Aos 83 anos, Betty Faria surpreende ao revelar motivo para fazer Volta por Cima

Após uma pausa de cinco anos, Betty Faria retorna às novelas em Volta por Cima, trama que substituirá Família É Tudo a partir da próxima segunda (30). Na pele de Belisa, a veterana abordará o preconceito que ricos têm de pobres. Ela conta que aceitou o convite feito pelo diretor artístico André Câmara assim que ele lhe expôs a história que será contada pela autora Claudia Souto. 

"Eu vi a importância que essa novela tem nesse momento, porque, com a extrema direita neofascista entrando no mundo da maneira que está entrando, a TV Globo colocar uma novela com protagonistas jovens pretos é uma coisa importante, inovadora. E eu me senti muito bem de abraçar esse projeto. É uma proposta revolucionária. O neofascismo é contra pretos, judeus, velhos, contra tudo que não serve para o objetivo deles", discursa Betty.

Ela afirma que é necessário virar esse jogo e que o pensamento artístico precisa de textos como o da novela, com personagens que busquem igualdade de direitos e mundo melhor, para promover reflexões no público.

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"Eu acredito que toda atriz e todo ator têm sempre que estar acentuado politicamente, dar um pouco do seu ego, que nós temos o ego... A gente tem que cuidar disso para situar a obra politicamente, [retratar] o mundo como está agora", declara a intérprete de 83 anos.

Sua personagem em Volta por Cima, Belisa, é uma rica falida que é obrigada a lidar com o preconceito que teve uma vida inteira com a derrocada da família. Para a atriz, as pessoas ricas têm preconceito porque culturalmente foram criadas dessa maneira, achando-se melhor do que os outros e vendo o privilégio que tiveram de uma forma errada. 

Herdeiros falidos e antipáticos

Belisa é a irmã mais velha da família Góis de Macedo. Ela e os dois irmãos, Joyce (Drica Moraes) e Gigi (Rodrigo Fagundes), vivem em uma mansão e mantêm a pose dos tempos em que eram milionários, mas estão cheios de dívidas.

"O Gigi bota para fora o preconceito que ele tem de casta na maneira que ele trata o mordomo Sebastian [Fabio Lago], que é um escravo dessa família. Ele é escravo porque o Brasil vem com a escravatura, parou com a escravatura recentemente, mas não dentro do coração das classes mais altas. Então, eu acho que é importante falar disso", defende a veterana.

Os herdeiros falidos são antipáticos. "É uma coisa cultural, é de classe, é monetária. Só que agora, sem dinheiro, eles perdem o chão e todas as referências, porque, quando vão chegar numa festa, vão com o carro do mordomo e têm que saltar na esquina para ninguém ver", adianta Betty.

Ela explica que os personagens estão mudando de classe social; afinal, ficaram pobres, mas foram nascidos, crescidos e educados em um outro nível. "Então, passa a ser muito engraçada a maneira que vai ser exposto tudo isso. Eu espero que o público se delicie com essa família", completa Betty.

A autora Claudia Souto vai discutir as diferenças sociais na novela e como a família Góis de Macedo vai se ajustar aos "novos tempos".

"Eles vão ter que rever os seus conceitos. Eles viam o mundo de dentro de uma redoma e agora estão saindo para a vida. Eu acho que é muito o Brasil que a gente está vivendo. As classes abastadas têm que fazer uma reflexão sobre a realidade", aponta a novelista.