Análise | Teledramaturgia
Cesar Alves/TV Globo
A atriz Laura Cardoso em Sol Nascente; Sinhá é uma vovó bandida que mata e rouba
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 8/10/2016 - 7h28
Atualizado em 8/10/2016 - 9h33
Nem mesmo todo o colorido das paisagens da fictícia cidade litorânea de Sol Nascente, a trama das seis da Globo, é capaz de tirar a novela da apatia. A trama central de Alice (Giovanna Antonelli) e Mario (Bruno Gagliasso), um mês depois da estreia, segue em preto e branco. A consequência direta dessa falta de história é a queda da audiência, herdada em alta depois do sucesso de sua antecessora.
A faixa das seis vem de uma leva de tramas e Ibope satisfatórios: Sete Vidas (2015), Além do Tempo (2015/16) e Eta Mundo Bom! (2016) levantaram o horário, mas Sol Nascente pode colocar tudo a perder. O romance principal não mostrou a que veio, Antonelli e Gagliasso não tiveram uma química explosiva no vídeo, o casal não empolga e isso se estende para as tramas paralelas, que padecem igualmente de uma narrativa arrastada e de um enredo pífio.
Mas a personagem de Laura Cardoso, Sinhá, parece capaz de chacoalhar o folhetim e impedir que um desastre maior tome espaço. Mentora do vilão César (Rafael Cardoso) no plano para passar a perna em Tanaka (Luis Melo) e assumir o controle de sua empresa de pescados para poder lavar dinheiro ilegal, Sinhá é dissimulada a ponto de forjar uma identidade dupla: aos olhos dos personagens, é uma vovó indefesa, cativante, autora de um livro de receitas, boa e complacente.
Já fingiu ser surda e caduca para conquistar a família de Alice. Quando está a sós com o neto, porém, transforma-se completamente e surge então sua verdadeira faceta, a de vovó do mal. Dona de cassinos clandestinos, o que lhe garantiu uma fortuna não declarada, Sinhá cobre-se de joias, maquiagem e não dispensa um copo de uísque. Fala coisas horrendas e já mostrou ser capaz de tudo para conseguir o que quer.
Recentemente, viu-se ameaçada com a volta de seu maior rival, um contraventor que acabara de ser preso. Com medo de que ele abrisse a boca e a delatasse em troca do afrouxamento da prisão, Sinhá reagiu com frieza: preparou um bolo envenenado e mandou que um capanga entregasse ao bandido na cadeia.
A atriz surge magistral em cada cena e parece se divertir com um papel feito sob medida para ela. Diferentemente do tom maternal que as vovós das telenovelas imprimem, Laura Cardoso aposta no cinismo como pede o perfil da personagem, que carrega, ainda, uma sensualidade tardia no figurino que usa quando a megera não quer fingir que é boazinha. Sinhá também ganha ares cômicos com tiradas cheias de sarcasmo.
Ver a vitalidade de Laura Cardoso em cena recompensa o público pelo marasmo do restante da história. A dobradinha que faz com Rafael Cardoso também é ótima. A dupla de vilões é o ponto alto da novela.
Geralmente relegados a coadjuvantes, intérpretes mais velhos raramente têm papéis tão bons em mãos, uma prática, infelizmente, recorrente nos folhetins. Nesse ponto, ao menos, Sol Nascente foge à regra. A vilã de Laura Cardoso está inserida na trama central da história.
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