se tornar realidade. Assim, as imagens de Dupla Identidade só poderão ser vistas com o máximo aproveitamento de sua qualidade original no futuro, caso a Globo a torne disponível em Ultra HD. 

O mesmo acontece com a série Buuu, programada para estrear em novembro no canal pago infantil Gloob. Espécie de Os Goonies brasileiros, a atração também está sendo gravada com modernas câmeras Ultra HD, mas só poderá ser vista em resolução 4K daqui a alguns anos, quando essa tecnologia ficar mais popular, ou se for oferecido em video on demand.

As primeiras transmissões experimentais em Ultra HD no Brasil foram realizadas neste ano em três partidas da Copa do Mundo. Enquanto a TV Globo fez experiências em TV digital terrestre, o canal Sportv levou o sinal 4K ao vivo, via cabo e DTH (satélite), para a casa de cerca de cem assinantes da Net e da Oi.

“É viável a transmissão de TV aberta em resolução 4K”, diz Barros pensando no futuro. “Mas, para isso, é preciso adaptar toda a cadeia de valor que hoje está equipada para o HD. Esse é o processo natural na adoção de novas tecnologias e que assistimos na evolução do analógico para o digital.”

Na TV por assinatura, não é muito diferente. “Para que os assinantes possam aproveitar a imagem Ultra HD, será necessária a troca dos decoders e televisores por modelos compatíveis com essa altíssima resolução”, afirma Alessandro Maluf, gerente de marketing de produto da Net. “E isso ainda vai demorar.”

Hoje, a única saída para quem tem uma TV 4K em casa e quer ver conteúdo nesse formato é assistir às séries House Of Cards e Breaking Bad pela Netflix. E desde que tenha uma conexão de internet estável com pelo menos 25 Mbps.


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