Para ator, Segundo Sol mostra as entranhas do Brasil: 'Negro criado na senzala'

Fabrício Boliveira e Caco Ciocler são filhos da mesma mãe e do mesmo pai em Segundo Sol. O filho branco foi adotado por Severo (Odilon Wagner) e criado como herdeiro legítimo. Já o negro só descobrirá que é filho do patrão após passar a vida servindo sua família. Ele é o motorista. Para o ator, a novela abordará as diferenças de classes e o racismo, cutucando a ferida da escravidão. "Negro criado na senzala", diz.

Baiano, o intérprete de Roberval evita a polêmica da falta de atores negros na trama. Declara somente que o debate imposto à Globo é inteligente. "Estão querendo falar sobre representação, e eu acho que isso pega todo mundo."

Ele conta que não é contratado fixo da emissora. Foi convidado para fazer a novela em outubro do ano passado, antes mesmo de lançarem a minissérie Treze Dias Longe do Sol, na qual fez o bombeiro Marco Antônio.

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Na novela das nove, seu personagem descobrirá no capítulo de segunda (21) que a sua mãe, Zefa (Claudia Di Moura), foi o grande amor de Severo, e que ele e Edgar (Caco Ciocler) nasceram dessa relação de patrão e empregada.

Edgar foi adotado pelo pai e criado por ele e sua mulher, Claudine (Cássia Kis), sem saber sua verdadeira origem. O segredo virá à tona porque a personagem de Cássia Kis resolverá revelá-lo antes de morrer em Segundo Sol.

Edgar (Caco Ciocler) e Roberval são filhos do mesmo pai e da mesma mãe; negro foi rejeitado 

Esse drama todo mostrará também como essa mulher, negra e empregada, foi submissa a vida toda. "A gente toca em coisas muito delicadas socialmente, que é o trabalho servil. A nossa sociedade, por ter vindo de uma escravidão ainda recente, ficou com isso muito impregnado. A novela trata dessas entranhas", diz o ator.

Vilania e vingança
Roberval vai se revoltar com a rejeição do pai e pelo fato de a mãe ter guardado esse segredo dele, o criando na cozinha daquela família rica. Ele procurará outro caminho e conhecerá Laureta (Adriana Esteves). Ela será sua mestra em dar golpes. Após a passagem de 18 anos na história, o filho de Zefa voltará poderoso.

Tudo indica que ele se tornará um vilão, com desejo de vingança. Porém, o ator despista. "Eu acho que vai ficar essa dualidade, o que é interessante. A novela fala disso também, dos traumas, de como eles entram na gente e como a gente lida com eles quase 20 anos depois. Talvez a resposta dele seja a vingança, mas até para a gente [os atores] é um mistério", fala.

Boliveira tem 36 anos, nasceu em Salvador e deixou a Bahia com 13 anos. Para ele, a novela ser ambientada na capital baiana vai além do sotaque. Traz a oportunidade de mostrar uma cultura muito forte.

"Poder dialogar com meu povo é uma honra. Salvador tem um jeito diferente de lidar com as burocracias da vida, não tem certo e errado. Tem uma relação horizontal, uma paciência com o outro."