Análise | Alto Astral
Fotos Artur Meninea/TV Globo
A atriz Claudia Raia em cena como a vidente trambiqueira Samantha, na novela Alto Astral (Globo)
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 10/1/2015 - 7h44
Claudia Raia é o tipo de atriz que, quando vai roubar a cena de uma novela, rouba logo de cara. Em Alto Astral, a trama das sete da Globo, não é diferente: logo no primeiro capítulo já deu para perceber que sua Samantha Santana entraria para o rol de bons personagens da intérprete.
Na novela, Samantha é uma vidente que, por ter feito mau uso de seu dom, perdeu a mediunidade e, com ela, sua notoriedade. Sem se conformar com a fama passageira, ela faz de tudo para se manter na mídia: não pode ver uma câmera ligada e um microfone estendido em sua direção, que logo abre um sorriso e se transforma.
Apesar de tramar contra a própria mãe e de querer se aproveitar do dom de Caíque (Sérgio Guizé), ela não é uma vilã que mete medo, o que livra a atriz de fazer caras e bocas e, diferentemente de Thiago Lacerda (Marcos), não precisa carregar nas tintas da vilania. A vidente trambiqueira, pelo contrário, faz rir, e Claudia Raia sabe como poucas atrizes divertir o público. Ela tem o timing certo da comédia e um humor físico inigualável, com trejeitos e jogadas de corpo que engrandecem a sua composição de personagem.
(Ainda em relação a Thiago Lacerda, seu vilão de agora lembra em muito o Adriano interpretado pelo ator na novela As Filhas da Mãe, de 2001. Os olhares e os gestos são quase os mesmos e, dessa vez, ele ainda é prejudicado por uma parceira de cena bastante inexpressiva, Debora Nascimento, no papel de Sueli.)
Claudia Raia, na pele de Samantha, com cabelo inspirado em Ana Maria Braga
Samantha não é o melhor momento de Claudia Raia na televisão. Está bem distante da Tancinha de Sassaricando (1987) ou da Jaqueline de Ti Ti Ti (2010), mas é visível que a atriz está confortável no papel. Outro feito de Samantha é afastar a pecha de que Claudia Raia e vilania não combinam: basta lembrar dos fracassos de Angela, de Torre de Babel (1998), de Ágata, da novela Sete Pecados (2007), e de Lívia Marini, a malvada de Salve Jorge (2012), todas vilãs que Claudia interpretou e que não caíram no gosto popular.
A fala mole (reparem no “sabe?” que a atriz enfia no final das falas), as mãos estabanadas e o figurino esvoançante mostram que Claudia Raia acertou na composição de Samantha. A inserção de recursos gráficos que explicam o que a personagem está pensando é um pouco over, mas combina com o exagero da vilã. Há, ainda, a dobradinha de Samantha com Pepito (Conrado Caputto), seu fiel escudeiro e capanga. Caputto é, sem dúvidas, a revelação de Alto Astral.
Tão cheia de si, a vidente sonha até mesmo ser atriz de novela. E foi espirituosa a cena em que ela elenca todas as personagens que poderia viver na ficção, de Ninon, de Roque Santeiro (1985), a Lívia Marini, todas interpretadas na vida real por Claudia, que deitou e rolou na sequência que relembrou sua carreira.
Como se não bastasse, Samantha tem uma rixa particular com a apresentadora Ana Maria Braga e quer porque quer aparecer no programa matinal. Em breve, até mesmo o corte de cabelo da personagem vai mudar, inspirado no visual da apresentadora.
Monica Iozzi chegou a ser cogitada para interpretar Samantha, mas a personagem acabou caindo no colo de Raia. A diferença de idade entre Claudia e Sérgio Guizé, que interpreta o mocinho da trama, despertou algum incômodo inicial, mas a jovialidade da atriz espantou esse estranhamento.
Alto Astral começou morna, com um romance água com açúcar, mas vem sendo temperada com humor e, mais uma vez, Claudia Raia contribui para isso. Agora é esperar que a novela mantenha esse ritmo, com inserção gradual de risadas, ingrediente primordial do horário das sete.
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