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Crítica | Império

Império começou como Avenida Brasil e terminou como Mutantes

Fotos: Reprodução/TV Globo

Cristina (Leandra Leal) chora sobre o corpo de José Alfredo (Alexandre Nero) no final de Império - Fotos: Reprodução/TV Globo

Cristina (Leandra Leal) chora sobre o corpo de José Alfredo (Alexandre Nero) no final de Império

DANIEL CASTRO

Publicado em 14/3/2015 - 6h13

O fantasma do comendador José Alfredo e o atores Alexandre Nero, Lilia Cabral e Paulo Betti que me perdoem, mas Império não foi essa novela toda, não. Durante boa parte dos oito meses em que ficou no ar, Império foi um porre.

A novela começou muito bem, com pinta de uma nova Avenida Brasil com sotaque, mas logo ganhou uma gigantesca barriga e só não naufragou graças ao tesão do homem de preto pela "sweet child" (Marina Ruy Barbosa), aos arranca-rabos do comendador com Maria Marta (Lilia Cabral) e às caras e bocas de Téo Pereira (Paulo Betti).

Por volta do capítulo 100, Império quase morreu juntamente com o comendador. Na reta final, como se tivesse um raio, o autor Aguinaldo Silva a despertou. Ressuscitou um Frankenstein. Porque essa história de José Pedro (Caio Blat) ser o misterioso Fabrício Melgaço é a trama mais difícil de engolir dos últimos anos, ainda mais numa novela que parecia realista.

Okay, José Pedro tinha seus motivos. Mimado pela mãe, era constantemente esculhambado pelo pai. Mas isso era suficiente para odiar tanto o pai, a ponto de preparar uma série de atentados contra ele e o matar no derradeiro capítulo? Por que José Pedro não se revelou esse vilão implacável antes? Por que não arrasou com José Alfredo e seu império quando o homem de preto vivia nas sombras, fingindo-se de morto? Porque, se o fizesse, a novela acabava sem se explicar como e por que José Pedro, um homem de finanças, trouxera milhões de euros de um banco na Suíça para uma piscina em Petrópolis...

O comendador José Alfredo ressurge como um fantasma na última imagem de Império

Império já tinha descambado para o fantástico quando o comendador tomou veneno e resussucitou dentro do túmulo e quando Cora foi para o spa como Drica Moraes e voltou com Marjorie Estiano, após tomar um milagroso xixi de jacaré.

O fiasco de Cora como vilã, por causa da suposta fragilidade de Drica Moraes, obrigou o autor a seguir outro rumo, a criar Fabricio Melgaço. A combinação de fantasia com dramaturgia policial, no entanto, abusou da boa fé do telespectador. Se Aguinaldo Silva queria que um filho matasse o pai, deveria ter contado melhor essa história desde o início. José Pedro não era esse monstro até alguns capítulos atrás.

Silva foi ousado ao matar o protagonista pelas mãos do próprio filho, ainda que tenha cedido e feito José Alfredo reaparecer como fantasma fechando as cortinas da novela. Mas isso foi outra novela. Como assinalou o crítico Mauricio Stycer, o supreendente desfecho de Império não teve nexo com o restante da obra

Com textos didáticos, a reta final de Império lembrou os folhetins de Tiago Santiago. Em Os Mutantes, maior sucesso da Record, Santiago construía frases do tipo "Você, Electron, que tem o poder de dar altas descargas elétricas...". Para explicar a mutação de José Pedro, Aguinaldo Silva teve de recorrer a expediente parecido, fazendo o personagem repetir algumas vezes que era o misterioso e perigoso Fabrício Melgaço que controlava Silviano (Othon Bastos) e Maurílio (Carmo Dalla Vecchia). No embalo, escalou outros persongens para explicar o que é regicida e parricídio. Só faltou um José Alfredo bem canastra dizendo a José Pedro que não adiantava tentar-matá-lo, porque ele, o comendador, tinha o poder da imortalidade. 

Império teve seus méritos, sim, principalmente as ótimas atuações do trio citado na abertura deste texto. Mas novelas inesquecíveis não se fazem somente de bons atores, mas também de boas histórias, e boas histórias bem contadas. Se você começou a ver novela nos últimos anos, saiba que já existiram obras infinitamente melhores antes _inclusive escritas pelo próprio Aguinaldo Silva.


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