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A Regra do Jogo

'Juca é filho de prostituta', diz intérprete de espancador de mulher em novela

João Miguel Jr./TV Globo

Osvaldo Mil nos bastidores de A Regra do Jogo, na qual interpreta o violento Juca - João Miguel Jr./TV Globo

Osvaldo Mil nos bastidores de A Regra do Jogo, na qual interpreta o violento Juca

JANAÍNA NUNES

Publicado em 28/11/2015 - 5h45

Intérprete do espancador de mulher Juca de A Regra do Jogo, o ator Osvaldo Mil, 50 anos, diz que criou o personagem imaginando que ele seria filho de uma prostituta. "Foi uma recomendação da direção [da novela]. Imaginei que Juca é filho de uma prostituta e, por isso, tem esse desprezo pelas mulheres. A mãe o deixava para ficar com os homens. Ao encontrar Domingas [Maeve Jinkings], ele viu nela os mesmos olhos graúdos de sua mãe e passou essa confusão de ódio e amor materno para a companheira", conta. Para o ator, o dono de bar deve ter um fim trágico: ser assassinado pela própria vítima.

Na novela das nove da Globo, Juca vivia espancando e traindo Domingas com outras mulheres. Nesta semana, ele foi expulso de casa pela mulher. Vai tentar voltar nos próximos dias e quase será linchado pelos vizinhos. Mil já gravou a sequência, que lhe deixou várias marcas pelo corpo.

"Saí de lá [Projac, estúdios da Globo] todo arranhado, com alguns roxos no corpo, pois arrombei duas portas, uma delas de vidro, e esmurrei uma parede. Juca foi estrangulado pelos vizinhos e eu estava emprestando o meu corpo. É assim e deve ser assim, com verdade. Atuo com prazer, pois é um privilégio fazer essas loucuras por meio de um personagem, mas é desgastante porque a pulsação dele é forte", afirma.

Mil conta que Juca tem gerado reações adversas no telespectador. "Falam comigo como se falassem com o Juca: 'Para de bater na sua mulher, rapaz! Ela vai te dar o troco, viu?' E depois abrem um sorriso. Acho muito engraçado. Eles odeiam o Juca, mas sabem separar as coisas", diz.

Osvaldo Mil em Paraíso, de 2007: ator sempre fez personagem com cara de mau

O ator acha curioso o fato de muita gente querer acabar com a violência por meio de outra violência, mas compreende a raiva que seu personagem causa nas pessoas. "Parece que só a Justiça não basta. Nós temos, muitas vezes, a vingança como solução dos problemas. Nos agride muito a vitória do mal. Queria que a Domingas matasse o marido para saber que tipo de sentimentos as pessoas teriam. A condenariam ou absolveriam? Temos todos um animal que dominamos ou deixamos solto", argumenta.

Casais como Domingas e Juca não são incomuns no país.  Na opinião do ator, é difícil explicar por qual motivo mulheres como a vendedora de A Regra do Jogo aguentam um homem como Juca por tanto tempo. "Há várias possibilidades. Podem ter assistido cenas semelhantes na infância, podem ter um amor doentio e se permitir essas agressões, medo da solidão, baixo autoestima. Muitas acham que vão transformar o homem", comenta.

Há também o problema secular. "A herança machista e patriarcal, contra a qual lutamos diariamente, faz com que muitos homens vejam as mulheres de uma forma menor e como propriedade do macho.  Apesar de o homem estar aprendendo a lidar de forma mais igual, há o imbecil que tenta se impor pela força", diz.

Para exemplificar, Mil relembra seu personagem no remake de Gabriela (2012). Ele interpretava o delegado Cazuza, que intimava o coronel Jesuíno (José Wilker), por ter matado a mulher ao encontrá-la com o amante. "O delegado saiu escorraçado, pois era permitido ao marido, na época em que a história se passava, lavar sua honra com sangue. Há homens que pensam assim ainda", finaliza.

Além de ator, o baiano Mil é diretor e autor teatral e radialista. Está na TV há 15 anos (sempre Globo). Quase sempre, fez papéis de truculentos (como bandido Homero em Boogie Oogie, de 2014). 

"Minha mãe dizia: 'Osvaldinho, você é uma pessoa tão boa, mas só lhe colocam para fazer esses personagens'. Pois é. Por quê? Será que tenho cara de bandido, cara de cabra macho?", questiona. No teatro, ele faz comédia, musical e bons moços. "Está na hora de fazer comédia na TV também".


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