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Análise | Novela das sete

Claudia Raia vai de vilã a mocinha e salva Alto Astral de casal chato

Reprodução/TV Globo

Conrado Caputo e Claudia Raia em cena do último capítulo de Alto Astral, novela das sete da Globo - Reprodução/TV Globo

Conrado Caputo e Claudia Raia em cena do último capítulo de Alto Astral, novela das sete da Globo

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 8/5/2015 - 20h31

Um dia antes de Alto Astral terminar, Samantha (Claudia Raia) olhou para o espelho e disse para si mesma: “Será que no último capítulo da minha novela eu não vou ter um final feliz? Claro! Mas eu estou no penúltimo capítulo e é sempre no penúltimo capítulo que a mocinha é sequestrada”.

A personagem fazia uma referência ao sequestro do rei Mohammed (Igor Rickli), do qual queria ser vítima, e a frase diz muito sobre a trama das sete que encerrou nesta sexta (8). Samantha começou como vilã, explodindo pontes e querendo passar a perna na própria mãe para colocar a mão na grana da família.

Aos poucos, porém, o talento humorístico de Claudia Raia foi falando mais alto, e a personagem fez uma curva para mocinha cômica. Foi uma transição bem feita e para isso a atriz contou com um parceiro de cena afinado, Conrado Caputo (Pepito).

Outra boa sacada foi a homenagem espirituosa que o autor fez à própria carreira da estrela, com piadas e menções a outras novelas protagonizadas por ela (nem mesmo o fiasco Livia Marini em Salve Jorge, de 2012, ficou de fora). Claudia não fugiu da raia, encarou as tiradas com excelente senso de humor, tomou a novela para si e divou.

Contou a favor da trama, ainda, a estreia de Daniel Ortiz como autor solo, uma aposta certeira do supervisor da trama, Silvio de Abreu. Trazer novos talentos para o vídeo faz parte de uma estratégia de renovação que a Globo vem pondo em prática nos últimos tempos. Além disso, ambientar a história em uma cidade fictícia do interior também foi uma ótima maneira de fugir dos cenários batidos do eixo Rio-São Paulo.

Mas o “diálogo” da cena no espelho revela outra faceta de Alto Astral, esta não muito boa: o folhetim pecou por ser excessivamente didático, explicar tintim por tintim o que se passava em cena, dando pouco espaço para que o telespectador tirasse suas próprias conclusões da trama. Além disso, fez uso à exaustão do recurso simplista de colocar personagens falando sozinhos para, mais uma vez, explicar o que sentiam ou queriam fazer. Em uma novela com personagens fantasmas, não precisava…

Clichês também não faltaram na história, que não apresentou nada de original _a não ser a revelação de novos rostos nas novelas, caso de Monica Iozzi (Scarlett/Cidinha) e Gabriel Godoy (Afeganistão). Do início ao fim, Alto Astral usou e abusou dos mais batidos chavões do gênero. Teve vilão maniqueísta, vilã fingindo ser doente, mãe que criou o neto como se fosse filho e, para fechar, o sequestro da mocinha na reta final.

Só que a mocinha sequestrada não foi Samantha e sim Laura (Nathalia Dill), a titular inicial do posto. Chatinha, a trama central dela e de Caíque (Sergio Guizé) foi um romance água com açúcar longe de ser o melhor da novela.

Christiane Torloni (Maria Inês) foi outra que passou o folhetim subaproveitada, tendo um romance morno com o personagem de Edson Celulari (Marcelo). Apenas nos quarenta e cinco do segundo tempo ganhou relevância, ao ser revelado que a sua personagem era a verdadeira mãe de Laura, busca implacável que durou a novela toda.  

Com as revelações dos principais mistérios da história ao longo da última semana de exibição, o derradeiro capítulo de Alto Astral só reforçou a galeria de clichês que todo último capítulo de novela apresenta: a solução do tal sequestro da mocinha (salva, claro, pelo mocinho), casais se arranjando de última hora, julgamentos, vilões regenerados, casamento dos pombinhos... Mais do mesmo e nada fora do esperado.

Pelo menos Samantha teve o final que queria: casou com um rei e ganhou um palácio no parque Ibirapuera, local que ela sempre ambicionou comprar na sua fase malvadinha. Claudia Raia fez por merecer. 


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