Homofóbica 25 anos atrás, série Power Rangers faz história com heroína LGBTQIA+

No ar há 28 anos, Power Rangers finalmente acompanhará os novos tempos e apresentará uma personagem LGBTQIA+ à franquia. A responsabilidade de fazer história caberá à atriz neozelandesa Tessa Rao, intérprete de Izzy Garcia, a heroína que veste os trajes verdes na atual temporada, Dino Fury.

A inclusão da comunidade LGBTQIA+ é ainda mais expressiva para a saga dos heróis multicoloridos porque, em 1996, o ator David Yost pediu demissão da série após ser alvo de homofobia da equipe --ele vivia o nerd Billy Cranston, ranger azul e um dos personagens mais populares da franquia, conhecido até por quem não é fã de carteirinha. Nos bastidores, Yost era chamado de "faggot", um xingamento bastante ofensivo para homossexuais.

"Os criadores, produtores, escritores e diretores usavam esse termo para falar comigo. Eu simplesmente saí do estúdio na hora do almoço e não voltei mais. Trabalhar em um ambiente assim era muito difícil, especialmente porque eu ainda tentava entender quem eu era", lembrou ele em entrevista ao site No Pink Spandex em 2010.

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Izzy se assumirá homossexual no episódio O Casamenteiro, que a TV Cultura exibe nesta quinta (28), às 17h30. Javi (Chance Perez), irmão dela e atual ranger preto, desconfiará que a atleta está apaixonada por um rapaz e fará de tudo para juntar os dois. No fim do episódio, ela deixará claro que está a fim de outra pessoa: Fern (Jacqueline Joe), sua ex-rival.

O romance é retratado de maneira sutil: na história de Power Rangers, até casais heterossexuais são pouco explorados. Mas Izzy e Fern caminharão de mãos dadas, darão um beijo (no rosto), e a heroína se referirá à amada como "minha namorada" no decorrer da temporada. 

Izzy e Fern têm momento romântico

Em entrevista ao site ComicBook.com, Tessa falou sobre a importância de um momento tão singelo quanto duas mulheres andando de mãos dadas. "Uma das coisas mais poderosas que nós atores podemos fazer é contar histórias de pessoas que ainda não tiveram suas histórias contadas corretamente, ou que não foram contadas de maneira alguma."

"Não acho que essa seja a única parte de Izzy que importa, é só uma das várias partes de sua identidade. Mas eu entendo e valorizo o quanto esses eventos são marcantes. Eu tenho muito orgulho de fazer parte disso", ponderou a atriz.

Curiosamente, a inclusão de uma personagem LGBTQIA+ acontece em uma temporada que tem um showrunner heterossexual, depois de a franquia passar seis anos sob o comando de Judd "Chip" Lynn, gay assumido --ele se despediu da série no fim do ano passado e passou seu posto para Simon Bennett.

Quando o episódio foi ao ar na França, no início de setembro, Bennett foi acusado por um fã de ter feito a "saída de armário" de Izzy apenas como estratégia de marketing. O produtor foi certeiro na resposta: "Posso te assegurar que não houve nada de marketing, mas sim a correção de algo em que estávamos bem atrasados."

No cinema, o filme de Power Rangers de 2017 --que não tem nenhuma relação com a série-- já tinha apresentado uma personagem LGBTQIA+: Trini (Becky G) assumia ser lésbica durante uma conversa com seus companheiros de equipe. Ela, no entanto, não teve nenhum par romântico ou sequer demonstrou interesse por outra garota no decorrer do longa.