Acusada de racismo, Aventuras de Poliana homenageará personalidades negras

As Aventuras de Poliana homenageará personalidades negras da história e reforçará sua abordagem sobre racismo, em cenas ainda sem previsão de irem ao ar. Essa é uma estratégia do SBT para tentar reparar os erros cometidos em maio do ano passado, quando exibiu uma cena entre Kessya (Duda Pimenta) e Helô (Eliana de Souza) que gerou repercussão negativa.

Na sequência apontada pelo público como racista, a personagem Kessya se defendia de uma acusação de vandalismo e ficava indignada depois de a coordenadora de ensino não acreditar em sua justificativa, alegando que isso só acontecia por ela ser negra.

Foi então que Helô disse que o racismo vinha da cabeça dos próprios negros. "Para que os outros parem de ver a nós negros como diferentes, nós precisamos parar de nos ver como diferentes", soltou ela, em uma fala muito criticada.

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Maria Gal, intérprete de Gleyce, mãe de Kessya e matriarca da família Soares, contou ao Notícias da TV que o intuito das novas cenas que vão valorizar as figuras históricas negras é estimular o público a conhecer melhor esses personagens.

A atriz não quis comentar a cena polêmica, mas apontou que a novela tem um papel importante na sociedade. "Qualquer produto de audiovisual tem a obrigação de informar. E Poliana vem cumprindo este papel", disse ela, que também ressaltou temas abordados com outros personagens, como o bullying.

"É uma forma de o SBT reconhecer o quanto o racismo existe no Brasil", afirmou ela, que posicionou Gleyce como uma personagem que luta para criar bem seus filhos diante de todas as dificuldades que uma família negra enfrenta.

reprodução/sbt

Maria Gal em cena como a personagem Gleyce da novelinha As Aventuras de Poliana, do SBT

Maria Gal também defendeu que o tema tem sido muito bem pontuado na história de Iris Abravanel. "O intuito também é melhorar a discussão", disse a baiana, que paralelamente à carreira na televisão também é fundadora da Maria Produtora, empresa que visa promover o protagonismo negro no Brasil.

A atriz ressaltou ainda que Gleyce mostra explicitamente o racismo que existe no país e serve de alerta ao público que consome a novela. "Boa parte é negra, e é um público que precisa e quer se identificar cada vez mais", explicou.

Maria Gal contou que também sente na pele o racismo que outros atores negros vivem diariamente. "Infelizmente ainda é assim, não só no audiovisual como no teatro também. Muitas vezes eles colocam você em um perfil muito específico. Como se o ator negro não pudesse fazer qualquer personagem."

"Quando chegam as características dos personagens, estão sempre especificados. Quando é artista negro, vem 'ator negro' ou 'atriz negra'. Quando o ator é branco, é colocado somente o nome do personagem. Subentende-se que ele é branco, e isso realmente acaba limitando as possibilidades para atores negros."

O mercado fora da Globo

Outra novela que fala de racismo é Verão 90, por meio do personagem Diego (Sérgio Malheiros), que se apaixona por uma branca. Maria Gal acredita que, para o ator, é extremamente importante estar na Globo no sentido de empregabilidade.

"É o canal que mais produz no país. Mas o mercado fora dela tem crescido bastante, e isso é saudável. Estamos cansados de ver as mesmas histórias. Eu acredito na potência de um mercado fora da Globo", finalizou.

Além da novela, Maria Gal está envolvida com o longa Carolina, cinebiografia da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), na qual viverá a protagonista. Não será o primeiro papel de destaque dela no cinema: em 2017, ela ganhou o prêmio de melhor atriz no Madrid International Festival pelo filme A Carga de Aline Rezende.

Entre os principais trabalhos de Maria na TV, estão as séries Conselho Tutelar (2014) e Sob Pressão (2017), em que fez uma participação. Ela também atuou na novela Joia Rara (2013) e nos remakes de Carrossel (2012) e Gabriela (2012).