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RAPHAEL MONTES

Autor de Bom Dia, Verônica se vira para abordar de incesto a estupro sem traumas

REPRODUÇÃO/TV BRASIL E NETFLIX

À esquerda, Raphael Montes em entrevista ao programa Trilha de Letras, da TV Brasil. À direita, Tainá Müller como Verônica, de Bom Dia, Verônica

Raphael Montes, autor de Bom Dia, Verônica: ele investiu em pesquisas para fazer trama respeitosa

JOSÉ VIEIRA

jose@noticiasdatv.com

Publicado em 4/3/2024 - 21h00

A terceira e última temporada de Bom Dia, Verônica está entre as produções mais vistas da Netflix no mundo todo. Iniciada em 2020, a produção mesclou uma trama investigativa com a abordagem de violência doméstica, abuso sexual e incesto. No audiovisual, algumas obras ultrapassaram limites ao desenvolver um enredo desrespeitoso sobre o tema --vide a trilogia Doce Vingança, que expõe o sofrimento feminino de maneira desnecessária. Raphael Montes, um dos criadores da série nacional, lista ao Notícias da TV os cuidados que tomou para manter a qualidade da narrativa.

Um dos grandes nomes da literatura policial contemporânea no Brasil, Montes está acostumado a escrever sobre temas difíceis em suas obras. Assim, durante seu processo de criação, o autor investe em pesquisas e trocas de opiniões. Para Bom Dia, Verônica, que escreveu com Ilana Casoy, o roteirista manteve um ambiente de produção majoritariamente feminino.

"Tínhamos uma sala de roteiro com muitas mulheres, a equipe executiva da Netflix é de mulheres. Tem que ter o ouvido aberto, sempre, para encontrar esse limite. Na direção, também tivemos esse cuidado, entrávamos em reuniões [para discutir até onde mostrar]", explica.

A segunda temporada da série, por exemplo, acompanhou Matias (Reynaldo Gianecchini), líder religioso que abusava de suas seguidoras em troca de uma suposta cura para enfermidades. Os episódios que abordavam as agressões, porém, não foram feitos de maneira expositiva, o que contribuiu para que o roteiro não se apoiasse exclusivamente em cenas violentas.

"Para a cura do Matias, fizemos uma reunião para decidir o que mostraríamos e o que não mostraríamos nas cenas do ritual. Acredito muito no entretenimento que, além de entreter, provoca e discute assuntos, faz o telespectador pensar", defende Montes.

A última temporada, com o subtítulo de A Caçada Final, ganhou cenas mais intensas em comparação com os lançamentos anteriores. Mesmo com a brutalidade nas sequências, o autor posiciona a arte como instrumento de provocação: "Questionar é sempre bom, mas a função da arte é tratar desses temas com responsabilidade, conhecimento e pesquisa".

"À medida que você faz com responsabilidade, é bom que chegue ao público e é bom que o público se sinta provocado, instigado e, talvez, incomodado. Ninguém é obrigado a gostar de nada. Mas, como artista, a sensação que cabe a mim é tratar esses assuntos. Em relação a Bom Dia, Verônica, o que vejo, leio e recebo são muitas mensagens de pessoas falando como a série impactou positivamente na vida delas", complementa.

Desenvolvimento de Verônica

A protagonista, interpretada por Tainá Müller, iniciou a produção envolvida em um cenário incerto. Invisível em seu ambiente de trabalho, a escrivã ainda tinha um passado familiar coberto por mentiras.

Montes conta que a proposta principal da série era apresentar um universo diferente a cada temporada. Em suas investigações contra a máfia Cosme e Damião, cujos integrantes participaram de três grandes estruturas da sociedade brasileira --polícia, igreja e agronegócio--, Verônica construiu a autoconfiança necessária para ser uma grande heroína.

"Ela se transforma a cada temporada. Ganha mais confiança, vai despertando para a força da mulher. Um dos temas da série é a força da mulher e o lugar que ela ocupa na sociedade", descreve o escritor.

Verônica se liberta e passa a se enxergar. Acho que a grande pergunta que ela faz é onde ela se encaixa. Tem uma jornada de autoconfiança e crescimento que nasceu ao longo do processo da série, muito em diálogo com a Netflix, com a Ilana, com o José Henrique Fonseca [diretor da produção] e com a Tainá. Sempre troquei muito com a Tainá, ela tinha total liberdade. Tem que ter uma proximidade entre a atriz e o autor.

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