Autor viveu inferno com Benedito Ruy Barbosa: 'Não deveria ter feito isso comigo'

Há 37 anos, o último capítulo de De Quina pra Lua (1985) era exibido na faixa das seis da Globo. A novela foi escrita por Alcides Nogueira a partir de um argumento de Benedito Ruy Barbosa, mas o idealizador da trama se incomodou com as alterações e passou a atormentar o colega com ligações diárias. "Ele estava atravessando uma péssima fase e não deveria ter feito isso comigo", afirmou Nogueira.

Logo no lançamento do folhetim, o escritor deixou claro que estava assumindo a história do autor de Cabocla (1979) e enfatizou que havia pedido permissão para mudar alguns detalhes.

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"Por compromissos com o teatro, ele não pôde assumir De Quina Pra Lua e, com liberdade para modificações, me ofereceram a história, que estou escrevendo. Alterei a sinopse, de comum acordo com o Benedito, mas a ideia central é dele. Criei núcleos, personagens e escrevo os capítulos sozinho. Se surgir algum problema, volto a recorrer a ele, que é o pai da história e tem uma grande experiência em novela."

Mas o ibope abaixo do esperado e a trama fraca provocaram novas mudanças, e Walther Negrão foi chamado para ajudar Nogueira. "O estresse provocado pelo Benedito, que tendo entregado a sinopse a mim, continuava me telefonando todo dia, para reclamar disso e daquilo. Quando cheguei ao capítulo 60, não tive dúvida: fui para o Rio, procurei o Dias Gomes [1922-1999] e disse que estava entregando a novela. Houve uma reunião difícil, complicada", relembrou o autor em entrevista ao blog Eu Prefiro Melão.

Aí, o grande amigo Walther Negrão entrou na jogada. Não para escrever, mas para ficar comigo, com toda a sua experiência. E o Benedito parou de me perturbar. Tenho enorme respeito pelo Benê, mas ele estava atravessando uma péssima fase e não deveria ter feito isso comigo. Acho que ele nem se lembra mais dessa história, e é bom.

Alcides Nogueira também fez um balanço da estreia como autor principal: "É uma novela fraca. Foi minha primeira experiência como titular, mas não gosto do resultado. Provavelmente ele [Benedito Ruy Barbosa] teria conduzido a trama de maneira diferente da minha, já que nossos universos são bem distintos".

"Hoje vejo que eu ainda não estava pronto para assumir uma novela, ainda mais partindo de uma história de outro autor. Mas, mesmo não tendo sido boa, a novela valeu como experiência e pela equipe generosa que estava comigo", declarou a José Vitor Rack.

De Quina pra Lua girava em torno de José João Batista (Milton Moraes), um homem aposentado que havia trabalhado na mesma empresa durante 30 anos. Ele acerta a quina de um jogo na loteria, mas morre atropelado antes de receber o prêmio. O bilhete premiado acaba enterrado com ele, escondido no bolso do paletó.

A família de Zezão procura pelo cartão desesperadamente, até que Angelina (Eva Wilma) tem uma visão em que o marido revela ter sido enterrado com o bilhete. Ela opta por desenterrar o defunto, mas sofre um baque ao ver que o papel premiado não está mais nas roupas do cadáver. Começa, então, uma busca pelo cartão roubado.

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