Programação 2017
Reinaldo Marques/TV Globo
Monica Iozzi, Tony Ramos e Alexandre Machado falam com Marcelo Adnet na Comic Con
FERNANDA LOPES
Publicado em 3/12/2016 - 6h45
Das quatro principais séries originais que a Globo lançará em 2017, três são comédias e uma é drama. Todas têm em comum a forte crítica social, exploram temas como machismo, amoralidade, hipocrisia, crise política e descaso com o sistema penal. Por meio do humor e de conflitos dos personagens, a emissora pretende atacar questões sérias e atuais da sociedade com Filhos da Pátria, Zózimo, Carcereiros e Vade Retro.
Durante a Comic Con, feira de cultura pop realizada em São Paulo, a emissora apresentou um painel para revelar ao público trechos e detalhes das séries que estrearão a partir de janeiro de 2017. A crítica social mais contundente vem da trama que mais se distancia dos dias atuais: Filhos da Pátria, que se passa em 1822, ano da Independência do Brasil.
Criada por Bruno Mazzeo, a produção pretende contar esse período da história brasileira sem personagens marcantes (como D. Pedro I), sob a perspectiva de cidadãos comuns do Brasil.
Sem o compromisso de retratar fielmente as figuras históricas, os autores ficaram livres para criar piadas que fazem referência ao momento político atual do Brasil. O personagem vivido por Johnny Massaro é um jovem revolucionário que brada "Fora Pedro!" com orgulho, contra a corrupção e outros problemas que aponta na monarquia. É uma clara relação aos gritos de "Fora Temer" e "Fora Dilma".
Quando questionado sobre a validade de sua reivindicação pelo fim da falta de ética no governo, ele pondera: "Primeiro a gente tira Pedro, depois a gente tira o resto", num discurso muito semelhante às justificativas de ativistas pró-impeachment em 2016.
"A ideia [de Filhos da Pátria] surgiu do desejo de tentar entender um pouco por que nós somos assim, essa identidade brasileira, o jeitinho, isso que a gente está vivendo hoje. Porque tudo o que a gente vive começou lá atrás. Quando comecei a ler sobre essa época, percebi como é semelhante, não só nas questões políticas, mas nas sociais também. Nesse ponto, nem há dificuldade, porque está tudo ali", explicou Mazzeo.
Reprodução/Instagram
Alexandre Nero, Fernanda Torres e Johnny Massaro durante gravações de Filhos da Pátria
Além da política, ele explora na série a questão bastante atual do feminismo, com uma personagem jovem que se recusa a seguir as regras da sociedade para se tornar mais atraente sob o olhar masculino.
O conflito entre gêneros também está presente na trama de Zózimo, série que terá Vladimir Brichta no papel principal de um ex-policial que se torna detetive e investiga casos extraconjugais nos anos 1950. As gravações só começarão quando Brichta terminar Rock Story, e a previsão de estreia é para setembro de 2017.
"Os personagens discutem coisas que hoje seriam de um machismo inaceitável. A série só faz sentido nos anos 1950, quando o marido traído matava a mulher e era absolvido porque estava limpando a honra", adiantou o ator.
Segundo o autor Mauro Wilson, Zózimo não terá mocinho ou vilão muito estereotipados e maniqueístas. Os personagens terão suas vertentes, e prevalecerão o tom "amoral" e a discussão dos valores da época, como o machismo e a hipocrisia.
Para ajudar a contar a história, outros dois personagens terão destaque: um delegado, interpretado por Aílton Graça, que é "mais ou menos honesto, mais ou menos corrupto"; e uma prostituta vivida por Regiane Alves.
"Nesse seriado, as mulheres vão para matar ou morrer. [Os personagens] têm um conflito interno muito mais grave que o conflito externo", diz, misterioso.
Divulgação/Globo
O ator Rodrigo Lombardi, que interpreta o protagonista da série Carcereiros, da Globo
Os problemas externos da sociedade são mais escancarados em Carcereiros, série baseada no livro homônimo de Drauzio Varella e roteirizada por Fernando Bonassi e Marçal Aquino. A produção mostrará a dura rotina de agentes penitenciários. Rodrigo Lombardi substituiu Domingos Montagner (1962-2016) no papel principal, e a previsão de estreia é para o fim de janeiro.
Os autores chegaram a assistir as séries Oz e The Night Of como referência, mas tinham o objetivo de contar a história íntima desses profissionais, que sentem na pele o descaso com o sistema penal e não haviam tido espaço na ficção televisiva nacional até então.
Além do ineditismo, a série chama a atenção para muitos diálogos com palavrões ("Pode falar foda-se na Globo?", questionou Marcelo Adnet no painel na Comic Con) e muitas cenas violentas, de ameaças e homicídios, por exemplo. "O Brasil é um caso de polícia. Só dá pra lidar com isso por meio da ficção", afirmou Bonassi.
Ramón Vasconcellos/TV Globo
Tony Ramos e Monica Iozzi em cena de Vade Retro, série cômica que estreia em abril de 2017
A ficção, no caso de Vade Retro, se aproximou bastante da realidade neste ano, segundo o coautor da série, Alexandre Machado. A atração terá Tony Ramos no papel de um Diabo chamado de Abel Zebu, e o criador acredita que seu personagem tem semelhanças com uma figura real: Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos.
"O fato de Trump ter ganhado deu uma atualidade à série que não havia sido pretendida no começo. Eu achava que esse tipo de personagem maléfico, com cabelinho, não funcionaria, mas a gente viu que não é bem assim. Se tem alguém que se inspirou, foi o mundo que se inspirou na gente", brincou.
Na trama, Abel Zebu é um homem que procura uma advogada, interpretada por Monica Iozzi, para formalizar seu divórcio. A atriz já atuou em um filme (A Comédia Divina, previsto para 2017) que também tem temática diabólica, e fez graça (com sutil crítica social) ao comentar o novo trabalho, que estreia na Globo em abril.
"Na primeira metade do ano estarei totalmente endiabrada. Não sei por que me colocam para trabalhar com esses homens [personagens demoníacos], talvez seja porque já trabalhei em Brasília [no CQC, da Band]", concluiu.
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