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DOCUMENTÁRIO

Bandidos na TV: Apresentador acusado de matar por audiência vira febre na Netflix

REPRODUÇÃO/NETFLIX

Wallace Souza comandava o Canal Livre, em Manaus, e foi acusado de praticar crimes para ter audiência - REPRODUÇÃO/NETFLIX

Wallace Souza comandava o Canal Livre, em Manaus, e foi acusado de praticar crimes para ter audiência

GISELE ALQUAS

Publicado em 4/6/2019 - 5h14

A série documental Bandidos na TV, que estreou sexta-feira (31), virou febre na Netflix. Muito comentada nas redes sociais durante todo o último final de semana, o documentário conta a surpreendente história do apresentador Wallace Souza, acusado de mandar matar em busca de audiência para o seu programa, Canal Livre, exibido na antiga TV Rio Negro, em Manaus (AM), da década de 1990 até meados dos anos 2000.

A atração com viés sensacionalista explorava a violência urbana e exibia os corpos ensanguentados ou carbonizados sem qualquer restrição na imagem. Também conhecido por praticar o assistencialismo e ajudar moradores de periferias, Wallace se transformou em herói do povo, que o elegeu três vezes deputado estadual (1998, 2002 e 2006).

Mas uma reviravolta deixou a população de Manaus chocada: um ex-policial militar foi preso acusado de tráfico e delatou que agia a mando do apresentador, que, além de encomendar os assassinatos para serem exibidos no programa, comandava uma rede de tráfico de drogas e grupo de extermínio na capital.

Com direção de Daniel Bogado, a série da Netflix mostra os dois lados da história: o da acusação, que envolvia a operação Força-Tarefa da Polícia Civil em conjunto com o Ministério Público, e o da família e amigos do apresentador que acusavam a polícia de manipular provas. Wallace morreu em 2010 em consequência de um ataque cardíaco. Ele sofria da síndrome de Budd-Chiari, que ataca o fígado.

Raphael Souza, filho mais velho de Wallace, foi condenado a nove anos de prisão pelo assassinato de um homem acusado de ter ligações com o tráfico. Segundo a polícia, Raphael agia a mando do pai. Ele sempre negou as acusações.

Dividida em sete episódios (e distribuída para 190 países), a série documental tenta resolver muitas das peças que ficaram soltas do quebra-cabeça desde intrigante caso.

Do sucesso à derrota

Wallace Souza era ex-policial civil e foi expulso da corporação por suspeita de desvio de gasolina, acusação que ele sempre negava. Tornou-se repórter e criou nos anos de 1990 o popularesco Canal Livre --uma espécie de híbrido do Cidade Alerta e do Programa do Ratinho, com auditório.

O programa atraiu muitos patrocinadores e se tornou fenômeno de audiência. Passou a divulgar artistas locais e a fazer doações, mas o foco sempre foi cobertura policiais de casos, explorados ao máximo pelos repórteres, que eram os primeiros a chegar ao local da ocorrência. Em um desses casos, o programa mostrou um homem agonizando até a morte.

A derrocada de Wallace Souza começou em outubro de 2008, quando o ex-policial militar Moacir Jorge Pessoa, conhecido como Moa, foi preso com armas ilegais e cocaína. Em depoimento à polícia, Moa denunciou a existência de uma organização criminosa chefiada por Wallace e por seu filho Raphael. Os dois sempre negaram qualquer envolvimento.

Wallace chegou a sustentar que não conhecia Moa, mas uma foto divulgada pela imprensa derrubou sua alegação. Na imagem, Wallace aparece ao lado de Moa na piscina de sua casa durante um churrasco. Depois, o apresentador mudou a declaração e disse que conhecia Moa, mas pelo nome de Jorge.

REPRODUÇÃO/NETFLIX

Foto antiga de Wallace Souza com Moa divulgada pela imprensa causou reviravolta no caso

Em Bandidos na TV, o delegado Divanilson Cavalcanti e líder da força-tarefa, diz que o Canal Livre era uma "grande fachada". "Eles tinham acesso a informações... É uma coisa surreal provocar mortes para ter audiência", afirma.

Em depoimento na época, Moa afirmou que era segurança particular de Wallace e que chegou a ser orientado por ele a "tacar o terror" na cidade. Segundo denúncia do Ministério Público à Justiça, foram encontrados indícios suficientes da participação de Wallace no comando da organização criminosa. Também, de acordo com a polícia, Wallace usava o programa para denunciar crimes de rivais e acobertar os de aliados.

Culpado ou inocente?

O apresentador e deputado usou a tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas para se defender e afirmou que estava sendo vítima de uma grande perseguição política. No final de 2009, após o caso ganhar repercussão internacional, Wallace Souza teve seu mandato cassado e perdeu o foro privilegiado. Depois de passar quatro dias foragido, ele se entregou à polícia.

Wallace Souza morreu em julho de 2010, e uma reviravolta aconteceu no caso durante o julgamento de Moa e Raphael. O ex-policial desmentiu tudo o que havia dito antes e negou que o deputado chefiava uma organização criminosa.

Segundo Moa, ele foi obrigado a depor contra Wallace mediante tortura da polícia. Moa foi inocentado do crime de homicídio contra um homem acusado de ter ligação com o tráfico. Já Raphael foi condenado a nove anos pelo mesmo crime.

O filho caçula do deputado, Willace Souza, e a irmã de Wallace, Marlúcia Souza, lutam até hoje para provar a inocência dele. A série da Netflix expõe todas as versões do caso. Depois de assisti-la, cabe ao telespectador debater se Wallace é culpado ou inocente.

Confira o trailer de Bandidos na TV:

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