Análise | Eu que Amo Tanto
Reprodução/TV Globo
A atriz Susana Vieira em cena da série A Mulher da Minha Vida, do Fantástico, no último domingo (16)
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 17/11/2014 - 17h08
Atualizado em 18/11/2014 - 7h00
Depois de apresentar tolices como A Mulher da Minha Vida, o Fantástico, revista dominical da Globo, estreou na semana passada a série Eu que Amo Tanto, baseada no livro homônimo de Marília Gabriela.
Focada no drama de quatro mulheres que amam demais, Eu que Amo Tanto dá uma boa oxigenada no jornalístico _registre-se aqui também a ótima série documental Bem Sertanejo, apresentada por Michel Teló, que ajudou a tirá-lo da mesmice.
A obsessão dessas mulheres gera lágrimas e, em alguns casos, tragédias. A cada semana, uma atriz diferente protagoniza o enredo da vez, todos eles focados no descompasso emocional de mulheres que sofreram por amor. São histórias curtinhas, e aí vem um tropeço: pela qualidade do produto, com narrativa ágil, fotografia adequada e direção segura, merecia um pouco mais de fôlego, até mesmo pela profundidade do tema. Passionalidade sempre rende ótimos casos.
Certamente, se estivesse solta na programação, Eu que Amo Tanto entregaria mais. Os cenários são simples e não há uma profusão deles, o que justifica o baixo orçamento destinado à produção, mas não conferem problema algum ao que é visto em cena.
Em Eu que Amo Tanto, o esforço maior concentra-se na interpretação. Na semana passada, Mariana Ximenes (Leididai) esteve visceral em cena, e Susana Vieira (Sandra) surgiu no último domingo quase irreconhecível, em um de seus melhores momentos na televisão ultimamente: sem histrionismo, correta como nos bons tempos. Além delas, ainda surgirão em quadro Carolina Dieckmann (Zezé) e Marjorie Estiano (Angélica).
As atrizes estão no ápice do “desglamour”, seja pela nudez, seja pela total ausência de maquiagem, como visto no episódio com Susana _o que é raro, dado o histórico exuberante da atriz. São elas que dão o tom da série. É o tal “sangrar” que a diretora Amora Mautner tentou tirar das intérpretes e aparentemente conseguiu _“desmontar” Susana Vieira é tarefa hercúlea.
Os homens que causam as dores de amor dessas mulheres surgem como meros coadjuvantes. Diante do furacão da interpretação de Mariana e Susana, não houve espaço nem para Marcio Garcia (Zé Osmarino), nem para Tarcisio Filho (Miguel). Mais uma vez: se a série tivesse mais tempo no ar, poderia explicitar melhor as atitudes desses personagens, afinal, as mulheres são figuras centrais, sim, mas sem esses homens nenhum conflito apresentado existiria.
É de se reconhecer a qualidade da mão de Amora Mautner na direção de produtos da Globo. Ela entrega mais uma produção bem acabada, depois de sucessos como Cordel Encantado (2011) e Avenida Brasil (2012).
Em relação ao roteiro, não houve pudores nem economia nas cenas de sexo _mais no primeiro episódio do que no segundo. Assim como o amor, o sexo faz parte das histórias apresentadas. Lembrou, até certo ponto, a série A Vida como Ela É... (1996), baseada na obra de Nelson Rodrigues e adaptada pelo mesmo Euclydes Marinho que assina o texto da vez. Apesar de não ser uma crônica de costumes, existe aqui um quê rodrigueano: a série é passional, dramática, exagerada, trágica e ao mesmo tempo bem humorada.
É de se lamentar, apenas, que em um momento tão carente de boas histórias na teledramaturgia nacional, um projeto do quilate de Eu que amo tanto seja relegado a apenas dez minutos no final das noites de domingo.
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