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ANIVERSÁRIO DE 30 ANOS

Calote milionário no Imposto de Renda levou Will Smith a fazer Um Maluco no Pedaço

REPRODUÇÃO/NBC

Sentado em uma poltrona, Will Smith faz gesto de indiferença em cena do primeiro episódio da comédia Um Maluco no Pedaço

Will Smith no primeiro episódio de Um Maluco no Pedaço; ator entrou na série totalmente falido

JOÃO DA PAZ

Publicado em 26/8/2020 - 6h50

"Antes de eu me encrencar com o tio Phil, eu tive problemas com o Tio Sam". Assim, Will Smith começou a contar a história de como surgiu Um Maluco no Pedaço (1990-1996), comédia que completa 30 anos no mês que vem. O relato, publicado no canal dele no YouTube, vai da mais pura ostentação à dívida milionária com a Receita Federal dos Estados Unidos.

A analogia feita pelo ator duas vezes indicado ao Oscar é precisa. O Tio Sam, a personificação dos Estados Unidos na pele de um velho de cartola e com barba branca, não perdoou Smith, que esqueceu de declarar os impostos em 1989. A Receita ficou na cola do então rapper, apreendeu bens e o deixou falido. A bancarrota o levou a se aventurar em uma série, mesmo sem nunca ter atuado.

Mas o começo da história se dá um ano antes disso. Com 19 anos, Smith ficou muito famoso com o seu segundo álbum lançado, em parceria com o DJ Jazzy Jeff (o Jazz de Um Maluco no Pedaço), chamado He's the DJ, I'm the Rapper, que ganhou o status de platina duplo --vendeu mais de 2 milhões de cópias.

O dinheiro veio junto com a fama. Jovem e ingênuo, Smith ostentava sem dó e torrava tudo o que ganhava em carros, motos "e até fechar uma loja de Gucci em Atlanta só para os amigos fazerem compras", como ele disse no vídeo. "Aquilo foi estúpido", admitiu, agora com maturidade (ele faz 52 anos no próximo dia 25).

Acontece que nessa gastança toda, ele esqueceu de declarar seus bens e sua renda ao IRS (Internal Revenue Service), equivalente à Receita Federal brasileira, em uma papelada que deveria ser entregue em abril. O Tio Sam bateu à porta e queria a parte dele dessa brincadeira. Motos e carros foram apreendidos e, ainda por cima, Smith ficou com uma dívida de US$ 2,8 milhões (R$ 15,4 milhões, na cotação atual).

O ator contou que vivia um pesadelo. "Nada pior do que você ser reconhecido... Enquanto pega um ônibus", confessou. E era isso mesmo. Em 1989, sem um tostão no bolso, ele e Jazzy Jeff ganharam um Grammy (o Oscar da música) de melhor performance em um rap pela gravação Parents Just Don't Understand.

divulgação/nbc

James Avery com Will Smith em foto promocional de Um Maluco no Pedaço, tirada em 1990


Esporro da namorada

Para virar o jogo, a dupla lançou um terceiro disco, chamado de And in This Corner..., lançado em setembro daquele ano. "Foi plástico duplo", riu Smith, ao relembrar o fracasso de vendas do trabalho. Sem saber o que fazer para sair da sarjeta, a namorada dele na época deu um esporro, falou para ele se mexer e topar o que aparecesse. Então, ele deu as caras em um programa popular. Tudo mudou.

Com o objetivo de falar sobre o novo disco e a carreira, Smith passou pelo talk show do comediante Arsenio Hall, sucesso absoluto na TV americana. E foi nos bastidores do programa que ele conheceu o verdadeiro maluco no pedaço, o executivo Benny Medina, que teve sua vida transformada ao largar um bairro pobre de Los Angeles (Watts) e morar na rica Beverly Hills.

Medina estava desenvolvendo uma série sobre essa jornada da pobreza para a riqueza e achava que Smith seria o protagonista ideal. Os dois foram encontrar Quincy Jones, empresário e produtor musical, que financiava o projeto.

Bem empolgado, ele de improviso pensou no título da atração. Smith disse que seu nome artístico era Fresh Prince e Jones sacramentou: "Pronto! É assim que a série será chamada", recordou o ator, imitando o jeito de Jones. Em inglês, Um Maluco no Pedaço é The Fresh Prince of Bel Air (Bel Air é um bairro nobre de Los Angeles).

Em uma festa regada a muita bebida, o então rapper decorou parte do roteiro do piloto (primeiro episódio) em menos de dez minutos, e fez uma performance para Brandon Tartikoff, presidente da NBC naquele período.

Smith não tinha qualquer perspectiva, e não custava nada arriscar. Só restava ser cara de pau ao fazer algo que nunca tinha feito anteriormente. O seu jeito carismático conquistou imediatamente Tartikoff e Jones. Eles deram um breque naquela farra realizada em dezembro de 1989 e, dentro de uma limusine, advogados fizeram o primeiro contrato de ator de Will Smith. Três meses depois, gravaram o episódio inicial, que estreou em setembro de 1990, na rede NBC.

Essa luz no fim do túnel não foi tão brilhante para Smith. A escritora Lisa Iannucci conta na biografia do ator (publicada em 2009) que o IRS abocanhou 70% de cada contracheque que ele recebeu durante as três primeiras temporadas. Só na metade final da comédia que o Tio Sam largou do seu pé, com a dívida quitada.

Com episódios exibidos durante a programação do canal Comedy Central, Um Maluco no Pedaço está completa (seis temporadas) na Netflix e no Prime Video.

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