CENÁRIO DIFÍCIL
REPRODUÇÃO/HBO
Astronauta foi anunciada na CCXP 2018 e só estreou na última sexta (18); seis anos depois
A HBO e a Max lançaram no último fim de semana a animação brasileira Astronauta, inspirada no personagem homônimo da Turma da Mônica. Mas o explorador espacial precisou encarar uma longa jornada para finalmente chegar à TV: o desenho foi anunciado pela primeira vez em 2018, ganhou seu primeiro teaser em 2021 e só agora fez sua estreia.
A demora foi tão grande que, na época do primeiro anúncio, a Warner Bros. Discovery ainda se chamava WarnerMedia e havia acabado de ser adquirida pelo conglomerado de telecomunicações AT&T, enquanto a HBO Max era apenas um embrião de plataforma em desenvolvimento. Agora, a empresa pertence à Discovery e seu streaming foi rebatizado como Max.
Para completar, o executivo que aprovou a produção de Astronauta sequer trabalha na empresa. Roberto Rios, então vice-presidente de Produção Original da HBO Latin America, deixou o conglomerado no início de 2021.
Era de Rios a aspa utilizada no primeiro comunicado à imprensa sobre o desenvolvimento da animação. "Para nós da HBO Latin America, trabalhar com Mauricio de Sousa e sua talentosíssima equipe é um sonho realizado", afirmou o executivo em 2018.
"E com um personagem tão icônico do universo da Turma da Mônica, estamos literalmente aterrissando em um novo planeta: as séries de animações de alta qualidade de produção, no estilo em que sempre fazemos com todos os nossos projetos", continuou Rios na nota.
Mas por que Astronauta demorou tanto para sair do papel e ganhar as telas? As mudanças nos bastidores da Warner Bros. Discovery certamente não ajudaram nem um pouco em um processo que já é tradicionalmente lento como o de fazer uma animação --até mesmo para a Mauricio de Sousa Produções, gigante no mercado brasileiro e expoente mundial.
Reynaldo Marchesini, fundador da produtora Flamma (que tem no currículo a animação Lupi e Baduki e a versão em desenho do Sítio do Picapau Amarelo), explicou ao Notícias da TV que o panorama brasileiro dos últimos anos também foi dificultado por questões políticas e mercadológicas.
"Passamos por um momento muito turbulento, não só na animação, no live-action também. Foram várias coisas acontecendo no mercado do audiovisual, com a questão dos streamings, a regulamentação do on demand", apontou.
Ele, no entanto, é otimista que o mercado está caminhando na direção certa, embora a passos lentos. "Parece que está muito difícil, e está difícil mesmo, mas ainda está melhor do que era quando eu comecei, quase 30 anos atrás."
"Quando eu fiz o pitch de Princesas do Mar [2008-2013], na Mipcom de 2004, foram 23 pitches em três dias e meio de feira. E a executiva australiana com quem a gente acabou produzindo a série me pediu: 'Fala três estúdios brasileiros que já produziram 52 episódios de uma animação para a TV'. E não existia, né? A gente tinha a MSP, com os longas, alguns curtas, as séries. Mas era só ela", lembrou Marchesini.
"Se eu for fazer o mesmo pitch hoje, 20 anos depois, e alguém me pedir a mesma coisa, vou poder falar vários estúdios, várias produtoras. Então, nesse sentido, a animação brasileira evoluiu muito. Em termos de quantidade de estúdios, de empresas, da formação de seus artistas, de provar para o mundo que dá para a gente fazer um produto de qualidade e com audiência, com conexão com o público, com a nossa identidade...", listou ele.
A primeira temporada de Astronauta tem seis episódios, é dirigida por Roger Keesse (de Ninjin) e visualmente inspirada na Graphic MSP de Danilo Beyruth. Os episódios são exibidos na HBO toda sexta, às 21h30, e disponibilizados na Max aos domingos. Confira o trailer:
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