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Análise | Teledramaturgia

Tortas voadoras e banhos no chiqueiro explicam sucesso de Eta Mundo Bom!

Divulgação/Artur Meninea

Anderson Di Rizzi, Camila Queiroz e Klebber Toledo em cena manjada de Eta Mundo Bom! - Divulgação/Artur Meninea

Anderson Di Rizzi, Camila Queiroz e Klebber Toledo em cena manjada de Eta Mundo Bom!

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 23/7/2016 - 8h17

Espaço para tramas ousadas e criativas é o que menos existe em Eta Mundo Bom!. O folhetim de Walcyr Carrasco é a novela mais vista da Globo atualmente e conquista cada vez mais público justamente por causa daquilo que muitos enxergam como uma fraqueza: uma profusão de clichês. Ao apostar forte em histórias e recursos já conhecidos, a trama ganha audiência. Alguns fatores explicam essa ascensão.

O primeiro deles é o desenvolvimento de tramas paralelas. Carrasco não é o tipo de autor que segura história. Ele dá espaço para personagens secundários, o que traz dinamismo à narrativa. Ainda que tudo isso seja às custas de reviravoltas batidas, como as tortas voadoras, casamentos desfeitos à beira do altar e inúmeros banhos no chiqueiro, Carrasco consegue movimentar sua novela e dar respiro à história central de Candinho (Sergio Guizé).

Por falar nele, o protagonista cativante é também um dos fatores do sucesso de Eta Mundo Bom!. Guizé compôs com simplicidade um personagem que poderia muito bem resvalar na caricatura do caipira bobão. Sem exageros, o ator conseguiu conquistar o público das mais diversas faixas etárias com a mensagem positiva do personagem e firma-se como um bom talento na televisão.

Candinho está ainda cercado de outros bons personagens, como Anastácia (Eliane Giardini), Pancrácio (Marco Nanini) e Cunegundes (Elizabeth Savala). Os medalhões do elenco atuam com segurança e até mesmo Flavia Alessandra (Sandra), apesar de repetitiva _faz a mesma personagem de Alma Gêmea (2006)_, consegue dar naturalidade ao texto teatral do autor.

Carrasco prima pela clareza em seus diálogos e não deixa dúvidas quanto ao caráter de seus personagens. A falta de ambiguidade, porém, leva à previsibilidade: já se sabe o que vai acontecer com a história antes mesmo de o capítulo chegar ao fim.

Já o núcleo cômico de Eta Mundo Bom! ganha estofo pela ingenuidade típica do horário das seis. O "cegonho" que atormenta as fantasias de Mafalda (Camila Queiroz) gera situações hilárias, e a dobradinha que a novata faz com Rosi Campos (Eponina) é impagável. O texto, aqui, tem leveza, e o núcleo, apesar de numeroso (atualmente são 13 personagens que circulam pela fazenda de Cunegundes), cumpre com o objetivo de fazer rir.

Por fim, a direção de Jorge Fernando saiu da mesmice. O diretor apostou forte na cenografia bem cuidada e em efeitos de filtro no vídeo, sem, contudo, deixar de lado sua principal característica, a movimentação _repare que é muito raro ver personagens conversando sentados na novela. 

Sem se preocupar em renovar o gênero, Eta Mundo Bom! brinca com aquilo que as telenovelas têm de mais batido. Aos olhos do público mais exigente, é um folhetim repetitivo. Para a emissora, porém, um oásis de audiência em tempos de guerra por pontos no Ibope. 


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