ENTREVISTA
SERGIO BAIA/DIVULGAÇÃO
Olivia Araujo interpreta Maria Navalha em Fuzuê, novela das sete escrita pelo autor Gustavo Reiz
Se nos bastidores de Fuzuê a correria é grande para alterar roteiros, corrigir tramas e mudar rumos dos personagens para tentar fisgar o público, na frente das câmeras cabe aos atores continuar com o show. Olivia Araujo, que dá vida a Maria Navalha, uma das protagonistas da história de Gustavo Reiz, enxerga com resiliência os tropeços que uma novela na TV aberta precisa enfrentar.
"O público tem sua voz dentro do trabalho, a novela começa sendo escrita por uma pessoa e termina sendo conduzida por milhões de espectadores. Nós, atores, temos que estar abertos a essa mudança, faz parte do jogo", opina a atriz em entrevista ao Notícias da TV.
A audiência de Fuzuê acendeu o alerta vermelho na Globo desde que percebeu-se que o mistério do tesouro da Dama de Ouro (Zezé Motta) não caiu no gosto popular --a novela tem sofrido para atingir os 20 pontos de audiência. Ricardo Linhares foi chamado para supervisionar o roteiro de Gustavo Reiz, que faz sua estreia na Globo já em apuros.
Olivia, no entanto, tenta tirar o peso da operação de salvamento do folhetim. Para ela, os atores precisam estar preparados para as mudanças comuns nesse tipo de produto audiovisual.
"Obra aberta é isso, tem pares românticos que foram pensados, mas no ar o público sente de outro jeito, tem papéis menores que ganham força, maiores que perdem. E eu considero isso o mais legal do trabalho: você começa e não tem ideia de como vai terminar", pondera.
A própria entrada de Maria Navalha tinha a função de mudar os rumos da história e, quem sabe, atrair mais público. Vista apenas em flashbacks nos primeiros episódios, a mãe de Luna (Giovana Cordeiro) só apareceu para valer no capítulo 40, quando boa parte da trama já havia sido contada.
"Eu vivi duas estreias: a da novela e do personagem. Gerou em mim uma expectativa de como as pessoas receberiam essa mulher que estava sendo retratada pelo olhar dos outros personagens. Precisei lidar com a minha ansiedade", admite a atriz.
O olhar dos outros personagens sobre Maria Navalha refletia justamente o pior do estereótipo de uma mãe solo. A personalidade controversa da cantora era encarada com repulsa por muitos, que a consideravam uma mulher inferior por fugir dos padrões e não cumprir exatamente o que a sociedade esperava dela. Para Olivia, entender essa personalidade diversa foi crucial na construção da personagem:
Meu maior desafio foi não julgar, pensar de forma mais ampla. Vivemos em uma sociedade cheia de regras, de conceitos que, por mais que eu, Olivia, saiba disso e até pela minha profissão sofra com esses conceitos, eles estão muito arraigados. E Maria Navalha é humana demais pra essa sociedade que enquadra as pessoas, ou elas são boas ou são ruins.
"Ela é uma boa pessoa que vive de acordo com os sentimentos dela e paga o preço pelos enganos que comete, mas não se esconde atrás de nada. Ela assume quem ela é. Pra sociedade, alguém que se assume assim será alvo de críticas. Mesmo ela demonstrando o tempo todo o amor que ela tem pela filha, tudo que faz por ela, ainda assim duvidam dela. Porque as atitudes delas não são bem-vistas pelas pessoas", completa.
Entre os personagens, as críticas são duras, mas o público que acompanha a história tem se conectado com a complexidade de Maria Navalha. A repercussão, de acordo com a intérprete, é positiva.
"Nas ruas, as pessoas entendem a Maria Navalha, ela querer lutar pelo direito de ser reconhecida como descendente da Dama de Ouro, de querer dar pra filha essa independência. Entendem a dor da rejeição que ela e a filha sofreram pelo homem que ela amava. Ouvi muitas mulheres se identificando com ela. Tem sido muito especial. Apesar de não serem o mote da novela, essas questões estão presentes no dia a dia de muitas famílias", conta.
O protagonismo da mãe solo e da filha na história da novela das sete é um avanço na visão de Olivia Araujo. "Pra uma sociedade que ainda respira o machismo, é muita coisa. Maria Navalha é uma mulher que, quando viu que o amor foi posto em dúvida, levantou-se e deu pra filha todo o amor que ela podia, pra não depender daquele homem pra nada", discorre.
"A Luna é uma mulher que vai em busca do que almeja na vida com independência e não se lamenta. Sabe da dureza, às vezes se entristece, mas segue, e isso, no meu ponto de vista, é muito importante. E eu acho que estamos começando a olhar com lentes melhores a nossa sociedade, vendo que somos diversos. Eu acredito que essas mudanças vêm alinhadas com o que estamos percebendo nos filmes e séries estrangeiras. A pluralidade de pessoas, de gênero, de etnias."
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