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ESTRATÉGIA

Por que casal gay é 'quadradão' quando Terra e Paixão tem até dominatrix?

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Foto de Diego Martins como Kelvin com o braço apoiado no ombro de Amaury Lorenzo, o Ramiro, em Terra e Paixão

Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo) em Terra e Paixão: eles caíram no gosto popular

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 5/1/2024 - 21h00

Um detalhe em uma das cenas mais dramáticas de Kelvin (Diego Martins) deixa bem clara a estratégia de Walcyr Carrasco e Thelma Guedes para evitar rejeição aos casais LGBTQIA+ de Terra e Paixão. Ao encontrar Ramiro (Amaury Lorenzo) à beira da morte, o jovem implora para que ele lute pela vida --já que eles ainda teriam que "se casar e ter filhos".

Essa escolha de palavras não é fortuita, já que os autores construíram um relacionamento LGBTQIA+ marcado pela heteronormatividade. O conto de fadas de Kelvin e Ramiro acompanha praticamente todas as imposições sociais e comportamentos esperados em relações heterossexuais.

Uma das maneiras de evitar a rejeição do público mais conservador --que cada vez mais cresce com o envelhecimento do telespectador na TV aberta-- é justamente deixar esse casal mais "quadradão".

Kelvin e Ramiro parecem até deslocados afetivamente do restante dos casais da novela, que não pensam duas vezes antes de transar à beira do rio ou dentro de um paiol. A história deles é construída quase como um folhetim dos século 18, em que parágrafos e mais parágrafos preparavam os leitores para um mero beijo.

O público igualmente foi "cozinhado" capítulo por capítulo até que os personagens pudessem realmente se beijar de verdade. Um cuidado que a Globo redobrou desde que um simples selinho entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg causou uma crise que culminou na audiência desastrosa de Babilônia (2015).

Carrasco e Thelma foram bem mais cautelosos, costurando pouco a pouco a narrativa de Kelvin e Ramiro. O peão, por exemplo, sempre deixou claro o ciúme que sentia do "amigo" --reforçando uma relação monogâmica, cujo objetivo é um núcleo familiar voltado para ter filhos.

Obviamente, existem pessoas LGBTQIA+ que optam pela monogamia e sonham em ter filhos. A questão não são os desejos de cada personagem, que são válidos e narrativamente justificáveis, mas a escolha por esse perfil para evitar --ou até agradar a-- um público com a cabeça mais fechada.

Uma novela conservadora?

A novela das nove não é tão conservadora quanto reclamam nas redes sociais, até porque abusa de cenas sensuais, corpos nus e até é "moderninha" em relação à vida sexual de seus personagens. Quer dizer, desde que eles sejam héteros.

Anely (Tatá Werneck), por exemplo, até já propôs um trisal a Luigi (Rainer Cadete) e Natercinho (Daniel Rocha). E Gladys (Leona Cavalli) queria se lançar como uma das "rainhas delícias" de Tadeu (Cláudio Gabriel) para realizar as suas fantasias mais voyeuristas.

Carrasco nunca teve pudores para construir teias de relações fora desta heteronormatividade. Verdades Secretas 2 (2021) trouxe até um garoto de programa que se relacionava com toda uma família –pai, mãe e até os filhos.

O autor, porém, sabe muito bem que o público que assiste a Terra e Paixão é bem diferente daquele que procura por um folhetim abertamente adulto no streaming.

Kelvin e Ramiro deixam claro que um dos próximos desafios para roteiristas é encontrar uma solução para lidar com essa guinada conservadora, sem se render a estratégias igualmente conservadoras como a heteronormatividade compulsória a casais LGBTQIA+.


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