Seven Seconds
Reprodução/Netflix
A atriz Regina King na série Seven Seconds; acidente com filho balança a fé da mãe cristã
JOÃO DA PAZ
Publicado em 10/3/2018 - 6h10
Maior grupo religioso dos Estados Unidos, os evangélicos são alvos frequentes de piadas e polêmicas em séries de TV. A abordagem pouco lisonjeira foi quebrada em Seven Seconds, série policial da Netflix que traz uma jornada de altos e baixos da fé cristã. É um contraponto ao retrato cheio de chacota de Big Bang Theory ou aos escândalos de Greenleaf.
A religião é parte fundamental de Seven Seconds. Logo no primeiro episódio, a série mostra o casal Latrice (Regina King) e Isaiah Butler (Russell Hornsby) em um ensaio no coral de uma igreja: ela toca pandeiro; ele, piano. Essa fé estremece quando recebem a notícia de que seu único filho, Brenton (Daykwon Gaines), foi atropelado.
Daí começa a montanha-russa espiritual dos Butlers. O marido crê na intervenção divina e chama irmãos da igreja para orar, interceder pela cura e pela pronta recuperação do garoto. Já a mulher passa a duvidar de Deus, pois questiona como Ele permitiu que seu filho sofresse um acidente tão grave.
O comportamento da família Butler é típica de evangélicos que se deparam com um grande revés. Os pais do garoto, em interpretações brilhantes de Regina e Hornsby, não escondem frustações com a fé, ao mesmo tempo em que buscam respostas de Deus. É um retrato genuíno, raro de ser ver na TV.
Chacota e polêmicas
Na maioria das vezes, personagens evangélicos são motivos de piada na ficção. Em Big Bang Theory (Warner), a mãe do nerd Sheldon Cooper (Jim Parsons) é uma evangélica devota, típica do conservador Estado do Texas. A crença de Mary (Laurie Metcalf) é sempre confrontada com a do filho nerd, de pensamento mais racional.
divulgação/cbs
Os atores Laurie Metcalf e Jim Parsons em cena da décima temporada de Big Bang Theory
Discussões sobre a veracidade do criacionismo (a teoria de que Deus teria criado o mundo) e do evolucionismo (que defende a origem das espécies por meio da seleção natural) são constantes entre Mary e Sheldon, sempre com a mãe exposta como uma fanática religiosa. Ela ainda é tachada de hipócrita após Sheldon flagrá-la fazendo sexo com o namorado.
Essa visão de que o evangélico não pratica o discurso que prega é marca de outras comédias. Em Blackish (Sony), uma avó, interpretada por Jennifer Lewis, mostra-se uma cristã fervorosa, mas é cheia de paixonites e adapta a Bíblia ao seu bel-prazer.
Já na versão norte-americana de The Office (2005-2013, disponível no Prime Video), a contadora do escritório, vivida por Angela Kinsey, dizia ser cristã e gostava de ler o Livro Sagrado, mas era considerada uma falsa crente pelos colegas de trabalho.
As atrações dramáticas tendem a apresentar evangélicos envolvidos em escândalos. É o caso de Greenleaf (Netflix), na qual as polêmicas vão de adultério até homossexualidade na igreja. Também são mostradas uma relação sexual dentro do templo (com a Bíblia ao lado), corrupção na igreja e estupro de adolescente.
Em The Get Down (2016-2017, Netflix), sobre o surgimento do hip-hop nos anos 1970, o radicalismo religioso entrou em cena com o pastor pentecostal Ramon Cruz (Giancarlo Esposito). Conhecido por liderar com mão firme seus fiéis, ele também era inflexível com a filha, Mylene (Herizen F. Guardiola), proibida de cantar músicas seculares. Ela descumpriu a ordem, apanhou e foi expulsa de casa.
Evangélicos nos EUA
De acordo com pesquisa do instituto Pew Research, 70,6% da população dos Estados Unidos é cristã. Dessa fatia, 46,6% são protestantes. Há mais norte-americanos sem religião (22,8%) do que católicos (20,8%). Os números foram publicados em 2015.
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