Adeus, Jornalismo
Ricardo Stuckert/Presidência da República
Luiz Inácio Lula da Silva e Edir Macedo na inauguração da Record News, em 2007
DANIEL CASTRO
Publicado em 9/9/2016 - 5h28
Inaugurada há nove anos com a missão de "democratizar a comunicação", como discursaram o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o bispo Edir Macedo, a Record News vai deixar de ser "news" e voltar ao que era antes de se tornar o primeiro canal de notícias da TV aberta: uma emissora de programação loteada focada no público feminino. O canal do grupo Record contratou uma agência de publicidade para produzir programas patrocinados e vender horários para eventuais interessados.
A agência, a Rai, já tem um programa na grade da Record News, o Elas Comandam, um feminino gravado no cenário de uma cozinha de showroom, onde, em tese, pode-se vender de tudo. Novos programas de culinária, saúde e empreendedorismo estão em gestação.
Se o plano der certo, a Record News voltará a ser parecida com a TV Mulher, como era antes de 2007, com a diferença do nome e de um telejornal ancorado por Heródoto Barbeiro. Os executivos da emissora até cogitaram mudar o nome para RN, porque não ficaria bem uma TV feminina com identidade de canal de notícias. Mas o bispo Edir Macedo vetou a alteração.
Juridicamente, a Record News está cada vez mais se desvinculando da TV Record e voltando a ser TV Mulher, empresa que detém a concessão cabeça-de-rede, em Araraquara, no interior de São Paulo. Contratações de funcionários já estão sendo feitas pela TV Mulher.
A nova orientação da Record News assustou os empresários que possuem emissoras regionais afiliadas ao canal e profissionais que ainda trabalham nos telejornais. Todos temem pelo futuro da TV _muitos lembram que a TV Mulher foi uma emissora que não deu certo.
A mudança atesta que a Record News também fracassou. Lançado em 27 de setembro de 2007, com a presença do então presidente da República e de Edir Macedo, o canal recebeu investimentos apenas nos primeiros anos. Ambiciosa, a ideia do líder da Igreja Universal era o "fim" do "monopólio" da informação exercido pela Globo e "dar às pessoas o direito de se informarem por um outro canal de notícia e formarem opinião por si mesmas".
Nos primeiros meses, além de telejornais e boletins durante todo o dia, a programação tinha talk shows e revistas culturais. Em 2011, numa tentativa de revitalizar a Record News, a Record contratou o jornalista Heródoto Barbeiro (ex-CBN e TV Cultura) e um time de comentaristas para um telejornal mais analítico. O projeto, no entanto, não vingou: a Record News não tinha equipes de reportagem, e todos os jornais que levava (e ainda leva) ao ar eram feitos com material da Record e de afiliadas.
Há três anos, a Record News recebeu outro golpe: perdeu o estúdio amplo em que produzia todos os seus telejornais, em uma newsroom, e mudou para uma instalação mais modesta. O futuro, ao que tudo indica, será ainda pior.
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