Por que Mar do Sertão pulou dez anos de história? Diretor da trama explica

Atual trama das seis da Globo, Mar do Sertão conquistou os telespectadores e aumentou os números de audiência da faixa a ponto de a emissora mandar esticar a novela. No entanto, o enredo avançou dez anos do dia para a noite com o intuito de mostrar a volta de Zé Paulino/José (Sergio Guizé) a Canta Pedra. Allan Fiterman, diretor artístico do folhetim, explica o motivo dessa viagem no tempo.

"Foi uma decisão do autor [Mario Teixeira] pular aqueles dez anos e não escrever essa parte. Então, como ele pulou aquela fase, aquilo era uma prévia do que a história ia acontecer em 2022, por isso ele fez isso. Acho que ele pulou a história para que a gente pudesse contar daqui para a frente, que é o que interessava para ele", comenta Fiterman.

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Nos bastidores da 10ª edição do Festival do Clube de Criação, o diretor conversa com exclusividade ao Notícias da TV e conta que recebeu algumas críticas do público por causa dessa decisão de Teixeira.

"Já escutei muito: 'Ah, correu tanto para agora ficar no chove e não molha'. Tem muita história por aí! Como a novela é lúdica, tem muito espaço para comédia, ele foi apresentando os personagens secundários aos poucos. A novela não está baseada em cima dos três protagonistas, ela está fluindo entre as histórias paralelas", avisa.

O cineasta começou a carreira nos Estados Unidos, e a novela em exibição na Globo é a segunda trama que ele assina como diretor artístico, posto mais alto dessa hierarquia. Na pandemia da Covid-19, ele estreou na função em Quanto Mais Vida, Melhor! (2021).

"Por um lado, foi bom porque tive um tempo grande de concentração na novela. Tive quase um ano com as paradas de pré-produção, e também gravamos por um período maior. Normalmente, gravamos uma novela das seis ou das sete em seis meses, enquanto ela está no ar, e três meses antes. São nove meses de gravação. Em Quanto Mais Vida, Melhor!, gravamos durante um ano porque os ritmos eram muito mais lentos", recorda.

FÁBIO ROCHA/GLOBO

Mário Teixeira e Allan Fiterman

Mas afinal de contas, o que faz um diretor artístico? Para quem acompanha o universo das séries, o posto de showrunner é o que mais se aproxima dessa função brasileira, com algumas exceções.

"Nos Estados Unidos, o showrunner também desenvolve o conteúdo, como autor e roteirista, o que não é o meu caso. Mas sim para todo o resto! Conceituação da novela, escalação de elenco, de equipe, formato e gestão de trabalho, formatação de roteiro", destaca.

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"Em Mar do Sertão, a gente faz exatamente como era antigamente. Começamos a gravar a novela três meses antes, mas com uma viagem, que é uma produtividade mais baixa. Aí voltamos para os estúdios, construímos a cidade cenográfica e, no último mês, fazemos os cenários", detalha Fiterman.

Com esse material em mãos, cerca de 20 capítulos brutos de frente, começa a corrida das gravações nos estúdios. Isso porque não necessariamente esses vídeos correspondem aos primeiros 20 capítulos. Por exemplo, na atual novela, ele tinha apenas oito capítulos fechados antes de entrar no modo de produção industrial, com gravações de segunda a sábado.

"Toda semana você tem que correr atrás do prejuízo, porque a novela está indo ao ar! No começo, você tem três meses para estabelecer conceito da novela, fazer as cenas lindas, ter mais cuidado. Quando está no ar, o cuidado continua, mas tem que fazer muito mais rápido", afirma.

Elétrico, Fiterman não para nem para respirar ao citar outro quesito importante da trama: a representatividade. "É bonito, gostoso de ver, todos os tipos de rostos, gente na novela", comemora.

A gente faz novela para o público, não faço para me agradar. Então, quando penso em uma trilha sonora, no tipo de cena, no elenco, é no que o público gosta. E é isso que está acontecendo. Quem não vê a novela às 18h, vai no Globoplay, estão adorando a história do repente, e isso me dá uma felicidade porque o meu maior prazer é contar história.

Um dos detalhes de Mar do Sertão que logo conquistou o coração do público foi a dupla de repentistas Juzé e Lukete, que canta as cenas dos próximos capítulos. Porém, o que poucos sabem é que essa ideia surgiu inicialmente para cobrir uma lacuna da trama.

Quando Fiterman foi montar os capítulos com base no roteiro de Teixeira, faltavam cerca de dois minutos no tempo de tela da novela. Para não fazer com que o dramaturgo reescrevesse ou colocasse cacos no texto, veio a ideia de implementar as "cenas do próximo capítulo" e, a partir daí, os repentistas foram adicionados ao elenco.

"No Nordeste, estamos com 30 pontos de audiência. No Brasil inteiro, está indo muito bem, e a novela está sendo reconhecida porque tem uma coisa regionalista. Enquanto mais específico você é, mais você consegue abranger e se identificar. Tentamos atingir a alma das pessoas, eu estou tentando. Não tem fórmula para dar certo, mas a gente tenta o melhor, e estou tentando todos os dias", finaliza o diretor.