PESADELO À VISTA
Divulgação/WGA
Manifestantes em frente à Warner Bros. durante greve dos roteiristas de 2007; pesadelo volta a assombrar
JOÃO DA PAZ
Publicado em 30/6/2020 - 5h48
Após enfrentar a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), Hollywood encara outro problemão. Uma greve dos roteiristas da indústria de entretenimento americana pode ter início nesta terça-feira (30). O sindicato deixa para decidir em cima da hora se vai cruzar os braços ou não. Esse suspense ressuscita um fantasma de 13 anos atrás.
Por causa da quarentena, o atual contrato entre o sindicato dos roteiristas (WGA) e a Aliança de Produções Televisivas e Cinematográficas (AMPTP), representante dos estúdios e produtoras dos Estados Unidos, foi excepcionalmente prorrogado. O acordo iria acabar em 1º de maio. Agora, termina às 23h59 desta terça.
Desde então, com reuniões virtuais, pouco ou quase nenhum avanço para um novo vínculo ocorreu. Tradicionalmente, o WGA deixa para se posicionar nas horas derradeiras do último dia de contrato, como ocorreu em 2017. Mas esse silêncio recente causa uma preocupação. Há três semanas o WGA não se posiciona publicamente. Até então, o sindicato tinha uma voz ativa na imprensa.
Estão em jogo melhorias nas condições de trabalho de 15 mil roteiristas que fazem parte do sindicato e estão por trás dos grandes sucessos recentes da TV americana, uma fonte de dinheiro que a cada dia ganha mais popularidade, seja nos EUA ou no mundo todo. Um ponto crucial a ser abordado é o aumento de salário para quem escreve episódios para plataformas de streamings.
Com serviços tipo Netflix e Prime Video pedindo menos capítulos (cerca de 13) por temporada do que o padrão tradicional da TV aberta (por volta de 22), o período de trabalho aumentou sem um retorno compatível. O roteirista fica preso a uma produção, mas escrevendo (e ganhando) menos, proporcionalmente.
Outro ponto relacionado a essa demanda de poucos episódios de produções se dá com as complexas minisséries, com algumas que não chegam a seis capítulos. Os roteiristas querem uma equiparação de salário com o do trabalho em uma série de 20 e tantos capítulos. Esse foi um assunto que movimentou as negociações de 2017 e voltou à mesa neste ano.
Há ainda uma resolução importante sobre os roteiristas mais novos, os chamados juniors, que são escalados para escrever pilotos, os primeiros episódios de uma série. O sindicato defende uma maior proteção a esses trabalhadores, pois eles não têm uma garantia de que aquele piloto que escreveram vai virar série e ganhará um novo trabalho.
Como praxe, estão em debate assuntos padrões vistos em qualquer disputa entre sindicato e patrões, como a cobertura de planos de saúde. Porém, esse tema tem uma importância maior nos EUA, pois lá não há uma cobertura de saúde universal. Como se viu com a pandemia que arrasou o país, ter um plano no mínimo razoável pode ser uma questão de vida ou morte.
O suspense deste ano faz Hollywood reviver o pesadelo de 13 anos atrás. A paralisação de 2007 provocou para o Estado da Califórnia, onde se concentra boa parte da indústria de entretenimento, um prejuízo de US$ 2,1 bilhões (R$ 11,39 bilhões, na conversão atual), em cem dias.
Cerca de 37 mil pessoas perderam empregos, segundo relatório do instituto de pesquisa Milken. Na época, os estúdios ficaram muito pressionados, porque até atores renomados apoiaram os roteiristas e participaram dos piquetes.
Sem ter o que exibir, as redes norte-americanas apelaram para reality shows, games e programas de competição. A criatividade foi testada, e o canal VH1, por exemplo, bolou uma disputa para medir o nível de inteligência de modelos, chamada America's Most Smartest Model. O ano de 2007 marcou também o nascimento do popular Keeping Up with the Kardashians, do E!, que simplesmente acompanha o cotidiano da famosa família de socialites.
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