Vai na Fé consagra talento de Renata Sorrah com ladra de personagens

Desde que viveu a icônica Nazaré Tedesco, vilã de Senhora do Destino (2004), Renata Sorrah teve inúmeros papéis na televisão. Mas só agora, quase 20 anos depois, ela foi presenteada novamente com uma personagem à altura de seu talento. Com a Wilma, de Vai na Fé, Renata rouba a cena na novela das sete e faz a alegria dos noveleiros de plantão com as inúmeras referências à teledramaturgia.

No multiverso de Vai na Fé, Wilma Campos já roubou dois papéis que na realidade foram de Susana Vieira: Nice, da primeira versão de Anjo Mau (1976), e Branca Letícia, de Por Amor (1998) --desta última, inclusive, herdou o hábito de estar sempre com uma taça de martini na mão, detalhe que dá ainda mais graça à composição da personagem. 

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Apesar do relativo sucesso na TV, Wilma vive se queixando de personagens que teriam tudo para serem seus, mas que acabaram nas mãos de outras atrizes. Os casos mais notórios são Jade, de O Clone (2001), e Nina, de Avenida Brasil (2012). Apesar de não ter dado vida às mocinhas, ela não deixa de soltar frases que adoraria ter dito caso tivesse conquistado os papéis de Giovanna Antonelli e Débora Falabella. 

Quando conheceu Lumiar (Carolina Dieckmann), Wilma deixou transparecer um ar de confusão com a familiaridade que a advogada transmitia a ela. O noveleiro mais atento logo pegou a brincadeira, em referência à atuação de Renata e Carolina como Nazaré e Isabel, na trama de Aguinaldo Silva.

As piadas com o universo da teledramaturgia trazem ainda mais leveza ao núcleo no qual Renata Sorrah está inserida. Atriz premiada --inclusive com um Molière, como ela já fez questão de ressaltar-- Wilma vive hoje em função da carreira do filho, Lui Lorenzo (José Loreto). O ostracismo em que a personagem se encontra dá a ela um certo ressentimento, potencializando sua megera interior. 

O texto ferino, aliás, é outro ponto de destaque. Wilma diz verdades com uma pitada generosa de acidez, mas em momento algum Renata deixa de lado o tom cômico que a personagem pede. A ex-atriz tem uma forte pegada teatral e, nas mãos de qualquer outra intérprete, poderia facilmente ficar caricata. Visivelmente divertindo-se em cena, Renata consegue transmitir verdade e emoção, além de arrancar gargalhadas de quem assiste.

Repleta de camadas, Wilma pode até ser implacável como chefe e questionável como mãe mas, se lhe faltam carinho e ternura, sobra talento cênico. A sequência em que ela e Fábio Lorenzo (Zécarlos Machado), o grande amor de sua vida, transformam um restaurante sem luz num palco foi uma das coisas mais bonitas apresentadas na história de Rosane Svartman. 

Sem figurino nem maquiagem, completamente na base do improviso, como só os grande atores sabem fazer, Wilma e Fábio deram voz a ilustres passagens teatrais e literárias, o que só engrandeceu a qualidade do texto apresentado na novela.

Apesar de coadjuvante, Wilma é a prova perfeita da máxima que diz não haver papéis pequenos nas mãos de grandes intérpretes. E, com ela, Renata Sorrah marca mais um ponto em sua carreira. Não seria espanto nenhum se ganhasse um Troféu Imprensa no próximo ano.   

Vai na Fé ocupa a faixa das 19h da Globo. Ela será substituída por Fuzuê, de autoria de Gustavo Reiz. O folhetim contará com Giovana Cordeiro e Marina Ruy Barbosa nos papéis principais.

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