Viva a Diferença
Reinaldo Marques/TV Globo
As cinco protagonistas de Malhação durante evento de lançamento da nova temporada
FERNANDA LOPES
Publicado em 9/5/2017 - 6h08
Estreantes na Globo, as cinco protagonistas da nova temporada de Malhação, no ar desde segunda-feira (8), cresceram longe da fama e acompanharam o programa durante suas próprias adolescências. Elas se inspiravam nas atrizes da trama e se identificavam com os dramas retratados na novela.
Prestes a se tornarem ídolos para os telespectadores adolescentes, Gabriela Medvedovski, Heslaine Vieira, Manoela Aliperti, Daphne Bozaski e Ana Hikari confessam que também tiveram que passar por fases "esquisitas" e situações de preconceito até chegarem a esse ponto de virada em suas vidas.
"Eu sempre fui a menina que fazia teatro. Eu era esquisita. Sentava no fundão, sempre tentei lidar muito bem com toda a classe. Era amiga dos nerds, mas também tive dificuldade [nas matérias], era amiga da galera que gostava de bagunçar. Acho que sempre fui a diferente do colégio. Quando eu cresci, [percebi que] às vezes você precisa bancar sua opinião, mesmo que alguém te zoe por isso", conta Daphne, de 24 anos.
A atriz também está no ar na TV paga, na série Manual Para se Defender de Aliens, Ninjas e Zumbis, da Warner. Ela já havia trabalhado com o criador de Malhação - Viva a Diferença, Cao Hamburger, na série Que Monstro te Mordeu? (2014), da Cultura.
Heslaine Vieira, de 21 anos, também é veterana de trabalhos com Cao Hamburger: ela atuou em Pedro & Bianca (2012), série da Cultura vencedora de um Emmy Kids e um ComKids Prix Jeunesse IberoAmericano.
O fato de trabalhar desde a adolescência rendeu à atriz uma certa popularidade no colégio, mas ela revela que também era conhecida como a nerd da sala. "Sempre fui muito estudiosa. Tinha meu grupo de amigas, era comunicativa, mas sempre tirei muitas notas altas, graças a Deus", lembra.
Em Malhação, tanto Benê quanto Ellen (personagens de Daphne e Heslaine, respectivamente) não terão grandes problemas com os estudos. O mesmo não pode ser dito sobre os relacionamentos das garotas no colégio que frequentam.
A introvertida Benê não tem amigos e sofre muito bullying por ser considerada estranha. Já Ellen é obcecada pelo universo hacker e procura estudar mais sobre programação, mas sente que sua capacidade de se destacar na área é subestimada simplesmente pelo fato de ser mulher.
As duas atrizes estão estudando para tratarem da maneira mais correta e adequada as questões que envolvem suas personagens: Daphne conversou com uma psicóloga para entender melhor a dificuldade social de Benê, enquanto Heslaine tem aulas de tecnologia da informação para usar os termos corretos nas falas de Ellen.
ramón Vasconcellos/TV Globo
Romance de Anderson (Juan Paiva) e Tina (Ana Hikari) será alvo de preconceito em Malhação
Preconceito e superação
Gabriela Medvedovski, 24 anos, também quer passar uma mensagem com sua personagem, principalmente para as jovens que enfrentam um drama como o dela. A atriz interpreta Keyla, uma garota que dá à luz seu primeiro filho aos 17 anos.
Para sentir na pele o julgamento que uma adolescente grávida sofre, Gabriela usou a barriga postiça da novela fora das gravações. E percebeu que o preconceito existe e não é nada disfarçado.
"Acho que com certeza rola um julgamento [com adolescentes que engravidam]. Teve um dia em que eu fui ao shopping e os olhares foram os mais diversos possíveis. Tive muitos olhares de reprovação. As pessoas devem ficar pensando 'Meu Deus, o que essa menina foi fazer da vida dela?'. Mas acho que esse é um dos meus papéis também, mostrar que a vida [das garotas] não acaba [com uma gravidez]", conta.
Sua colega de cena, Ana Hikari, não precisou de apetrechos específicos ou referências externas para se familiarizar com o drama de sua personagem. A atriz interpreta Tina, uma descendente de japoneses que se envolve com Anderson (Juan Paiva), um garoto negro. Tina sofrerá com o autoritarismo e o preconceito de sua mãe, que será contra o relacionamento interracial.
Ana é filha de mãe descendente de orientais e de pai negro e conta que já viu a própria comunidade japonesa tratar seu pai com inferioridade.
"A gente já viu situações assim [de preconceito] acontecerem na realidade. Meu pai sabe falar e escrever em japonês muito bem, é uma coisa que as pessoas não imaginam. Mas o que acontecia muito era de meus pais irem a uma loja na Liberdade, ele chegar falando japonês e as pessoas o ignorarem e falarem em japonês com a minha mãe, que não fala tão bem. Ela respondia em português e as pessoas continuavam a responder só para ela. É complicado", relata.
A atriz de 22 anos também foi a "garota alternativa do teatro" na escola e sempre teve o apoio da família para estudar artes cênicas (curso no qual se formou na USP). Ela se orgulha de ter conquistado um papel de protagonista em Malhação.
"A representatividade na televisão é um assunto que me interessa, me diz respeito. Gostava muito de ver a Daniele Suzuki em Malhação [2003-2005], porque eu assistia e pensava: 'Nossa, tem alguém igual a mim na TV', achava isso muito bonito. Então para mim esse papel está sendo uma responsabilidade muito grande, de ser uma das primeiras protagonistas brasileiras de ascendência asiática na TV aberta".
ramón Vasconcellos/TV Globo
A atriz Manoela Aliperti interpreta Lica, garota rica com problemas na família em Malhação
Malhação empoderada
Entre as protagonistas, Manoela Aliperti é a única que não usou referências pessoais para construir sua personagem. Lica é uma menina de classe alta que se vê no meio da briga dos pais, separados após a revelação de uma grande traição _a garota descobrirá que sua prima é, na verdade, sua irmã.
Para representar melhor a revolta de sua personagem, a atriz de 21 anos buscou referências em "mulheres que demonstram força em situações adversas".
Com cinco garotas no centro da trama, em vez de um casal, Viva a Diferença é considerada a temporada mais feminista dos 22 anos de Malhação. O discurso de valorização e empoderamento das mulheres já está na ponta da língua de suas protagonistas.
"A gente está tendo uma oportunidade incrível de poder falar sobre isso, e o feminismo é um assunto que está cada vez mais na boca do povo. As pessoas estão se dando conta de que está vindo para ficar", afirma Gabriela Medvedovski.
"Esse trabalho tem muito a dizer, nós mulheres temos muito a dizer, acho que as pessoas vão se identificar muito. É mais do que necessário falar de empoderamento feminino hoje", diz Manoela Aliperti.
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