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O Diretor Nu

Série da Netflix mostra como um chifre iniciou a revolução do pornô japonês

Imagens: Reprodução/Netflix

O ator Takayuki Yamada na série japonesa O Diretor Nu; Toru vê mulher fazendo sexo com outro cara - Imagens: Reprodução/Netflix

O ator Takayuki Yamada na série japonesa O Diretor Nu; Toru vê mulher fazendo sexo com outro cara

JOÃO DA PAZ

Publicado em 15/8/2019 - 4h57

Com uma série baseada em fatos reais, a Netflix abre a cortina da revolução ocorrida na indústria pornográfica japonesa nos anos 1980. E pensar que tudo nasceu de uma chifrada. O corno em questão, o vendedor Toru Muranishi (Takayuki Yamada), flagrou a mulher tendo prazer com outro cara e usou a própria desgraça para se reerguer e mudar a imagem do pornô em um dos maiores mercados do mundo.

Em oito episódios, O Diretor Nu acompanha passo a passo a trajetória de vida de Toru, um fracassado vendedor de enciclopédias de inglês que não consegue satisfazer a mulher. Um amigo de trabalho lhe dá aulas para ensiná-lo a vender com eficiência, um socorro que salvará sua vida. Afinal, as técnicas de persuasão ensinadas pelo colega são inspiradas no ato sexual.

A vida de Toru está para dar uma guinada quando tudo desmorona. A empresa fecha e, ao voltar mais cedo para a casa, flagra a mulher com outro. "Você não me faz gozar!", justifica a mãe de seus dois filhos.

Arrasado, ele vai afogar as mágoas na bebida e encontra Toshi (Shinnosuke Mitsushima), um trambiqueiro brincalhão que comercializa cassetes com áudios de pessoas fazendo sexo em um motel, onde donas de casa encontram seus amantes.

A sacada de Toru vem daí. Ao ver um casal aleatório transar, ele tem a ideia de vender essa fita gravada por Toshi com a seguinte descrição: "Mulher de vendedor de enciclopédias e desconhecido". Assim, Toru e Toshi vendem 20 fitas de uma única vez. Antes, sem os detalhes dos envolvidos, Toshi vendia no máximo duas por dia.

Tokio Emoto e Takayuki Yamada em O Diretor Nu; câmera no ombro e pique para filmar a ação


Pornô com história

O pulo de gato de Toru, que o colocou como o principal nome na revolução do pornô japonês, foi justamente a ideia de criar uma história em torno do sexo, não mostrá-lo apenas como dois corpos mandando ver. "A pornografia precisa de um enredo que estimule mais [o público]", diz ele.

Isso começou com as fitas e passou pelas revistas de nudez. Sucesso entre os homens, elas continham mulheres nuas, sem qualquer contextualização. Toru passa a fotografá-las como se estivessem contando uma trama. Ainda por cima, Toru desafia a censura ao mostrar o máximo possível dentro da lei, que proibia a veiculação de pornô com órgãos genitais visíveis.

Perseguido pela polícia, Toru bate de frente com pessoas poderosas do submundo pornográfico japonês, incluindo mafiosos da Yakuza. Mas os seus produtos começam a fazer um enorme sucesso nas lojinhas eróticas do Japão, em meio a uma sociedade conservadora que reprime o sexo como um ato prazeroso. Os desejos enrustidos se afloram no consumo do pornô.

O diretor Toru entra em cena com uma investida cinematográfica, novamente desafiando o status quo. Os filmes em VHS de então mostravam mulheres tirando a roupa em belos cenários e simulando sexo. Toru quebra essa estrutura ao bolar uma produção cheia de ação, com direito a tiros e explosão.

Em um dos seus longas, Toru arma a encenação de uma viúva que se entrega a um homem que a faz se lembrar do marido. O diretor replica um acontecimento que vivenciou. É seu primeiro filme com sexo real e penetração.

Divertida e movimentada, com direito a uma intrigante trama policial, O Diretor Nu convoca o telespectador a conhecer a trajetória de Toru Muranishi. Mesmo com cenas que para alguns podem parecer exageradas, a série tenta ser a mais realista possível, sem perder o bom humor e a leveza. Feita por equipe japonesa e filmada no país asiático, a produção vale a maratona.

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