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CASO BOATE KISS

Angustiante, Todo Dia a Mesma Noite acerta no drama sem resvalar no sensacionalismo

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Cena de atores abraçados na série Todo Dia a Mesma Noite

Cena dos atores Bel Kowarick e Leonardo Medeiros abraçados na série Todo Dia a Mesma Noite

RAPHAEL SCIRE

raphascire@gmail.com

Publicado em 29/1/2023 - 8h15

Dez anos depois da tragédia que vitimou 242 vidas no incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), a Netflix lança a série ficcional Todo Dia a Mesma Noite, baseada no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex. Focada na luta dos pais que tentam fazer justiça à memória dos filhos, a história é marcada sobretudo pela densidade do drama que apresenta. Carregada de emoção, a produção faz valer cada um dos cinco episódios.

Os dois primeiros são os mais impactantes. Logo no início, a cena do incêndio em si é extremamente angustiante pois todos sabemos de antemão o desfecho que ela vai ter. O desespero dos jovens, o fogo se alastrando, os esforços de todos na tentativa de salvar vidas. A direção de Julia Rezende soube cadenciar os fatos para construir uma tensão crescente. É impossível desgrudar os olhos da tela.

O roteiro, por sua vez, conseguiu explorar o drama sem cair no sensacionalismo nem na pieguice, a exemplo da cena em que os pais desesperados procuram o carro do filho no estacionamento. Na esperança de não encontrar o veículo, Ricardo (Paulo Gorgulho) sucumbe à dor quando constata que sua busca chegou ao fim. É de cortar o coração.

E o nó na garganta só cresce episódio após episódio. No segundo, que mostra o reconhecimento dos corpos no ginásio estudantil da cidade, não tem como não se emocionar. Uma cena em especial, a de Telma (Bel Kowarick) e Geraldo (Leonardo Medeiros) recebendo a notícia da morte do filho, é delicada e ao mesmo tempo desesperadora, tamanha a dor que os dois atores conseguem deixar transparecer.

reprodução/netflix

Cena ficcional de homenagem às vítimas do incêndio na Boate Kiss

Ponto alto da história, o elenco principal é uniforme, com espaço para cada intérprete brilhar em algum momento da história. Bianca Byington (Ana) e Débora Lamm (Sil), sempre vistas na televisão em papéis solares e bem humorados, surpreendem e seguram o drama de suas personagens.

A partir do terceiro episódio, o foco da história passa a ser os desdobramentos dos pais que ousam enfrentar o sistema judicial brasileiro e toda sua morosidade. Exatamente por isso, a narrativa toma um rumo mais lento, mas nem por isso menos impactante.

Todo Dia a Mesma Noite consegue manter a tensão até mesmo em cenas de pouco impacto visual, como os embates entre os pais das vítimas e os promotores públicos. Aqui, o texto do roteiro e a atuação do elenco prendem a atenção --destaque para Thelmo Fernandes (Pedro).

Há ainda espaço para mostrar a dor dos sobreviventes à tragédia, como a jovem que perdeu uma perna e o garoto que teve o corpo quase todo queimado, e ambos precisam aprender a lidar com as sequelas de uma noite sem fim.

Prepare o lencinho. Todo Dia a Mesma Noite vale cada lágrima derramada.

Veja aqui o trailer da produção:


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