GLADIADORES DO LEBLON
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Helena (Vera Fischer) dirige enquanto fala no celular com sua empregada em Laços de Família
DANIEL FARAD
Publicado em 8/9/2020 - 16h31
A nostalgia não foi o único sentimento que invadiu o público na última segunda (7) com os primeiros acordes de Quiet Night of Quiet Stars na reestreia de Laços de Família (2000) no Vale a Pena Ver de Novo. O comportamento dos personagens chocou o público como retrato de um Brasil quase "selvagem" de vinte anos atrás.
A própria protagonista Helena (Vera Fischer) seria apedrejada nas redes sociais hoje em dia por dirigir ao celular ou mesmo se esquecer de colocar o cinto de segurança. As duas leis eram novidades para os noveleiros dos anos 2000, promulgadas apenas três anos antes em 1997.
Edu (Reynaldo Gianecchini) também chamou a atenção por circular por aí em seu conversível com o aparelho celular imenso para os padrões atuais. Em 2020, os dois levariam sete pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e uma multa de R$ 293,47 --um mau-exemplo impensável até para os piores vilões nos folhetins contemporâneos.
A beleza de Vera Fischer, então com 49 anos, surpreendeu os mais jovens que a conhecem apenas das dicas audiovisuais no Twitter ou como a coadjuvante Carmo de Espelho da Vida (2018). De biquíni, ela recebeu um assobio na porta da livraria de Miguel (Tony Ramos). Em vez de um elogio, o gesto soou como assédio para os mais novos.
Por outro lado, o folhetim de Manoel Carlos mostrou que o brasileiro se tornou mais careta em alguns costumes. A mãe de Camila (Carolina Dieckmann) e a amiga Ivete (Soraya Ravenle) planejavam com naturalidade fazer topless na praia da Barra, na zona oeste do Rio de Janeiro, uma tendência que voltou a virar tabu com o passar de duas décadas.
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Zilda (Thalma de Freitas) serve Helena (Vera Fischer) e a filha Camila (Carolina Dieckmann)
A produção ainda causou desconforto ao escancarar a visível desigualdade na distribuição de renda que caracterizou a economia brasileira durante boa parte dos anos 1990, como apontam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelados pela Folha de S. Paulo em 1999.
Segundo a publicação, os 50% mais pobres da população ficaram com 14% do dinheiro do país enquanto o 1% mais rico deteve 13% da riqueza gerada. As pessoas estranharam quando Miguel falou de ir à Europa como alguém que vai à padaria, algo ainda mais estranho após a ascensão de uma nova classe média a partir da segunda metade dos anos 2000.
Nos últimos anos, a própria Globo se esforçou para tirar os protagonistas de suas novelas das classes A e B, moradores do Leblon, e levar o foco para a nova classe C --os moradores dos subúrbios e periferias que enfim se viram representados com Avenida Brasil (2012).
Laços de Família representa uma época em que esses brasileiros eram sub-representados em papéis como Zilda (Thalma de Freitas). A empregada doméstica não tinha uma história própria e vivia apenas como serviçal de Helena.
"A própria teledramaturgia já pegou um caminho em que é muito difícil nos retratar sem falar dessas outras camadas sociais que vão para além do Leblon. É muito difícil não retratar essa sociedade como um todo em suas desigualdades, a gente começou a perceber e discutir os nossos próprios privilégios", avalia Marieta Severo, intérprete da milionária Alma.
Veja a repercussão da estreia nas redes sociais:
Primeira problematização de Laços de Família e 100% das novelas do Maneco, todo mundo que dirige falando no celular, erradíssimo
— Mary Jo #Somos70porCento ♓♀️ (@marihcarluccio) September 7, 2020
Surreal ver Laços de Família com as pessoas conversando no celular enquanto dirige sem cinto... E de imaginar que essas coisas um dia não foram proibidas por lei... pqp
— Gustavo ✨ #FREEBRITNEY 🦋 (@ribeirogstv) September 7, 2020
Eu amo que em Laços de Família era de boa Helena dirigir sem cinto de segurança e falando no celular
— Fi da Disgraça (@fidadisgraca) September 7, 2020
topless na praia, dirigir sem cinto de segurança e falando no celular e debochada qnd tá errada: a helena da vera fisher é totalmente v1d4 l0k4 em laços de família (dá vontade né helena da christiane torloni)
— Natália Barão (@natbarao) September 7, 2020
Tava ansiosa pra rever Laços de Família, mas que doido analisar agora as bizarrices de construção dos personagens e atuações (pior que Fina Estampa kk). A Helena, típica dondoca carioca, cotidiano vidinha Leblon, esteriótipo da empregada negra... que loucura 1999
— Carol Carolina (@carolxmatos) September 7, 2020
laços de famìlia represents more brazil than soccer and samba, né?
— f f frustration (@pocborgue) September 7, 2020
white people comendo frutas, empregada invisìvel, livraria do leblon, dinheiro, gianecchini atuando mal e vera fischer gata.
Assistindo laços de família. Aquela novela que até a pessoa mais pobre é mais rica que você
— PQ NÃO PAGA UMA TERAPIA PRO SEU FILHO? (@glaudemias) September 7, 2020
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