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JADE SASSARÁ

Atriz reflete sobre final de Aleluia em Mar do Sertão: 'Pessoas trans tendo amores'

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Jade Sassará com os cabelos ondulados soltos e um sorrisinho em cena da novela Mar do Sertão

Jade Sassará em cena como Aleluia em Mar do Sertão; atriz faz reflexão sobre representatividade

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 11/3/2023 - 6h40

Intérprete de Aleluia em Mar do Sertão, Jade Sassará revela que enfrentou algumas dificuldades por ser a única pessoa trans no elenco e também por ter chegado à novela um pouco mais tarde. Mas isso não a impediu de se destacar em meio ao núcleo cômico da trama, surpreendendo até mesmo veteranos. Em entrevista ao Notícias da TV, a atriz ainda reflete sobre um possível final feliz para a secretária da prefeitura no folhetim da Globo.

"Se Aleluia terá algum amor previsto... Isso me gera esse questionamento: Será que a gente consegue caminhar para um momento em que teremos pessoas trans tendo finais felizes e amores em novelas? Será que a gente já está nesse lugar? Será que a gente conseguiu construir um espaço para narrativas em que uma personagem como Aleluia tenha um final feliz, um amor previsto?", provoca a artista.

"Eu tenho até vontade de devolver esses questionamentos para o público. Tenho muito desejo de ver finais felizes e amores, afetos, lugares de prosperidade para narrativas e personagens de pessoas trans. Mas sinto que a gente tem muito a caminhar ainda para conseguir vivenciar isso", completa ela.

Apesar disso, Jade adianta que emoção não vai faltar na última semana da novela: "O público pode esperar chorar e rir muito. A novela toda, são muitas risadas e choros que despertam na gente, mas para esse final especificamente isso vai se intensificar ainda mais".

Núcleo de humor

Secretária da prefeitura de Canta Pedra, Aleluia contracena bastante com Jessilaine (Giovanna Figueiredo), Saba Bodó (Welder Rodrigues), Nivalda (Titina Medeiros), Vespertino (Thardelly Lima) e Floro (Leandro Daniel) --uma oportunidade de Jade experimentar com intensidade o humor.

Foi uma alegria, uma delícia, muitas risadas. Uma maneira muito interessante para mim de construção cênica e de construção de personagem. Foi um desafio, que me enriqueceu muito, estar no núcleo cômico. Tantas pessoas que eu contracenava, e é tão gostoso perceber diferentes perspectivas e abordagens que cada pessoa consegue fazer com seu humor, com o que é comédia para cada pessoa. Isso tudo foi muito gostoso.

A atriz ainda revela um dos vários momentos divertidos nos bastidores. "Meu momento favorito foi uma cena bem rapidinha. O coronel [José de Abreu] perdia o celular, quem tinha roubado na verdade era o personagem do Welder. E o Sabá Bodó esconde o celular na bunda. E tem esse momento que o celular passa na mão da Nivalda, da Jessilaine e depois vem para minha mão".

"Eu desenvolvi para essa cena um arrotinho. Sabe arroto de nojo quando sente um cheiro ruim? Que você vai vomitar e faz aquele arrotinho. Aí eu sentia o cheiro do celular e dava esse arrotinho pré-vômito. O Welder achou isso muito engraçado", conta ela.

"E o Welder é normalmente a pessoa que no set domina, nos melhores sentidos da palavra. Ele ganha muito espaço cômico, ele rege muito bem o set. Rarissimamente, pelo que ele falou, ele é quebrado nesse lugar cômico de não conseguir se concentrar porque tá rindo de alguma coisa. Nesse dia, eu fiquei muito feliz. Ele conta essa história toda hora, de que eu quebrei ele em cena. Ele ficou horas rindo disso. Nosso núcleo gravava cena em muitos poucos takes, e esse foi um dia que a gente teve que fazer algumas vezes."

Dificuldades

Em sua primeira novela, Jade teve de lidar com a correria das gravações e a alta demanda de trabalho, além de aprender o sotaque nordestino sendo carioca.

