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Sem vilão, humor e ação: sete erros explicam fracasso de Em Família

Reprodução/TV Globo

Bruna Marquezine (Luiza) chora em anúncio de relançamento de Em Família, novela da Globo - Reprodução/TV Globo

Bruna Marquezine (Luiza) chora em anúncio de relançamento de Em Família, novela da Globo

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 16/7/2014 - 18h22
Atualizado em 17/7/2014 - 5h29

A novela Em Família, da Globo, termina nesta sexta-feira (18) e encerra também um ciclo na carreira de Manoel Carlos. A última novela do autor de "clássicos" como Por Amor (1998), Laços de Família (2000) e Mulheres Apaixonadas (2003) fica marcada pelo marasmo e com a pecha de “pior audiência de uma trama das nove da história”. Se faltaram números de Ibope para ser um sucesso, sobram razões que explicam tamanha apatia por parte do público:

1. Ação x diálogos

Nas novelas de Manoel Carlos, muito mais do que na ação, a força está nos diálogos. Com Em Família não foi diferente, mas discussões bem pontuadas e filosofias proferidas pelos personagens arrastaram a história, que não teve movimentação. A falta de ação ficou ainda mais atenuada pela direção contemplativa de Jayme Monjardim.

Chica (Natália do Vale) e Selma (Ana Beatriz Nogueira) conversam com feirante

2. Primeiras fases x elenco

Foram elas as grandes responsáveis pelos deslizes, tanto de elenco quanto de construção de personagens. Laerte (Guilherme Leicam) era um sujeito repulsivo, ciumento até dizer chega, capaz de enterrar vivo Virgilio (Nando Rodrigues) por acreditar que ele tinha um caso com Helena (Bruna Marquezine). A passagem para a última fase apresentou um Laerte contemplativo e apático, e a força do personagem só voltou com tudo na reta final da história. Gabriel Braga Nunes parece ter despertado para a novela, que ainda assim seguia num marasmo só.

Outros exemplos: Chica (Juliana Araripe) era uma dona de casa dedicada à família. De repente, tornou-se um furacão na pele de Natália do Vale. A Juliana (Gabriela Carneiro da Cunha) do início era mais velha do que a sobrinha Helena (Bruna Marquezine), mas parece ter sido conservada no formol quando Vanessa Gerbelli e Julia Lemmertz assumiram os papéis. Foram erros de escalação que não passaram despercebidos pelo público e causaram estranhamentos.

Laerte (Guilherme Leicam) enterra Virgilio (Nando Rodrigues) na segunda fase de Em Família

3. #nãotevehumor

Essencialmente dramática, a novela de Manoel Carlos não teve um respiro cômico para dar uma aliviada no chororô nosso de cada dia. Tinha lá o núcleo do asilo, mas faltou graça. O público só conseguia rir mesmo quando Shirley (Vivianne Pasmanter) soltava seu veneno, dizendo as verdades sobre os personagens.

4. Cadê maldade?

Novela é melodrama e a base dele está no conflito entre o bem e o mal. Ainda que a ambiguidade seja cada vez mais presente nas nossas novelas, abrir mão de um vilão que incendeie as histórias foi um erro. Laerte ficou com o posto, porém, mais do que malvado, o personagem é um doente. Shirley deu mostras de vilania na primeira fase, mas também foi só isso, e Branca (Angela Vieira) não passava de uma descompensada que fazia de tudo para chamar a atenção do ex Ricardo (Herson Capri).

Jairo (Marcello Melo Jr.) salva a menina Bia de incêndio na comunidade onde vive

5. Faltou Classe C

Ainda que a telenovela abranja um público heterogêneo, das mais variadas idades e estratificações sociais, não se pode mais ignorar o poder de fogo que a classe C tem quando está em posse de um controle remoto. Manoel Carlos o fez. Não havia em Em Família um núcleo que criasse no público uma identificação imediata, tanto é que no meio da novela vimos a entrada da favela solar em que residia Jairo (Marcello Melo Jr.). Os empregados bajuladores também não faltaram, mas não apresentaram histórias relevantes para a trama.

6. Personagens e histórias mal construídos

A Helena da vez teve em Julia Lemmertz uma defensora e tanto. Mas a personagem passou a novela toda amargurada, ressentida e incapaz de deixar de lamentar o passado. O conflito latente com a filha Luiza (Bruna Marquezine) também não foi suficiente para botar fogo em Em Família.

A relação de Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) quase que desandou. Ainda que a novela tenha apresentado avanços ao retratar com mais naturalidade um casal gay, o público torceu o nariz para o romance lésbico, em partes por causa do carisma de Cadu (Reynaldo Gianechinni), o marido largado. Giane, aliás, teve uma de suas melhores interpretações na televisão.

Marina (Tainá Müller) beija Clara (Giovanna Antonelli) após pedir a namorada em casamento

7. Ganchos

Recurso mais do que necessário em novelas, o gancho que prende o telespectador na poltrona, no final de bloco ou de capítulo, não existia na história de Maneco. Foram raros os momentos em que o telespectador se sentiu instigado a continuar acompanhando a novela. Houve absurdos de se encerrar um bloco comercial com os personagens discutindo a cor da parede do cenário. Quem se interessa por isso?

Manoel Carlos só não encerra sua última novela de maneira mais melancólica porque Viver a Vida (2009) conseguiu ser pior do que Em Família. Lenta, sem grandes acontecimentos e com um elenco mal escalado, a trama das nove dificilmente ficará para a história.


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