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MEMÓRIA DA TV

Jegue roubou a cena em O Bem-Amado e ganhou status de estrela na Globo

Reprodução/TV Globo

Jegue é puxado por homem em cena de O Bem-Amado

O jegue Rodrigues se tornou um dos destaques da novela O Bem-Amado, disponível no Globoplay

THELL DE CASTRO

Publicado em 21/2/2021 - 6h45

Em O Bem-Amado, novela produzida em 1973 pela Globo e que recentemente foi disponibilizada no Globoplay, além de Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), Zeca Diabo (Lima Duarte), Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), as irmãs Cajazeiras e outros nomes de peso, um personagem sem falas ganhou importância na história e status de estrela por parte da emissora.

Tratava-se do jegue Rodrigues, que desde o primeiro capítulo conquistou o público da época e, recentemente, voltou a ser muito comentado nas redes sociais por quem está acompanhando a clássica trama de Dias Gomes (1922-1999) no streaming.

O animal era o companheiro inseparável de Nezinho (Wilson Aguiar), outro personagem carismático da produção e que tinha uma característica peculiar: quando estava sóbrio, era um ferrenho defensor de Odorico; quando estava bêbado, virava um de seus maiores adversários.

Aliás, a origem do nome do ilustre personagem é curiosa. Dias Gomes e o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) tinham uma grande rivalidade há anos. Dessa forma, sempre se comentou que o marido de Janete Clair (1925-1983) "homenageou" seu desafeto colocando seu sobrenome no animal.

Com cenas gravadas em Salvador (BA) e em Sepetiba, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), muito antes da criação dos Estúdios Globo, em Jacarepaguá, Rodrigues foi "importado" da capital baiana num caminhão alugado pela Rede Globo.

Inclusive, para o caso de algum acidente ou contratempo durante as gravações, a emissora trouxe da Bahia outro jegue, muito parecido com Rodrigues.

Burro quase virou prefeito

Logo no começo da história, Rodrigues, que trabalha diariamente levando filhos de turistas em seu lombo, quase foi "eleito" prefeito de Sucupira, onde se passa a trama. No duelo entre Odorico e Lulu Gouveia (Lutero Luiz), ele teve centenas de votos.

Em reportagem de 7 de março de 1973, a revista Cartaz destacou o status de astro do jegue. "Fora de Sucupira e das gravações, Rodrigues leva vida mansa. Não se sabe se sente saudade de Salvador e do maravilhoso sol baiano, mas é muito bem tratado", informou a reportagem.

Instalado na praia de Sepetiba, ele passava suas horas livres pastando pelas imediações e comendo milho, capim e rapadura, sob os cuidados de Ary, um senhor local que se encarregou de cuidar do bicho.

"Ele é dotado de uma fidelidade de que poucas pessoas são capazes'', disse Dias Gomes. "Suporta levar os garotos mais chatos para passear em seu lombo, está sempre ao lado de Nezinho nos seus momentos mais difíceis e nos de maior alegria", completou.

"A única razão da vida de Nezinho é seu jegue, seu único amigo. Ele vive do pouco dinheiro que consegue arrecadar levando crianças a passear: um cruzeiro por vez", disse Wilson Aguiar. O ator, que morreu em 1989, em Fortaleza (CE), inclusive voltou a interpretar o mesmo papel na série O Bem-Amado, produzida entre 1980 e 1984 pela Globo.

Na época, a reportagem até brincou que ainda não se sabia o que seria feito de Rodrigues e seu sósia após o término da trama, mas a emissora até estudava uma "renovação" de contrato, para que eles pudessem aparecer em outros programas e novelas --infelizmente, não é possível descobrir se isso ocorreu de fato.


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