Crítica | Mindhunter
Fotos Patrick Harbron/Netflix
Jonathan Groff (de gravata) em cena de Mindhunter: policial 'caça' mentes de criminosos
DANIEL CASTRO
Publicado em 15/10/2017 - 18h37
Uma boa notícia para quem gosta de série policial. Produzida e dirigida pelo cineasta David Fincher (Zodíaco, Clube da Luta, Seven, House of Cards), Mindhunter está disponível desde a última sexta-feira na Netflix. Sem disparar um único tiro, sem uma única perseguição policial em dez episódios, mostra a íntima relação entre sexo e assassinatos em série.
Mindhunter se apoia em ótimos diálogos, atuações e direção. É uma série mais cerebral do que de ação, mais de estudo científico da mente dos serial killers do que de investigação policial, embora as duas coisas coexistam.
Dois agentes fundam a Unidade de Ciência Comportamental do FBI (a polícia federal norte-americana), em 1977. Na época, "assassinatos sequenciais" (ainda não se usava o termo serial killer), como os cometidos por Charles Manson e seu grupo, incomodavam as autoridades norte-americanas.
Holden Ford (Jonathan Groff, de Looking e Glee) e Bill Tench (Holt McCallany, com participações em Blue Bloods e CSI: Miami) se lançam no trabalho pioneiro de estudar como pensam e como se comportam os serial killers. A ideia é produzir conhecimento para que os policiais possam identificá-los e prendê-los.
Ford e Tench são professores em Quantico, onde fica a sede do FBI, e viajam os Estados Unidos para dar aulas a policiais. Extraoficialmente, começam a entrevistar criminosos em série _ou "aberrações", como uma personagem a eles se refere. O primeiro é Edmund Kemper (Cameron Britton), um simpático falastrão que matou a mãe e fez sexo com a cabeça decepada _e depois repetiu o crime com outras vítimas.
Na jornada, a dupla se associa a Wendy (Anna Torv, de Fringe), uma especialista em psicologia criminal que troca a universidade pelo FBI e ajuda os policiais a superarem suas limitações intelectuais e a trocarem estratégias de investigação por metodologia científica.
O trabalho começa a dar resultados, surgem as primeiras prisões de criminosos. Acaba sendo oficializado, mas nem por isso seus protagonistas merecem um espaço melhor do que uma sala no porão do FBI. Com o sucesso, vêm também os conflitos.
Não espere reviravoltas espetaculares de Mindhunter. Elas não existem aqui. Os crimes também não são resolvidos em único episódio _um deles nem chega a ser mostrado completamente.
A série tenta dissecar a psique dos psicopatas. Em comum, eles têm o sexo. Alguns são predadores sexuais, outros são "sexualmente incompetentes" _os incapazes de terem relações com mulheres.
As vítimas, aliás, são sempre mulheres, muitas vezes prostitutas. Quase sempre o assassino foi uma criança rejeitada pela mãe ou um adulto humilhado pela namorada, que desenvolveu uma fantasia (como colecionar sapatos femininos e guardar os pés de suas vítimas no congelador para se masturbar) e se vingou delas com mortes lentas e dolorosas de mulheres indefesas. "O sexo move nossos entrevistados", resume o personagem de Holt McCallany no nono episódio.
Mesmo sem tiro, sem perseguição e sem porrada, Mindhunter é violenta, afinal a descrição de crimes horrorosos e as imagens desses assassinatos são a matéria-prima dos protagonistas.
Protagonistas que passam longe do estereótipo do policial típico das séries de TV. Eles são frágeis, "incomodados", ansiosos. Holden, com sua fala mansa, vai aos poucos absorvendo a loucura do seu objeto de estudo, num arco dramático interessantíssimo.
Antes de sua estreia, Mindhunter foi comparada a Criminal Minds. Injusto. É muito melhor.
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