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AGUINALDO SILVA

Autor teve crise com novela traumática na Globo: 'Pensei em não escrever mais'

RENATO ROCHA MIRANDA/TV GLOBO

Aguinaldo Silva está com cabelos brancos e expressão séria em foto na coletiva de Fina Estampa (2011)

Aguinaldo Silva em coletiva de Fina Estampa (2011); autor entrou em crise com outra novela

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 5/2/2023 - 8h30

Há exatos 22 anos, a novela Porto dos Milagres (2001) estreava na faixa das oito da Globo. O folhetim protagonizado por Marcos Palmeira sofreu várias críticas por ser uma repetição de tramas anteriores de Aguinaldo Silva, que acabou entrando em crise.

"Foi uma novela bastante traumática para mim. Sabe essa coisa de diretor que não sabe fazer? Pois é. Depois de Porto pensei até em não escrever mais novelas. Virei para a Globo e disse: 'Estou de saco cheio, não quero mais'", revelou o dramaturgo no livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.

O folhetim foi dirigido por Marcos Paulo (1951-2012) e Roberto Naar. Aguinaldo Silva realmente passou um tempo longe das tramas regionalistas e focou em narrativas urbanas nos anos seguintes. Ele só retomou o realismo fantástico após 17 anos, com a problemática O Sétimo Guardião (2018).

O autor ainda admitiu seu descontentamento com a própria história: "Eu estava realmente em crise. Eu achei que Porto dos Milagres era uma repetição de todas as novelas que eu já tinha feito".

"Eu queria adaptar Mar Morto [de Jorge Amado] havia muito tempo. Li o livro quando era adolescente, tinha uma ideia de como era aquela história de amor desenfreado. Quando o reli, percebi que ele tinha uma linguagem poética meio datada e que sua história não daria uma novela. Então tive que fazer uma adaptação muito livre", explicou o novelista no livro Autores, Histórias da Teledramaturgia.

"A trama política prevaleceu sobre a romântica. Confesso que não tinha muita paciência com a trama romântica. Achava que aquela relação do pescador com a moça de classe média era uma história dos anos 1930, 1940. Hoje o romantismo não caminha mais por aí", disparou Silva.

Coautor do folhetim, Ricardo Linhares também deu depoimento sobre a trama no livro do projeto Memória Globo: "Começamos a sentir que as pessoas já não queriam mais viajar naquela fuga da realidade que oferecíamos com o realismo mágico, com a exacerbação do real. Elas estavam começando a estranhar coisas que não estranhavam antes. Tudo tem um ciclo, e o do realismo fantástico estava acabando ali".

Porto dos Milagres foi duramente criticada por movimentos negros pelo número reduzido de atores pretos no elenco, o que não condizia com uma trama ambientada na Bahia. Além disso, a novela também desagradou católicos e evangélicos por mostrar o candomblé e pelo culto a Iemanjá. Os autores tiveram que diminuir a presença das religiões na história.


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