CARLOS TAKESHI
Márcio de Souza/TV Globo
Carlos Takeshi em cena de Belíssima com Claudia Raia: na luta por mais espaço para orientais
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 30/7/2018 - 5h49
Atualmente no ar na reprise de Belíssima, Carlos Takeshi é uma presença bissexta na TV: da novela de Silvio de Abreu até hoje, esteve em apenas cinco produções _em uma delas, Haja Coração (2016), fez apenas uma ponta como o Japonês da Federal. O motivo? O preconceito que enfrenta na hora da escalação. "Geralmente, os personagens são uma caricatura de orientais. Eu já recebi textos que vinham com as falas erradas, trocando a letra R pela L. Disso eu não gosto", reclama.
Mesmo durante a novela de 2005, reprisada desde junho no Vale a Pena Ver de Novo, na qual ele interpretou Takae Shigeto, marido da fogosa Safira (Claudia Raia), Takeshi enfrentou alguns problemas com o estereótipo oriental.
"Uma das primeiras coisas que eu perguntei para o Silvio de Abreu foi se o Takae teria sotaque. Afinal, ele era brasileiro, descendente de orientais, não era um japonês que chegou ontem ao Brasil. Só que, no começo, os capítulos chegavam escritos como se ele falasse errado. Aí expliquei o que achava, entrei em um acordo com a direção da novela, com o autor, e consegui fazer sem sotaque", lembra.
Takeshi reconhece que, no início da carreira, até aceitou fazer alguns personagens mais estereotipados. "Principalmente em publicidade, quando existe um tom cômico, o papel sempre puxa para a caricatura. E eu cheguei a fazer alguns, mas depois estava em um ponto que não dava mais. Tudo tem um limite", explica ele.
O ator de 58 anos percebe uma evolução (lenta) na representação de orientais na TV. No ano passado, por exemplo, ele participou de Malhação - Viva a Diferença, e ficou satisfeito. "Era uma família brasileira, que falava português corretamente. E tivemos algo que me parece inédito na dramaturgia, que era uma família inteira de orientais. Pai, mãe, filhas, até a avó. Para a comunidade isso foi muito importante", valoriza.
Takeshi atuou em outra novela que também ficou marcada para os japoneses, mas por motivos negativos: Sol Nascente (2016) foi criticada por escalar o ator Luis Melo para viver um patriarca nipônico _e Giovanna Antonelli para ser sua filha de criação.
"Antes mesmo de a novela estrear, começou um movimento contrário de atores orientais. Eu assinei a carta, mas deixei claro que a gente não devia atacar o Luis ou a Giovanna. Eles são atores e buscam personagens legais", define ele, que depois "virou a casaca" e topou atuar na novela. "Muita gente me criticou, mas é curioso. A gente reclama que tem pouco espaço na TV. Na hora que me chamam, vou recusar?"
Pé de meia com computadores
Carlos Takeshi também é conhecido do público brasileiro pelos mais de dez anos que passou no canal de televendas Shoptime. Ele comandava um programa em que vendia artigos de informática, como computadores, mouses e jogos _inclusive, chegou a conciliar as gravações de Belíssima com o trabalho no canal.
A experiência teve altos e baixos: "Por um lado foi ruim porque esqueceram que eu também era ator. Por outro, apesar de não ter ficado rico, consegui fazer um pé de meia que hoje me permite recusar alguns trabalhos que eu não quero fazer".
Entre os papéis que ele fez com gosto, está o vilão do filme de ação Maverick: Caçada no Brasil, lançado em 2016. "É uma produção totalmente diferente daquelas que o cinema nacional está acostumado a fazer. Tem ação, tiros, foi filmado em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Foi bem divertido", conta.
Ele também estrela o drama Copa 181, que está sendo exibido no circuito de festivais. O longa dirigido por Dannon Lacerda conta a história de um homem casado (vivido por Takeshi) que frequenta uma sauna gay. "Poderia cair no preconceito fácil, de japonês, de homossexual, de gorda, mas não tem isso. É muito sensível", diz.
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