"Muitas dificuldades rolaram ao longo do caminho. O sotaque com certeza é uma delas. Além de eu não ser uma pessoa nordestina, eu cheguei na novela depois que o elenco já se conhecia e tinha passado por todo o processo de preparação. Eu tive que me virar muito sozinha para construir Aleluia. Esse lugar solitário da construção... Até começar a me enturma com o elenco e criar intimidade para trabalhar com aquelas pessoas houve dificuldades."

Mas a maior dificuldade mesmo é sempre a estrutural, de ser a única pessoa trans no elenco. Que infelizmente ainda acontece muito. E essa dificuldade de lidar com estruturas que, por ignorância, por falta de conhecimento, acabam sendo muito violentas com corpos como o meu. Essa é a parte mais difícil do trabalho.

Representatividade

A artista ressalta o papel da representatividade em trabalhos na televisão: "E não só em relação à pessoa trans, mas a importância de termos corpos dissidentes, corpos não normativos habitando essas narrativas, esses lugares de destaque. Isso é fundamental. Até para que a gente consiga aprofundar essas questões de uma forma mais ampla mesmo".

"Referência para mim é uma faca de dois gumes. Ela é extremamente importante para conseguir imaginar possibilidades, tem essa potência de materialização, de imaginário, de realidade. Mas, por um outro lado, principalmente nesse mercado que a gente vive, a pessoa trans acaba sempre ficando refém da diversidade", problematiza ela.

Existe uma questão muito séria sobre a falta de espaço para uma gama de diversidade de pessoas e que não dá conta de contemplar, porque as experiências são muito individuais. Apesar da objetividade estrutural, existe toda uma subjetividade de cada pessoa, que atravessa principalmente quando a pessoa passa por violências estruturais, seja elas quais forem.

"Isso complexifica muito a gente tratar das questões. Referência também pode ser uma armadilha nesse sentido de como se eu fosse representar essa questão muito delicada. Eu não tenho como dar conta de representar todo um grupo que vive questões sempre muito únicas", explica Jade.

A atriz relata que na infância já percebeu que muitas expressões de gênero não cabiam na normatividade e precisou buscar referências na vida pessoal quando fez a transição e foi morar em São Paulo.

"As minhas referências desde criança eram sempre em lugares de violência, de miséria, de falta de afeto, de demonização. Essas pessoas foram aparecendo na minha vida nos meus 20 e poucos anos e foram referências pessoais. Eu não tive referências em novelas, séries, que me contemplassem, que me permitissem imaginar a Jade do jeito que ela é agora."

Recentemente, a atriz virou notícia ao denunciar no Instagram um caso de transfobia. "Preconceito a gente vive sempre, porque vem muito da ignorância mesmo, da falta de conhecimento, de abertura de inteligência das pessoas para se abrir para outras percepções que não essas que a gente foi entalados desde cedo. [Enfrentei] Preconceito por todos os lados, da família, amigos, em campos profissionais... Isso continua acontecendo, infelizmente".

Mas hoje em dia eu consigo dar um lugar diferente para raiva que eu sentia disso tudo e também abrir mais espaço para tratar dessa ignorância alheia de uma forma mais afetiva e mais acolhedora, pelo menos é isso que eu tento na minha vida.

Novo trabalho

Depois de terminar de gravar Mar do Sertão, Jade já engatou um novo projeto audiovisual. "É a primeira vez que eu tô fazendo cinema nacional. E tudo muito intenso. Eu gravei o último dia da novela em 25 [de fevereiro], e no dia 26 eu já estava começando o primeiro dia de ensaios desse filme", conta ela, animada.

Jade interpretará uma mulher chamada Laila em Ruas da Glória, próximo filme do diretor Felipe Sholl. "Uma coisa entrou na outra, o que é maravilhoso, porque eu quero trabalhar muito esse ano. Produtores de elenco, beijo, me liga", brinca a artista.


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