Análise | Teledramaturgia
Divulgação/Montagem/TV Globo
As atrizes Susana Vieira (à esq.) em A Regra do Jogo e Isis Valverde na novela Boogie Oogie
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 24/12/2016 - 6h38
O que a televisão nos reserva para as novelas e séries em 2017? No quesito ousadia, as produções até agora divulgadas tanto pela Record quanto pela Globo pouco impressionam.
A emissora carioca segue lançando novos autores, uma das principais diretrizes de Silvio de Abreu, seu diretor de teledramaturgia, mas as premissas de suas tramas apontam para um caminho já conhecido do público, sem grandes invencionices ou enredos que despertem a atenção por apresentarem algo inovador.
A nova temporada de Malhação, a novela teen da Globo, traz a assinatura de Cao Hamburger, um dos nomes mais prestigiados do público infantil e adolescente, autor de Castelo Rá-Tim-Bum, Pedro e Bianca e Que Monstro Te Mordeu? (TV Cultura).
Pela primeira vez, Malhação será ambientada em São Paulo e promete explorar os conflitos de classe ao dar o protagonismo para quatro jovens de diferentes locais da cidade. A expectativa para o texto é grande, especialmente pelo talento de Cao para dialogar com o público alvo da novelinha.
Já na faixa seguinte a aposta é em um enredo histórico, com promessa de aventura misturada à história do Brasil. Novo Mundo, dos estreantes Alessandro Marson e Thereza Falcão, retratará a vinda da família real ao país, em 1808, com uma leve referência ao filme Piratas do Caribe.
De cara, é possível identificar uma repetição para evitar rejeições: os protagonistas serão vividos por Chay Suede (Joaquim) e Isabelle Drummond (Anna), que já contracenaram na primeira fase de A Lei do Amor, a atual trama das nove da Globo e mostraram química juntos.
No horário mais estabilizado da emissora em termos de audiência, às sete da noite, a também estreante Claudia Souto vem com Pega Ladrão, que deve seguir na linha comédia romântica, com Camila Queiroz no papel principal e ambientação em um hotel no Rio de Janeiro.
Depois, tem a volta do veterano Antonio Calmon, na geladeira da emissora desde Na Forma da Lei (2010), acompanhado do novato Guilherme Vasconcelos.
maurício fidalgo/tv globo
A atriz Isabelle Drummond será Anna, uma professora de português, na novela Novo Mundo
Às nove da noite, horário crucial para a Globo, a ordem é não mexer no time de autores. Depois de A Lei do Amor, Glória Perez está de volta e sua novela, A Força do Querer, provoca polêmica antes mesmo da estreia. Em recente publicação em redes sociais, a autora já causou discussão ao anunciar um dos temas que abordará: a transexualidade de um dos personagens.
Desta vez, porém, Gloria deixa a excentricidade de outras culturas de lado e ambientará sua história na Amazônia _pelo menos não teremos mais problemas de fuso horário nos "voos" dos telespectadores durante sua narrativa. Exótico mesmo só o personagem de Isis Valverde, adepta da prática do sereismo, como são chamadas as mulheres que se vestem de sereias.
A grandeza do Brasil também será explorada na próxima novela de Walcyr Carrasco, que furou a fila das nove e promete ambientar sua história no Jalapão (TO). Com isso, Carrasco torna-se o autor mais produtivo da Globo, ao emplacar outra história pouco mais de um ano depois de concluir Eta Mundo Bom! (2016).
Às onze, mais uma dupla estreante dá as caras: Angela Chaves e Alessandra Poggi assinam Os Dias Eram Assim. Se o título não é dos melhores, o mesmo não se pode dizer do elenco.
A maior expectativa é, sem dúvidas, a de ver Susana Vieira na pele da grande antagonista da história. A pergunta que fica é: Será que teremos uma nova Branca Letícia, a icônica vilã de Por Amor (1998), ou Susana continuará interpretando a si mesma?
Porém, a grande ousadia da Globo poderá ocorrer com outro formato, as séries, que, se não dão tanta audiência, ao menos trazem projetos mais experimentais que oxigenam um pouco a grade da emissora, a exemplo de Justiça, o melhor produto da TV em 2016.
O destaque imediato vai para Dois Irmãos, com direção de Luiz Fernando Carvalho, no ar na segunda semana de janeiro, e 13 Dias Longe do Sol, que retratará vítimas de um desabamento. E Bruno Mazzeo sai da frente do vídeo para assinar uma história que promete satirizar o Brasil, dos políticos aos espertinhos que dão um jeitinho para tudo. Filhos da Pátria tem previsão de estreia no segundo semestre.
estevam avellar/tv globo
A comédia Filhos da Pátria terá Alexandre Nero e Fernanda Torres como protagonistas
Na concorrência, poucas novidades. Para iniciar o ano, a Record estreia Sem Volta, série de aventura e suspense sobre um grupo de montanhistas que se perde no Rio de Janeiro.
Mas engana-se quem pensa que a emissora vai deixar de lado o filão bíblico no qual se tornou especialista. Em 2017, há a estreia de O Rico e Lázaro, de Paula Richard, além da já anunciada versão da passagem do Apocalipse, a cargo de Vivian de Oliveira, autora de Os Dez Mandamentos (2015/16).
A curiosidade na emissora fica mesmo por conta de Belaventura, história medieval de Gustavo Reiz, que se destacou com um texto leve e bastante folhetinesco em Escrava Mãe (2016).
Opções para 2017 não faltam. Resta ao público torcer para que a qualidade seja tão grande quanto a oferta.
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