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Our Boys

Palestino e judeu se unem para fazer minissérie na HBO sobre conflito em Israel

Imagens: Divulgação/HBO

O ator Ram Masarweh no primeiro episódio de Our Boys; menino árabe é peça-chave na trama israelense - Imagens: Divulgação/HBO

O ator Ram Masarweh no primeiro episódio de Our Boys; menino árabe é peça-chave na trama israelense

JOÃO DA PAZ

Publicado em 16/8/2019 - 5h09

Como fazer uma minissérie sobre o eterno conflito entre palestinos e judeus em Israel sem favorecer nenhum dos lados? A HBO encontrou a solução: uniu um representante de cada comunidade em Our Boys, nova produção que retrata acontecimentos reais ocorridos há cinco anos nessa parte do Oriente Médio e dá uma amostra da tensão vivida por lá.

O drama estreia nesta sexta-feira (16), às 21h, com os dois primeiros episódios (são dez no total). Ele tem como base uma grande reportagem do jornal The New York Times, uma síntese do conflito que eclodiu em 2014.

Tudo começou com o sequestro de três adolescentes judeus em 12 de junho daquele ano. Eles foram encontrados mortos no fim daquele mês. Em seguida, dois dias após os enterros dos garotos, um menino árabe foi raptado e morto. Um lado culpou o outro pelos assassinatos.

Esse embate resultou em uma guerra que destruiu a Faixa de Gaza, território palestino localizado na costa oeste de Israel. Valia a lei do talião: olho por olho, dente por dente. O conflito durou 50 dias com intensos bombardeios. Mais de 2.000 palestinos foram mortos, a maioria civis. Do lado israelense, morreram 66 soldados e sete civis. Foi o maior combate na região desde a Guerra dos Seis Dias (1967).

Encenar um ponto de vista dessa história complexa não seria fácil. Então, nada melhor do que entregar a profissionais locais a tarefa de retratar os eventos que antecederam a guerra e como cada comunidade enxergava determinada situação. O produtor israelense Hagai Levi, vencedor do Globo de Ouro por The Affair e criador de In Treatment (adaptada no Brasil como Sessão de Terapia), reuniu dois talentos para trabalhar com ele em Our Boys.

O cineasta palestino Tawfik Abu Wael escreveu e dirigiu as partes da minissérie sobre os árabes. Já o nova-ioquino Joseph Cedar, judeu e criado em Israel, ficou com o pedaço israelense da trama. Eles assumiram a missão de humanizar esse conflito, que na época era mostrado diariamente pela imprensa, em veículos como a CNN e a Vice, mais focados no aspecto militar e bélico do que nas histórias dos envolvidos.

Tzani Grad e Shlomi Elkbaetz vivem policiais na história real contada na minissérie Our Boys


Trabalho requintado

Publicada em 2015, a reportagem do New York Times usada como base mostra exatamente o outro lado da guerra que a TV não cobria. Assim que executivos da HBO pegaram o texto em mãos, Levi foi procurado e desafiado a transformá-lo em uma série. A produção começou em 2016.

Our Boys é falada em árabe e hebraico, o que reforça ainda mais o desejo de mostrar com fidelidade os dois lados, palestino e judeu. Os produtores preferiram escalar pessoas sem experiência em atuação para fazer papéis-chaves, optando mais pela aparência de um menino ou adulto que se encaixava no perfil procurado do que pela experiência. Dessa maneira, também evitaram vícios de atores com mais currículo.

Assim foi escolhido Ram Masarweh, garoto que interpreta Muhammad, o menino palestino sequestrado. Já o investigador israelense Simon é vivido pelo inexperiente Shlom Elkabetz. Famoso diretor e roteirista, ele estreia em frente às câmeras.

Our Boys tem três frentes. A familiar humaniza a tensão na região e acompanha a vida de palestinos e judeus. A policial é inserida para facilitar o entendimento dos fatos, com um personagem primordial para a trama, Simon. E há ainda a política.

Os criadores abordam os pontos policiais e políticos de acordo com os fatos, sem embelezamento. A minissérie usa muitas imagens de arquivos, inclusive de TVs locais árabes e israelenses, para embasar as informações. No quesito família, houve uma licença poética em favor da história.

Tanto cuidado não é à toa. O assunto é sensível demais, a ponto de atores desistirem no meio do caminho por se recusarem a trabalhar com inimigos ou a darem espaço ao outro lado da história. Até o nome da minissérie é divulgado de forma diferente, dependendo do idioma.

Em hebraico, a série chama The Boys (Os Garotos), por lembrar uma passagem bíblica e ser o termo pelo qual os três meninos mortos ficaram conhecidos. Em árabe, é só Boys (Garotos), porque fica embutido o adolescente árabe --afinal, são todos garotos, apenas. E em inglês, a linguagem universal, ficou Our Boys (Nossos Garotos), para dar a ideia de que cada um desses meninos é um de nós.

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