Gentleman Jack
Imagens: Divulgação/HBO
Suranne Jones em imagem de Gentleman Jack, drama britânico de época sobre uma lésbica no século 19
JOÃO DA PAZ
Publicado em 5/5/2019 - 6h46
Ser integrante da comunidade LGBT+ em pleno ano de 2019 é superar preconceitos e olhares tortos todos os dias. Imagine como era difícil a vida de uma lésbica na Inglaterra do início do século 19. Essa situação é contextualizada na medida certa em Gentleman Jack, série da HBO sobre Anne Lister, que entrou para a história como a primeira lésbica moderna.
O drama britânico de época baseado em fatos reais, com episódios inéditos toda sexta-feira, às 22h, coloca a personagem em situações nas quais é impossível não traçar paralelos com a sociedade atual, mesmo centenas de anos depois.
Anne Lister, interpretada pela estupenda Suranne Jones (Doctor Foster), é malvista por ser lésbica, rejeitar roupas suntuosas de donzelas, ter postura e atitudes masculinizadas e, acima de tudo, fazer trabalhos considerados de homens.
Mulheres que se acham púdicas fazem a caveira de Anne e encorajam outras mulheres a não ficarem sozinha com ela em nenhum momento.
A beleza de Gentleman Jack está em mostrar que Anne Lister não estava nem aí para a opinião dos outros. O que importava era ser feliz e agir como lhe fosse mais conveniente. Anne era empoderada, mas não feminista, e seu estilo de vida inspira mulheres a recusarem rótulos e padrões institucionalizados.
As atrizes Sophie Rundle e Suranne Jones no drama Gentleman Jack: romance lésbico
Anne Lister (1791-1840) é uma figura histórica do período da Primeira Revolução Industrial. A série começa em 1832 e o carvão é um personagem secundário, pois a família de Anne é dona de uma fazenda tomada pelo minério, o que chama a atenção de muitos homens de negócios.
Como chefe da família e herdeira da terra farta, ela negocia qualquer oferta de compra, enquanto paralelamente pensa como ela mesma pode usufruir desse carvão.
Só o fato de uma mulher liderar as negociações causava estranheza, até porque ela tinha uma figura masculina na família, o pai, que tradicionalmente cuidaria dessas transações. Mas Anne assumiu essa responsabilidade. E ainda por cima cobrava aluguel de famílias que moravam em terras de sua família, uma tarefa masculina.
Por um tempo, Anne Lister se comportava como uma mocinha recatada, com vestidos cheios de pompa e jeitinho gracioso. Mas ela percebeu que, mesmo com esse visual, as pessoas ainda perguntavam se ela era homem.
Depois de cair essa ficha, Anne Lister não se escondeu mais. Passou a se vestir de preto e usar cartola e bengala. Daí veio o apelido "gentleman jack", um termo chulo de antigamente, comparado ao "sapatão" da língua portuguesa.
Anne gostava de mulheres e conquistava o coração de casadas. O seu alvo, na maioria das vezes, eram lésbicas que se comprometiam com homens por causa das convenções sociais. Ela, porém, queria deixar esses casinhos de lado e ter uma parceira para a vida toda.
Esse é outro ponto interessante de Gentleman Jack, que trata com muito romantismo a paquera de Anne com a jovem Ann Walker (Sophie Rundle). O cortejo dela, mais experiente, é ingenuamente belo e cativa. Como Anne mesmo diz na série, ela quer fazer de Ann Walker sua mulher.
A série de HBO é baseada em diários secretos escritos pela própria Anne Lister, desde quando tinha 15 anos até sua morte, com 49. São relatos com mais de 4 milhões de palavras que exemplificam como era ser uma mulher na Inglaterra dos anos 1800. Cerca de 16% dos registros eram em códigos, que só vieram a público, decifrados, em 1980.
Essa porção secreta narrava justamente as descrições da vida sexual de Anne Lister. Ela foi minuciosamente cuidadosa em escrever cada sentimento que tinha por mulheres e escreveu suas experiências sexuais em detalhes, com muito erotismo. Ao menos até o segundo episódio, a série não dedica muito tempo a essa parte de sua vida. E o pouco que mostra não é nada diferente do que já foi exibido pela mesma HBO em outras cenas de sexo lésbico.
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