Mocinha exagerada causou trauma na carreira de Claudia Raia: 'Fui malhadíssima'

Há exatos 35 anos, a novela Sassaricando estreava na faixa das 18h da Globo. Exibido entre 9 de novembro de 1987 e 11 de junho de 1988, o folhetim de Silvio de Abreu trazia Claudia Raia no papel da feirante Tancinha. Mas o jeito exagerado e o sotaque da mocinha desagradaram o público na época e quase traumatizaram a atriz. "Fui malhadíssima no início", desabafou a artista, que conseguiu reverter a rejeição no decorrer da história.

Inspirada em uma vizinha do autor, a personagem tinha um sotaque paulistano bem marcado, mas também com alguns traços de italiano. Claudia precisou fazer aulas de prosódia para interpretar a jovem, que sempre falava algumas palavras erradas.

A atriz ainda inventou um vocabulário próprio para Tancinha e tinha de manter a pronúncia errada até o fim da novela. O bordão "me tô divididinha", usado pela feirante quando estava em dúvida para escolher entre Apolo (Alexandre Frota) e Beto (Marcos Frota), caiu na boca do povo.

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"Foi um dos personagens de maior sucesso que eu fiz. Fui malhadíssima no início. Recebemos todos os torpedos pelas características do personagem. E Silvio disse: 'Não mude uma vírgula'. A gente queria que fosse uma coisa muito bonitinha essa Tancinha", contou Claudia ao site Memória Globo.

"Além de ela ter esse sotaque, ela era superingênua. Uma mulherona, meio Sofia Loren, voluptuosa, mas uma fofa, frágil e inocente. Foi um personagem lindo que o Silvio escreveu para mim. Era um sucesso estrondoso. A Tancinha foi a grande explosão da minha carreira", afirmou a artista, que completou:

A novela toda foi um aprendizado enorme. Aprendi que a gente não pode levar a sério a fama. O que conta é o trabalho que a gente realiza, então, é sempre importante ter os dois pés bem fincados no chão para que a fama não suba à cabeça. Eu sempre fui uma operária da arte, muito disciplinada, nada deslumbrada. Tancinha foi a prova de fogo para isso. Entendi claramente que meu caminho era continuar me dedicando, indo atrás das minhas personagens, e que o sucesso e a fama eram uma consequência do trabalho bem feito, da dedicação.

Os sassaricos de Aparício Varela

A trama principal da novela girava em torno de Aparício Varela (Paulo Autran), que abriu mão de seu grande amor para subir na vida casando com a milionária Teodora Abdala (Jandira Martini). Apesar do luxo, ele acaba não encontrando a felicidade que esperava --até porque precisava se submeter aos caprichos da mulher.

Tudo mudou quando a herdeira da Tecelagem Abdala morreu em um acidente. Aparício, então, decidiu recuperar o tempo perdido e começou a sassaricar, namorando três amigas ao mesmo tempo: a atriz Leonora (Irene Ravache), a estilista Rebeca (Tônia Carrero) e a dona de casa Penélope (Eva Wilma).

Silvio de Abreu revelou que o nome da novela surgiu antes mesmo da sinopse: "Nós estávamos na casa do Daniel Filho, e ele falou assim: 'Tem um título ótimo para uma novela, que ninguém nunca fez: Sassaricando!'. Eu falei: 'Ah, eu quero fazer'. Aí eu fiz a novela usando o núcleo de três mulheres: a Irene Ravache, a Eva Wilma [1933-2021] e a Tônia Carrero [1922-2018], que se encontram num spa e as histórias se entrelaçam. As três acabam querendo o Paulo Autran. Era também uma grande comédia".

O escritor usou como inspiração para a trama o drama real de uma amiga de meia-idade, recém-divorciada e que não sabia como seguir com a vida após a separação.

Sassaricando ocupou a faixa do Vale a Pena Ver de Novo entre julho de 1990 e janeiro de 1991. Também foi reprisada em 2020 no canal Viva. A história ganhou ainda remake escrito por Daniel Ortiz em 2016. Com o título Haja Coração, a novela foi exibida na faixa das 19h na Globo.

Sassaricando e Haja Coração estão disponíveis no catálogo do Globoplay.