MALANDRA DE FÉ
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Olivia Araujo interpreta Maria Navalha, a misteriosa mãe de Luna (Giovana Cordeiro) em Fuzuê
Mulher de temperamento forte, conhecida pela malandragem e pela vida noturna na Lapa. Poderíamos estar falando tanto de Maria Navalha (Olivia Araujo), personagem de Fuzuê, quanto de outra homônima, mais antiga e bem mais sagrada. Entidade das religiões de matriz africana --umbanda, candomblé e quimbanda--, essa Maria Navalha teve uma vida carnal bem parecida com sua contraparte da ficção, mas foi depois da morte que seu nome atingiu um novo patamar.
É assim que narram os pais e mães de santo, em seus terreiros, canais no YouTube e pontos --cânticos sagrados que são, muitas vezes, gravados e distribuídos em plataformas digitais. Um dos mais famosos relacionados à entidade deixa clara a semelhança com a personagem da novela: "Eu nasci na rua, eu cresci na Lapa; trabalhei de bar em bar. Nunca ganhei nada de graça; me chamo Maria Navalha!".
O termo engloba não apenas uma única pessoa em vida, mas um grupo de mulheres que compartilham as dificuldades da vida boêmia da Lapa. Ou seja: são várias lendas de Maria Navalha, assim como várias "almas" assumem essa identidade nos terreiros.
Uma delas é a de uma mulher que, abandonada pelos pais quando criança, teve de percorrer o caminho da prostituição. Um dia, mais velha, foi atacada e hostilizada por um grupo de homens. Eles a jogaram no chão e estavam prestes a molestá-la quando foram atingidos em cheio por um clarão, que veio e voltou do nada. Tratava-se de um homem vestido com um terno branco e um chapéu: Zé Pelintra, outra entidade, que forneceu à protegida uma navalha para se defender. Não por acaso, Maria é definida como "mulher de seu Zé" no mesmo ponto citado antes.
Em outra história, ela foi criada por um padrasto abusivo num morro carioca, mas fugiu com a irmã e acabou nas ruas da Lapa. Numa terceira, ela fugiu de uma família abusiva, mas oriunda da Bahia. Se as origens diferem, seu renascimento como entidade também. Alguns contos dizem que, no momento em que ela encontrou Zé Pelintra, já estava morta. Aliás, há vários tipos de mortes: degolada por um inimigo, esfaqueada numa briga ou vítima de algum tipo de ataque cruel.
Embora cabulosas, essas histórias são comuns para entidades desse gênero. O fundamento é que elas voltam à Terra, através dos médiuns, justamente para que possam ajudar outras pessoas e evoluir enquanto espíritos. Até porque a existência terrena dos malandros --linha da qual Maria Navalha faz parte-- normalmente é cheia de defeitos que devem ser reconhecidos e reparados após a morte.
Em boa parte dos contos, a mulher que se tornaria entidade é descrita como alguém de temperamento explosivo, que não media esforços para comprar uma briga ou arrumar uma confusão. Um cântico diz até que ela "bebia como um marinheiro, fumava como um estivador e brigava como um leão de chácara, mas sem perder a feminilidade".
A personagem de Fuzuê, uma "cantora conhecida e admirada na Lapa", segue a mesma linha. Ela é descrita como uma mulher emocionalmente imprevisível e que oscila entre a euforia e a depressão. Cleptomaníaca, ela levava para casa objetos roubados, além de enfrentar problemas com álcool e medicamentos.
Mas, se nas lendas religiosas ela realmente usava a navalha como instrumento, na novela o apelido veio quase que por acaso. De um lado, Rejane (Walkiria Ribeiro), inimiga número um da mulher, inventou que a rival carregava a tal navalha como fofoca maldosa, tentando aumentar a fama de barraqueira de Maria e impedi-la de ser contratada para mais shows.
Por outro lado, a própria Luna (Giovana Cordeiro) já disse que a mãe usava, sim, o instrumento. "Ela ganhou esse apelido porque andava com uma navalha dentro da roupa para se proteger de noite, mas... Minha mãe nunca foi uma pessoa violenta, só usava a fama como defesa mesmo", explicou ela para Nero (Edson Celulari).
O fato é que o nome contribui para a áurea de mistério que cerca a ex-cantora, até então desaparecida na novela. Afinal, foi ela quem deu o pontapé na história. Luna só se enveredou na busca pelo tesouro da Fuzuê depois de descobrir que a mãe sumiu por conta dele. E é por causa dessa riqueza escondida que ela encontra Miguel (Nicolas Prattes), Preciosa (Marina Ruy Barbosa) e outros personagens da história.
Não por acaso, a umbanda vê a navalha como objeto capaz de "cortar, separar e apartar o mal que está fora e, principalmente, dentro das pessoas". É como separar joio do trigo, um processo nítido em Fuzuê. Resta saber se a personagem da ficção levará o mal embora ou o incentivará ainda mais quando reaparecer no folhetim.
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