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Análise | Novela das nove

Babilônia traz o melhor de Gilberto Braga: crítica social e vilã sedutora

Reprodução/TV Globo

Gloria Pires e Adriana Esteves (de costas) em cena de Babilônia, nova novela das nove da Globo - Reprodução/TV Globo

Gloria Pires e Adriana Esteves (de costas) em cena de Babilônia, nova novela das nove da Globo

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 16/3/2015 - 22h49
Atualizado em 16/3/2015 - 22h56

Depois de um hiato de quatro anos, Gilberto Braga está de volta ao horário nobre da Globo. Ainda que divida a autoria de Babilônia com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, seu nome é uma grife que dá credibilidade à trama que estreou nesta segunda-feira (16).

Logo no primeiro capítulo já deu para perceber que elementos do universo ficcional do autor estão ali presentes: vilões charmosos, texto carregado de ironia e crítica social, tudo isso em meio a cenários luxuosos do Rio de Janeiro e de Paris.

Babilônia conta a história da ambição de três mulheres de classes sociais distintas: Regina (Camila Pitanga), Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Gloria Pires). Regina é pobre e quer vencer na vida, mas envolve-se com um homem casado e engravida. Sua mãe sofre de problemas cardíacos e o pai é assassinado. É então que Regina se torna arrimo de família _e há de se notar um certo esgotamento nesse tipo de perfil de mocinha sofredora e barraqueira.

Inês é classe média, foi amiga de Beatriz na infância e nutre por ela uma obsessão desmedida. É uma mulher apática, sem tons, e seu objetivo é ser tal qual a personagem de Gloria Pires. Como boa parte dos personagens gilbertianos, a safadeza vai tomar conta de sua personalidade.

Já Beatriz é um furacão: sensual, ninfomaníaca, rica e sem pudores morais, é a grande vilã da história e só quer se dar bem, mesmo que para isso tenha que passar por cima de tudo e de todos. Gloria Pires encara o tipo femme fatale e está elevadíssima em cena. Sedutora e astuta, a vilã tem tudo para entrar no rol já emblemático de figuras do gênero criadas por Gilberto Braga.

Em um prólogo que se passa há dez anos, a história principal foi contada sem rodeios, com tempo suficiente para a apresentação dos personagens, bem delineados e sem atropelos. Tramas interligadas e ritmo impecável. 

Existe em Babilônia uma clara homenagem a Vale Tudo (1988), a clássica trama de Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Tal como Rachel (Regina Duarte), a personagem de Camila Pitanga também venderá sanduíches na praia. Seu nome é uma homenagem à interprete da heroína da novela de 1988, assim como Beatriz é em referência a Beatriz Segall, que interpretou Odete Roitmann na mesma trama, e, assim como a vilã de outrora, tem lá sua tara por subalternos.

A novela traz também Fernanda Montenegro (Teresa) e Nathalia Thimberg (Estela) em papéis ousados. As veteranas são casadas e prometem discutir a questão gay por um ângulo novo, a de um casal já maduro. Os autores foram espertos ao já tirarem da frente a cobrança por beijo gay: as duas deram um selinho e assunto encerrado. Mais do que a troca de carícias, o importante aqui é mostrar o desenrolar de uma história que reflete um momento da sociedade.

O primeiro capítulo de Babilônia não deixa dúvidas e confirma a facilidade de Gilberto Braga em retratar como nenhum outro autor a frivolidade do “grand monde”. É ele quem melhor escreve sobre as relações sociais na televisão brasileira. Prova disso foi a frase de Inês em uma discussão com o marido: “Você sabe o que é ser advogada num país sem justiça? Só para os muito ricos existe justiça no Brasil”. Foi só o começo de um novelão, e os próximos meses prometem boas intrigas.


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