Análise | Teledramaturgia
João Cotta/TV Globo
O ator Vladimir Brichta em Rock Story; novela foca no drama e foge do humor barato
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 3/12/2016 - 6h24
Gui Santiago (Vladimir Brichta) é um roqueiro em decadência, que surta só de ouvir o nome de seu maior rival, Léo Régis (Rafael Vitti), um cantor pop a quem acusa de ter roubado uma música e a mulher, Diana (Alinne Moraes). A premissa por si só poderia render várias confusões, mas Rock Story, a novela das sete da Globo, foge do humor barato e ganha espaço ao apostar no drama de seu protagonista.
Desajustado, impulsivo e com um pé no alcoolismo _Gui já surgiu várias vezes chapado em cena_ o astro do passado tem de lidar agora com a chegada de seu filho Zac (Nicolas Prattes), fruto de um relacionamento rápido com uma fã. Contido e maduro, o adolescente será a arma do pai para destruir a carreira de Léo Régis ao se tornar o líder de uma boy band.
Ainda que a disputa pelos holofotes entre Gui e Léo Régis seja o principal combustível de Rock Story, é a história do roqueiro com Zac que chama mais a atenção. A construção de uma relação de pai e filho até então inexistente serve, também, para humanizar o protagonista, que vive cometendo burradas. Além disso, o desempenho de Nicolas Prattes está excepcional como o garoto tímido que aos poucos vai se soltando.
Todo o drama envolvendo Gui é bastante convincente, a ponto de cativar o público: a carreira em queda livre, o empresário que o sabota, a mulher que usa a filha para balançar o casamento. No meio disso tudo, como não poderia deixar de ser em um bom folhetim, há a presença da mocinha que o ajudará a se reerguer. É a clássica estrutura da jornada do herói, que se recupera depois de inúmeros tropeços. Costuma não falhar em novelas.
Mesmo que a mocinha da história resvale no clichê da eterna polarização gêmea boa (Julia) x gêmea má (Lorena), a presença de Nathalia Dill foi acertada. A atriz já demonstrou química com Brichta, e o casal cresce aos poucos, sem atropelos nem barras forçadas. Na outra ponta, a vilã de Alinne Moraes escapa do exagero e do maniqueísmo: traiu o marido mas se arrependeu, sofre com a separação por causa da filha, Chiara (Lara Cariello).
Já deu para notar que Rock Story priorizou o drama e deixou o humor em segundo plano. Não que isso seja um demérito, mas chama a atenção uma história dramática em uma faixa em que o público está mais acostumado com o riso fácil. Conta a favor da novela o fato de que ela não é pesada para o horário.
O primeiro voo de Maria Helena Nascimento como autora titular mostrou-se uma aposta certa na renovação de talentos da emissora. Seu texto não é exagerado, as tramas paralelas são concisas, claras e conectadas com a história central.
Não há, ainda, um excesso de personagens, ao contrário da trama das nove, A Lei do Amor. O elenco jovem cumpre papel coadjuvante e os atores surgem em cena bem dirigidos. Por fim, a música funciona como um recurso propulsor da narrativa.
Há, em Rock Story, uma mistura de duas novelas que deram muito certo: Celebridade (2003), da qual Maria Helena foi colaboradora, e Cheias de Charme (2012). Assim como na história de Gilberto Braga, há um mistério envolvendo a autoria de uma música. Já a parte que remete a Cheias de Charme diz respeito à presença do grupo musical fictício que irá surgir na história.
A direção que Dennis Carvalho divide com Maria de Médicis surge sofisticada, com uma produção mais esmerada do que a novela anterior. É perceptível o salto qualitativo na imagem entre uma história e outra quando se compara cenários, fotografia e figurino, por exemplo: em termos de produção, Rock Story ganha em disparado de Haja Coração.
Os diretores optaram, ainda, por um recurso de passagem de cenas que casa muito bem com a proposta musical da novela: em vez de um excesso de planos do Rio de Janeiro, apenas focaram em objetos aleatórios cujos sons ganham tanto destaque quanto a imagem.
Único desvio de Rock Story é a falta de um pouco mais de humor. Com exceção da personagem de Ana Beatriz Nogueira (Néia), a mãe emergente e sem noção de Léo Régis, e uma gracinha aqui e ali de Marisa (Julia Rabelo), a novela centralizou no drama dos personagens e são poucas as ações cômicas, aquelas situações engraçadas e movimentadas, que acontecem ao longo dos capítulos. Também não é nada que o desenrolar da narrativa não seja capaz de ajustar.
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