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Peak TV

Executivo de TV admite erro e diz que bolha das séries está longe de estourar

Divulgação/HBO

O brasileiro Rodrigo Santoro na segunda temporada de Westworld, série com 21 indicações ao Emmy - Divulgação/HBO

O brasileiro Rodrigo Santoro na segunda temporada de Westworld, série com 21 indicações ao Emmy

JOÃO DA PAZ

Publicado em 4/8/2018 - 5h41

Conhecido por cunhar o termo Peak TV (TV no Auge) para designar o atual momento de produção descomunal de séries, John Landgraf admitiu que errou ao prever a decadência do formato a partir de 2015. Em painel no seminário da TCA na sexta-feira (3), ele reconheceu que a bolha das séries está longe de estourar.

"O [ápice da] Peak TV ainda está muito distante de se concretizar", falou ele, que é diretor-executivo dos canais FX. Ele aproveitou para mandar uma indireta aos roteiristas pela falta de criatividade nas novas produções, dizendo que tudo na TV "parece vagamente familiar". "Eu acho que há muitas histórias, muitas narrativas [a serem exploradas]", criticou.

Há três anos, Landgraf profetizou que haveria um declínio no volume de atrações. "Vamos atingir o topo da TV nos Estados Unidos, depois vai haver uma queda, que vai perdurar nos anos seguintes."

Landgraf não poderia estar mais errado. Ele mesmo divulgou números que enterram de vez sua profecia. Nos primeiros sete meses deste ano, foram produzidas 319 séries nos Estados Unidos, 5% a mais do que no mesmo período de 2017.

O streaming é o grande responsável pelo crescimento. No ano passado, entre janeiro e julho, 52 séries foram feitas para as plataformas de vídeo online (como Netflix, Hulu e Amazon). Em 2018, esse número cresceu 46%, chegando a 76.

Meio certo
Landgraf não estava totalmente errado em sua previsão. Em anos anteriores, canais pagos sem nenhuma tradição em produções roteirizadas entraram no mercado de séries, em busca de telespectadores ávidos por conteúdo. Foi o caso do Bravo, A&E e MTV, integrantes dos pacotes básicos da TV paga dos EUA. Todos eles já desistiram de fazer séries para voltar às suas respectivas características.

O volume de séries nos canais básicos foi o que mais diminuiu entre 2017 e 2018: caiu de 114 para 102 (11%). O número de produções roteirizadas na TV aberta também caiu (5%). Já os títulos dos canais premium subiram 45%.

divulgação/amazon

A atriz Rachel Brosnahan na comédia The Marvelous Mrs. Maisel, vencedora do Globo de Ouro

Meio errado
As plataformas de streaming sabotaram a previsão de Landgraf. São elas que estão produzindo como nunca e investindo pesado. Só a Netflix promete gastar neste ano US$ 8 bilhões (R$ 29 bilhões) em novas atrações e contratou dois showrunners poderosíssimos de Hollywood, Ryan Murphy e Shonda Rhimes.

No final do mês passado, a Netflix anunciou um total de sete séries desenvolvidas por Shonda, que tem um contrato de cinco anos com a empresa. Durante os 15 anos que passou na rede ABC, Shonda produziu "apenas" nove séries.

A rival Amazon anunciou que investirá US$ 4,5 bilhões (R$ 8,2 bilhões). A empresa limpou a casa, eliminado séries mancas para abrir espaço a produções mais robustas. Em novembro, por exemplo, estreará o drama Homecoming, protagonizado por Julia Roberts.

A Apple, famosa pelos celulares, lançará seu serviço de streaming em 2019. Para não fazer feio, está montando uma seleção gabaritada para desenvolver suas séries, com nomes do nível de J.J. Abrams, Reese Witherspoon, Steven Spielberg e Oprah Winfrey.

Até redes sociais entraram na onda do streaming, com o Facebook Watch e o YouTube Premium. Os novos serviços ajudarão a elevar ainda mais o número de séries produzidas nos EUA.

"Vejo que a produção de séries em serviços de streaming está firme e forte", pontuou Landgraf no TCA, seminário da Associação dos Críticos de Televisão dos EUA. "Isso porque há uma batalha de proporções épicas entre grandes empresas que competem por clientes nesse mercado."

E não é apenas uma questão de quantidade: as duas atuais vencedoras do Globo de Ouro, nas categorias de comédia e drama, vieram do streaming. The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon) levou como melhor série cômica e The Handmaid's Tale (Hulu) ficou com o troféu de melhor drama _também levou o Emmy de 2017.

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