Diabos loiros: Por que as melhores vilãs de 2024 foram as das novelas das seis

Em 2024, os telespectadores que desejassem ver boas vilãs, tanto do tipo antagonista raiz quanto anti-heroína moderna, tinham uma faixa de novelas certa: a das 18h. As vilãs de No Rancho Fundo e Garota do Momento evidenciaram papéis e tramas bem construídos, com atuações primorosas de suas intérpretes. Blandina (Luisa Arraes) e Zélia (Leticia Colin) são verdadeiros diabos loiros em suas respectivas histórias.

As vilãs das tramas das 18h de 2024 têm uma combinação de fatores que as tornaram fascinantes de acompanhar. Elas juntam elementos que compõem a fórmula ideal de antagonistas de novelas: boas histórias, motivações convincentes para vinganças ou armações, segredos do passado, reviravoltas, maldades cruéis, falsidade, esperteza, entre outros pontos --que, muitas vezes, faltam às mocinhas.

No caso de Blandina, ela foi mais uma anti-heroína do que uma vilã clássica, como explicou o autor de No Rancho Fundo, Mario Teixeira. "Ela começa a novela sendo espezinhada pela patroa e assediada por um cliente. Para ela, seus atos justificam o fim, que pode ser qualquer coisa, desde que ela saia ganhando. É uma menina realista e maliciosa, alguém que passou da infância à idade adulta sem o tempo necessário da inocência. E é uma feminista à sua maneira. Sempre se fala de mulheres que têm um passado e de homens que têm um futuro. Ela quer subverter essa máxima", disse ele ao Notícias da TV.

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A personagem queria conquistar muito dinheiro e poder, mas não só por ambição desmedida. Ela desejava dar uma vida boa à mãe e se recompensar por todo o sofrimento que já havia passado.

Luisa Arraes desempenhou muito bem um papel que demandava várias atuações de uma só vez. A atriz tinha que interpretar Blandina em cenas nas quais a própria Blandina estava atuando, se fazendo de santa ou de desentendida. No final, a vilã teve até um milagre: sobreviveu após cair de um penhasco e foi ganhar a vida no Rio, dando golpe em homens na Lapa.

Já em Garota do Momento, há uma dinâmica interessante de vilã contra vilã. Maristela (Lilia Cabral) é a malvada-mor, a mente do crime, quem comanda todas as ações para que sua família e sua empresa se deem bem e tira quem for preciso, como for preciso, de seu caminho. É impiedosa, inescrupulosa e inteligente, mas também tem momentos em que deixa a emoção tomar conta.

As nuances inesperadas de Maristela aparecem quando ela fala da filha que morreu ou quando deixa o desejo tomar conta e transa com Basílio (Cauê Campos), por exemplo.

Apesar de ser tudo isso, Maristela não enxerga o potencial de ter uma inimiga bem ao seu lado. Zélia finge ser aliada da megera, mas age na surdina para detonar a família Alencar.

Especialista em fingimento e discrição, ela fará uma investigação para descobrir os podres de Maristela e Juliano (Fabio Assunção) até atingir seu verdadeiro objetivo: se vingar da família Alencar, tirar tudo deles e reaver o que era seu e lhe foi tomado no passado. Os detalhes desta história devem aparecer nos próximos capítulos da novela.

Vilãs que deixaram a desejar

Em parte, as vilãs das novelas das seis despontam como as melhores da teledramaturgia neste ano também porque as antagonistas de outras faixas horárias não entregaram tramas, atuações ou camadas tão interessantes.

Em Renascer, havia a ambiguidade de Mariana (Theresa Fonseca), mas a confusão era tamanha que o telespectador e até a própria personagem tinham dificuldade de entender para qual caminho ela iria.

Havia também Eliana (Sophie Charlotte), que não era exatamente uma vilã típica, mas uma mulher que pensava em seu próprio bem acima de tudo. Desta forma, ela teve atitudes também boas e ruins ao longo da trama e terminou em paz com seus antigos inimigos.

Em Família É Tudo, a escalação da atriz que interpretou a vilã Jéssica comprometeu a personagem. Rafa Kalimann, ainda inexperiente em novelas, não deu toda a profundidade e a qualidade que suas cenas exigiam.

Houve ainda a vilã Brenda, muito competentemente interpretada por Alexandra Richter, mas que só se revelou em sua completa vilania doentia na reta final. O público não pôde acompanhar, portanto, todo o potencial destrutivo da vilã, que agia mais às escondidas.

Por fim, em Mania de Você, o mote da novela ser "o jogo vira o tempo todo" dificulta para o telespectador entender claramente quem é mocinho e quem é vilão. Luma (Agatha Moreira) por vezes foi coitada, por vezes malvada. Adriana Esteves sem dúvida se destaca como Mércia, mas o fato de agir contra o filho Mavi (Chay Suede) gera muitas cenas mais engraçadas do que de maldade.

Assim, as vilãs bem desenhadas e bem interpretadas das novelas das seis se concretizaram como as melhores do ano, em cenas e tramas que deram (e, no caso de Garota do Momento, continuam dando) gosto de ver.