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OPINIÃO

Fuzuê serve salada de clichês e mata a fome do público sem pesar no estômago

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Nero (Edson Celulari) canta e dança em sua primeira aparição na novela Fuzuê. da Globo

Nero (Edson Celulari) canta e dança em sua primeira aparição na novela Fuzuê. da Globo

ODARA GALLO

odara@noticiasdatv.com

Publicado em 21/8/2023 - 6h40

Mistério, vilã rica, mocinha pobre, bordões, humor pastelão, romance: Fuzuê pegou os ingredientes que não podem faltar na despensa dos noveleiros e misturou tudo numa grande salada. A primeira semana da trama de Gustavo Reiz entregou um pouco de cada elemento típico da faixa das 19h --até barraco com troca de tapas entre as protagonistas. O público, que ficou meses digerindo temas densos como estupro e racismo em Vai na Fé, agora pode descansar a mente com uma história leve e que não pesa no estômago.

O autor da nova novela das sete teve uma dose extra de pressão em sua estreia na Globo. Afinal, não é fácil herdar o horário de uma trama que arrancou elogios de público e crítica. Apesar de fugir da maioria dos clichês novelísticos, Vai na Fé agradou pelo carisma dos personagens, pela abordagem delicada de temas sensíveis e pela representatividade inédita --mais da metade do elenco era composto por pessoas pretas.

Fuzuê, no entanto, chegou dando um choque na faixa das sete. As primeiras cenas apresentaram o mistério das joias escondidas, depois o público conheceu a vilã Preciosa (Marina Ruy Barbosa) e sua ambição inabalável, para em seguida uma explosão de cores e sons invadir a tela com a festa de aniversário da loja que leva o nome da novela.

Araras gigantes se mexiam enlouquecidas enquanto a filha do dono, Alícia (Fernanda Rodrigues), anunciava o evento vestida de Carmen Miranda (1909-1955). Nero (Edson Celulari) ainda dançou para os clientes do comércio, dando um aperitivo da energia caótica que acompanhará o público pelos próximos meses.

A mistura se mostrou certeira diante das expectativas. No Twitter --ambiente em que os usuários despejam frustrações sem filtro--, os comentários foram em sua maioria positivos, algo promissor para a necessidade urgente das emissoras de entrar no radar da geração que não assiste mais à TV aberta.

Confira a receita da saborosa salada de clichês servida por Fuzuê:

Maniqueísmo a gosto

Esqueça aquela história de que todo mundo tem o bem e o mal dentro de si. Fuzuê carregou nas tintas e separou mocinhos de vilões. Marina Ruy Barbosa agarrou com unhas impecavelmente feitas o papel de Preciosa para entregar ao público uma ricaça em decadência capaz de pisar com salto fino na cabeça de qualquer um que passar pelo seu caminho.

Tanto a ruiva quanto Felipe Simas --no papel do deputado Heitor-- tentam encontrar o tom perfeito de seus personagens. Algumas falas e bordões ainda soam canastrões, mas a primeira semana já mostrou que a mulher obcecada por dinheiro e poder com o marido medroso e corrupto dá liga de sobra.

Uma colher de frases-chiclete

Os bordões já se mostraram uma marca no texto de Gustavo Reiz. Luna (Giovana Cordeiro) não passou um capítulo sem chamar alguém de "garoto", Nero lançou "popará" em boa parte de suas aparições, e a vilã já deixou claro algumas vezes que ela é "Preciosa, poderosa e perigosa".

Se dramaturgicamente as frases repetidas pouco acrescentam, elas podem ter um efeito certeiro para grudarem na cabeça do público e se espalharem rapidamente. Usado com parcimônia, o artifício é poderoso para fazer a história se tornar popular.

Polvilhe referências

Outro recurso que apareceu bastante na primeira semana foram referências que fizeram fãs de novela se identificarem. Heitor chama sua Preciosa de "my precious", frase que foi repetida algumas vezes por Bebel (Lilia Cabral) em tom de estranheza, como se já tivesse ouvido em algum lugar.

Os mais atentos logo associaram a brincadeira a um encontro dramatúrgico anterior da atriz veterana com Marina Ruy Barbosa. Em Império (2014), Maria Marta (Lilia) teve que aturar Maria Ísis (Marina) como amante de seu marido, José Alfredo (Alexandre Nero), que também a chamava de "my precious".

Em outra cena, o personagem de Felipe Simas fez mais uma citação que é hit da cultura pop ao dizer que "barras de ouro valem mais do que dinheiro", frase dita à exaustão por Silvio Santos há décadas nos programas de auditório.

Punhados de mistério e confusão

Fuzuê entregou logo no início dois elementos capazes de prender os olhos do espectador na tela: barraco e mistério. Não foi preciso esperar nem a primeira semana passar para ver a mocinha e a vilã saírem no tapa.

Para se ter ideia, em Celebridade (2003), sucesso de Gilberto Braga (1945-2021), por exemplo, o espectador só lavou a alma no capítulo 169, na famigerada surra que Maria Clara (Malu Mader) deu em Laura (Cláudia Abreu) no banheiro. Já Gustavo Reiz escreveu o segundo encontro de Luna e Preciosa com gritaria e confusão e fez o público vibrar, o que mostra o ritmo frenético proposto pela nova novela.

Uma dose generosa de mistério também já foi entregue. Além do tesouro escondido na loja de departamentos de Nero, outros segredos do passado rondam os protagonistas: onde está Maria Navalha (Olivia Araujo)? Qual a relação dela com o pai de Preciosa? E ele, morreu mesmo? Se forem bem aproveitados, esses enredos já são suficientes para prender os curiosos até a reta final, em 2024.

Pitada de sorte

Um bom presságio para o autor estreante na Globo foi o timing acidental que alguns trechos do roteiro apresentaram. Na semana em que explodiu no noticiário o depoimento de Walter Delgatti Neto --que afirma ter tentado invadir urnas eletrônicas a mando da deputada Carla Zambelli e do ex-presidente Jair Bolsonaro--, o político da história de Gustavo Reiz contratou justamente um hacker para minar a reputação de Nero. A conexão com assuntos quentes estreita os laços com o público e dá aquela cara de sátira, com pitada de humor ácido (ainda que involuntário).

Outra coincidência foi a homenagem a Aracy Balabanian (1940-2023) em uma fala de Preciosa. Oito dias após a morte da diva da dramaturgia, foi ao ar a cena em que a vilã pede para o filho destruir os castelos de um joguinho e colocar tudo "na chón", frase da icônica personagem Dona Armênia, de Rainha da Sucata (1990).


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