Previsões
Divulgação/HBO
Peter Dinklage em cena de Game of Thrones; executivo dos canais FX prevê declínio do mercado de séries
JOÃO DA PAZ
Publicado em 15/8/2015 - 6h53
O diagnóstico é direto e cruel: o mercado de séries está saturado e vive uma "bolha" que vai "estourar" em dois anos. A previsão é do diretor-executivo dos canais FX, John Landgraf, um dos nomes mais influentes da indústria de entretenimento televisivo norte-americana. A declaração foi feita no seminário da TCA (Associação dos Críticos de Televisão dos Estados Unidos), que se encerrou na última quinta (13), e repercutiu nos principais veículos norte-americanos.
As redes abertas, canais pagos, serviços de vídeo sob demanda e até plataformas de videogame vão produzir neste ano cerca de 400 séries nos Estados Unidos, quase o dobro de 2011, quando foram realizados 211 títulos. Para Landgraf, é muita coisa. "Vamos atingir o topo da TV nos Estados Unidos. Depois disso vai haver uma queda, que vai perdurar nos anos seguintes”.
Segundo o executivo, o mercado de séries está saturado. O público não vai conseguir acompanhar tantas produções, e os publicitários e anunciantes vão focar seus recursos apenas nas séries mais populares, exibidas em redes tradicionais.
Esse boom se deve, em grande parte, pela proliferação de séries em canais e meios não convencionais. Os novos "players" serão os primeiros a sentir a crise, de acordo com Landgraf. Hoje, até plataformas de videogames, como PlayStation e Xbox, estão produzindo séries. Sem deixar de fora o Yahoo!, que recuperou a comédia Community, cancelada pela NBC, e o site de vídeo on demand Hulu, que fez o mesmo com Mindy Project, cortada pela Fox.
O enorme catálogo de séries espalha boas atrações que se perdem em vários canais (veja galeria abaixo). Mas isso também causa um efeito adverso, pois o telespectador é muito influenciado pela crítica especializada, escalada para determinar se uma produção vale a pena ser conferida ou não. Isso leva o público a descartar uma série mal avaliada e ir atrás de outro produto. Assim, atrações interessantes são canceladas. É o caso de The Comedians, do FX, usada como exemplo por Landgraf.
"Infelizmente, The Comedians teve de ser cancelada. Vocês [imprensa] e o público estão tão estufados pelo volume gigantesco de séries que é difícil alguém dar uma segunda chance para uma atração que vocês [imprensa] rejeitaram", desabafou o presidente do FX. A comédia estrelada por Billy Crystal era uma das principais apostas do canal neste ano. Não passou de 13 episódios.
Caso UnReal
Os canais de renome como HBO, AMC, Fox e CBS, por exemplo, vão sobreviver à crise porque "marcas são extremamente importantes, servem como filtros para o público", ressaltou Landgraf.
Enquanto esse tempo não chega, séries em canais menores conseguem sobreviver e brilham. É o caso de UnReal, do canal pago Lifetime. O drama sobre os bastidores de um reality de namoro é o maior sucesso da atual summer season (temporada de lançamento de novas série entre junho e agosto).
A trama de UnReal está sendo comparada com Breaking Bad. Mas, no caso, é uma mocinha que vira vilã, para agradar ao público essencialmente feminino do Lifetime. É apenas a segunda produção original do canal, depois de Devious Maids, e nenhum dos dez episódios da primeira temporada teve audiência de mais de um milhão de telespectadores. Se a análise de Landgraf for verdadeira, UnReal deve atingir uma público maior no ano que vem, indo de encontro às recomendações da imprensa.
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