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Análise | Teledramaturgia

Ambientada há 200 anos, Liberdade, Liberdade tem mulheres do século 21

Artur Meninea/Globo

Bruno Ferrari e Andreia Horta em cena de Liberdade, Liberdade: mocinha do século 21 - Artur Meninea/Globo

Bruno Ferrari e Andreia Horta em cena de Liberdade, Liberdade: mocinha do século 21

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 18/6/2016 - 8h20

Apesar de se passar no início do século 19, Liberdade, Liberdade, a novela das onze da Globo, trata de temas bastante atuais para a sociedade brasileira. A corrupção da Coroa Portuguesa, o abuso de poder, o feminismo e o ideal de liberdade sexual que são retratados no folhetim encontram eco no Brasil de 2016 através de personagens fortes que contribuem para que a narrativa flua sem tropeços.

Ambientada em uma época em que a repreensão feminina era bastante evidente, Liberdade, Liberdade traz como mocinha Joaquina (Andreia Horta), filha de Tiradentes (Thiago Lacerda), que volta ao Brasil depois de ter sido criada em Portugal. Na bagagem, ela carrega o sonho libertário do pai. Ao conviver de perto com as agruras do Brasil de então, sua vontade de justiça e igualdade só faz crescer. Joaquina em momento algum se sente inferiorizada por ser mulher; pelo contrário, é destemida, como pede a cartilha das heroínas de novela.

Guardadas as devidas proporções, ela é a representação do feminismo, com sua postura altiva e por vezes topetuda. A protagonista de Liberdade, Liberdade ganhou mais força ao se separar de Rubião (Mateus Solano), o intendente corrupto da Coroa _qualquer semelhança com os políticos de hoje em dia não é mera coincidência. Os ideais contrários dos dois começam a ficar evidentes, e o contraponto entre eles equilibra a narrativa da novela, num duelo de forças interessante.

Joaquina subverte, ainda, as convenções sociais de então, como a preservação da virgindade, ao entregar-se ao amor de Xavier (Bruno Ferrari), em um tempo em que a ideia de pureza da mulher era mais do que valorizada. Outra que segue nessa linha é Virgínia (Lilia Cabral), a prostituta de Vila Rica, perseguida por Rubião e que, secretamente, conspira contra os mandos e desmandos de Portugal. O arquétipo da prostituta reforça ainda mais o ideal de liberdade sexual que a novela traz nas entrelinhas, embora Liberdade, Liberdade, em termos de ousadia, fique atrás de Verdades Secretas (2015).

Até mesmo a vilã Branca (Nathalia Dill) já não é mais virgem, apesar de manter o ranço conservador da época. Branca segue a linha do humor e por ela diz inúmeras barbaridades. É racista, maledicente e homofóbica, julga e condena sem conhecer, tal qual inúmeros comentários preconceituosos que encontramos na internet. Branca é o melhor desempenho de Nathalia Dill na televisão até agora. A atriz mostrou segurança para se jogar nos devaneios da menina voluntariosa e não caiu no exagero.

Há, ainda, o romance gay entre André (Caio Blat) e Tolentino (Ricardo Pereira). A aceitação da relação dos dois pela sociedade daquela época é praticamente a mesma da aceitação para exibir um beijo entre dois homens na televisão hoje em dia: quase nula.

O único fato estranho em relação a Liberdade, Liberdade é o de que a novela não tem um personagem negro forte o bastante que sirva para combater a escravidão. Há, claro, a figura de Bertoleza (Sheron Menezes), a irmã de criação de Joaquina, e embora tenha tido um entrecho interessante com seu sequestro, a ponto de quase ser escravizada, ela serve mais como orelha da protagonista.

Depois de um começo didático, Liberdade, Liberdade imprimiu fluidez à narrativa, que segue bastante atual, apesar da diferença de tempos. É pena que a repercussão da trama não seja um estouro. 


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