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Análise + audiência

Apesar do ibope desastroso, Pecado Mortal foi melhor novela do ano

Reprodução/TV Record

Paloma Duarte, Fernando Pavão e Simone Spoladore em cena do último capítulo de Pecado Mortal - Reprodução/TV Record

Paloma Duarte, Fernando Pavão e Simone Spoladore em cena do último capítulo de Pecado Mortal

RAPHAEL SCIRE

raphascire@gmail.com

Publicado em 31/5/2014 - 1h22

Esqueça o vexame que foi a audiência de Pecado Mortal, primeira novela de Carlos Lombardi na Record. Apesar de não ter atingido a média de dez pontos que a emissora desejava, a novela é muito mais do que a simples análise fria de números. Pecado Mortal, no acumulado geral, termina com um saldo para lá de positivo, bem maior do que os índices do Ibope.

Lombardi tomou um caso real _o da Escola Base, escândalo midiático nos anos 1990 em que  um dono de escola infantil foi acusado de molestar crianças (e que depois descobriu ser mentira)_ para iniciar sua história. Carlão (Fernando Pavão) era um pacato professor, casado com a promotora Patrícia (Simone Spoladore). Durante 12 anos, o casal viveu uma vida feliz, mas o escândalo de pedofilia faz vir à tona uma série de verdades que ele escondeu da mulher, como o seu nome de batismo, Marco Antonio, e o fato de ser filho do maior bicheiro do Rio de Janeiro, Michelle Vêneto (Luiz Guilherme), a quem Patrícia tanto perseguia. A premissa é um pouco parecida com outra história de Lombardi na Globo, Vira Lata (1997).

A partir daí, várias histórias se desenrolaram. Carlão tenta a todo custo manter o casamento e reaproximar-se da família. Como em toda novela, reviravoltas impediram o casal protagonista de ficarem juntos. O ponto é que Pecado Mortal conseguiu, ao longo de oito meses, manter uma narrativa eletrizante e ágil, sem ter apresentado nenhuma barriga, aqueles períodos em que absolutamente nada acontece. Lombardi reuniu ingredientes policiais, com referências a filmes de 007, histórias em quadrinhos (não era à toa que Carlão era chamado de “Poderoso Thor”), o feijão com arroz do romance folhetinesco, personagens bem delineados e um texto da melhor qualidade.

Sagazes, sarcásticos e bem humorados, os diálogos foram bem defendidos pelos atores da produção. Destaque total para Vitor Hugo, que compôs um vilão diabólico, tanto na expressão corporal quanto, principalmente, na facial. As falcatruas e artimanhas de seu Picasso movimentaram a trama.

Outra que defendeu muito bem talvez a personagem mais difícil da história foi Paloma Duarte. Sua Doroteia inicialmente era uma vilã daquelas _foi ela quem armou para que Carlão fosse descoberto. No decorrer da trama, Doroteia formou com Carlão e Patrícia um triângulo amoroso capaz de dividir a torcida dos telespectadores. Nessa fase, foi doce, sem nunca ter perdido a inteligência que caracterizava sua personagem. Na reta final, porém, depois de se dar conta de que Carlão ama Patrícia, sua vilania voltou com tudo, mas Doroteia não deixou de lado o romantismo. Paloma oscilou entre a mocinha traída e a vilã impiedosa. Irrepreensível.

Para não ter injustiça com a turma do bem, merecem destaque os trabalhos de Simone Spoladore, Mariah Rocha (Helena) e Denise Del Vecchio (Das Dores).

Obviamente, a novela teve problemas. Por falta de planejamento da Record, o horário de exibição prejudicou a audiência de Pecado Mortal. Além disso, a trama sofreu desfalques, como a saída de Mel Lisboa (Marcinha), que preferiu dedicar-se ao teatro, e a de Marcos Pitombo (Ramiro), escalado para a próxima novela da emissora, Vitória. O banco de elenco é um problema que a Record precisa urgentemente resolver.

O enfraquecimento de algumas tramas fez com que o autor encontrasse uma saída digna para bons personagens. Donana (Jussara Freire) era o encalço de Stela (Betty Lago), mas os embates entre elas acabaram quando finalmente foi revelada a verdade sobre a maternidade dos filhos que a primeira roubou da segunda. Inicialmente a grande vilã da história (e Jussara Freire estava ótima), Donana foi perdendo força e acabou morta em um incêndio. Uma pena.

Mortes, aliás, não faltaram. Se por um lado o extermínio de pelo menos 15% do elenco fixo trouxe dinamismo e agilidade para a trama, por outro acabou por deixar os telespectadores que tinham certo grau de afinidade com os personagens mortos distantes e irritados com o andamento das histórias. Foi o caso do romance de Bernardo (Gero Pestalozzi) e Laura (Carla Cabral), interrompido por um tiro certeiro e gratuito de Picasso.

Para coroar, Otávio (Felipe Cardoso) incorporou o “cachorro louco” e praticamente dizimou toda a família Aschar no último capítulo. Há de se considerar, porém, uma ousadia a morte de Michelle, alvejado pelo próprio filho. Ao fazer com que o protagonista cometesse um assassinato assim, Lombardi subverteu a lógica do mocinho insosso, mas não deixou que isso o desumanizasse, afinal Carlão o matou para evitar que ele sofresse mais ao ser queimado vivo por Picasso. 

Pecado Mortal foi, ainda, uma novela repleta de cenas de tirar o fôlego. Picasso torturando Carlão, grandes embates entre Patricia e Doroteia, defendidos na base do diálogo, e humor na medida certa _nesse quesito, o elogio vai para Bianca Byington, engraçadíssima com sua Ilana Vergueiro. Falando em fôlego, foi sensacional o embate final de Picasso e Carlão quando, finalmente, foi revelada a homossexualidade enrustida do vilão.

E em tempos de vilões regenerados, chamou a atenção a transgressão da mocinha. Patrícia passou a novela inteira apegada à letra da lei e, no último capítulo, jogou tudo para o alto, armou a fuga da família e do marido que estava preso e foi viver uma nova vida em uma ilha do Pacífico.

Embora tenha tido uma audiência desastrosa, Pecado Mortal foi uma prova de que qualidade não tem absolutamente nada a ver com ibope. Sustenta o título de melhor novela de 2013/14 e figura na lista das melhores produções da Record.

Audiência

O último capítulo de Pecado Mortal teve média de 7,7 pontos e picos de 10,0 na Grande São Paulo, segundo dados preliminares do Ibope na Grande São Paulo. No confronto, ficou em segundo lugar, à frente do SBT (6,2), e atrás da Globo (25,0).

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